Me diga uma coisa. Você já trabalhou em processos desobsessão, sabe como eles acontecem. Um ser humanizado entra numa sala, um médium incorpora o obsessor e outro começa, então, uma doutrinação. Pergunto: com que moral esse ser humanizado faz isso?

O doutrinador comumente manda o espírito ir para a luz. Como pode fazer isso, se vive nas trevas, no sofrimento? Se fosse eu o espírito, mandava acender a luz da sala para ir atrás dela, pois a única luz que vocês conhecem é essa. A outra, não conhecem, porque estão preocupados em viver os sofrimentos mundanos.

Você não sabe o que é luz espiritual. Como, então, quer se colocar na posição de doutrinador de um espírito?

Participante: mas, isso é ato.

Sim, é ato. Só que preciso citar atos para que entendam o mundo interno. Esse ato é vivido internamente com uma convicção de que o doutrinador tem o poder de realizar a doutrinação, de que está salvando aquele espírito. Quando falo do ato, me refiro ao que está no mundo interno, me refiro a essas convicções.

Quem não tem esta convicção internamente não assume este trabalho. Você, com certeza não iria, porque não acredita que tem a capacidade para fazer isso.

Participante: novamente ato.

Sim, mas o seu ato é esse porque internamente não acredita que tem capacidade para isso. Ela, como acredita, faz. Mas, calma, porque vocês ainda não imaginam onde quero chegar com esse assunto.

A minha pergunta é a seguinte: quem é aquele espírito que incorporado que está ali sendo tratado? É um diabo, um exu, um ser diabólico?

Participante: é um sofredor, aquele que toma a pílula.

Isso, é um ser espiritual que não resolveu seus problemas espirituais durante a vida, que não fez a reforma, que ainda aceita a pílula do sofrimento.

Aí vem você, que também é um espírito que não resolveu seus problemas espirituais durante a vida, ao invés de prestar atenção na experiência dele para ajudar a resolver os seus problemas, se dá o direito de ser o maior, o melhor, o gostosão, aquele que sabe mostrar o caminho para ele ir. Pergunto: se sabe mostrar o caminho, porque você mesmo não o toma?

É essa consciência que é preciso ser alcançada. Como já disse diversas vezes, é preciso se desiludir com a natureza humana. Foi o que disse para essa pessoa quando me perguntou se deveria ficar apática com as coisas deste mundo.

Quem ainda se liga em alguma coisa deste mundo, é aquele que ficará revoltado com o seu desencarne, e por isso permanecerá ligado a esse mundo. É aquele que ficará revoltado porque está falando com seus filhos, que continuam encarnados, e não fazem o que ele quer que seja feito. Você é o ser que um dia irá aparecer em algum centro espírita para desobsessão.

Aí o doutrinador, que vive com esses mesmos apegos, ao invés de usar aquele momento para ver a necessidade do desapego, quer ser o orientador. Cego guiando cego.

Aquele que trabalha com doutrinação deveria colocar-se na posição de aprender, também, mas se coloca na posição de um ser superior que possui elevação moral suficiente para orientar os outros. Se sabe, porque não fez com ele mesmo? Porque não acabou com as mesmas posses, paixões e desejos que está querendo ajudar o outro a vencer?

Estou falando novidade? Claro que não. Muitos espíritos hoje têm incorporado nas reuniões de desobsessão e quando o ser humano assume a posição de doutrinador, de orientador, ele pergunta: ‘que moral você tem para me falar isso’?

Mais: hoje há muitos espíritos que incorporam nessas sessões que quando desincorporam, vão rindo. Isso porque não são os sofredores que aparentam ser. São espíritos que aceitam participar desse trabalho para ajudar vocês, os doutrinadores.

Participante: mas, insisto, tudo isso é ato. E aí, o que devemos fazer se o ato é comandado por Deus?

Aquele que vive a função de doutrinador não pode tomar a pílula e achar que ele é o ser evoluído capaz de resolver os problemas dos outros, que é o melhor, que sabe orientar os perdidos, que é moralmente e espiritualmente mais evoluído, que está praticando a caridade, que está ganhando evolução por fazer aquilo. Nada disso é ato.

Participante: então, é o que vem depois do ato?

Isso, o fruto da ação.

Participante: o que acho interessante neste processo é que você não vê a mesma coisa acontecendo com todas as pessoas. Como o senhor disse, existem pessoas que participam de sessões de desobsessão e possuem esse comportamento, mas outros não. Se observamos, as pessoas que chegaram a viver esse acontecimento da forma que o senhor mostrou vêm de outros processos semelhantes que as levaram a ser do jeito que são.

Isso. É o processo do carma, o desenrolar dele, sendo apresentado por histórias diferentes.

Tem mais. Porque algumas pessoas pensam assim e outras não? Porque é a prova de cada um. Portanto, não é melhor quem não pensa assim nem melhor quem vive desse jeito: cada um tem uma prova diferente. Digo isso porque em outro assunto quem não pensa assim na desobsessão pode se sentir superior e quem neste processo vive a superioridade pode não se sentir dessa forma.

Participante: aí vem a vida e coloca na minha frente a pessoa que pensa de um jeito diferente de mim e vai me atingir diretamente naquilo que eu não queria, não gosto, etc.

Tudo isso para lhe dar uma oportunidade de não aceitar a dor, o machucado que ela supostamente causa. Com o que ela faz, você tem a oportunidade de colocar em prática os ensinamentos.

Sabe qual é o problema? É que vocês são espectadores da peça ‘Divina comédia humana’, mas querem dar uma de diretor e dizer como a peça deveria acontecer.

Participante: queremos dirigir a peça …

Desculpe, eu me enganei. Vocês não querem dirigir a peça: querem ser o autor. Querem escrever o que deve ser encenado. Querem dizer o que deve acontecer.

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