A visão que passei agora é muito importante para analisarmos a terceira grande causa de sofrimento hoje. Isso só causa mal a alguns, outros não estão nem aí. Estou falando da crise financeira, do fim do sonho dourado do consumismo. O fim de conseguir comprar tudo que quer, de conseguir adquirir todos os bens que quer.

Essa crise financeira não existe só nesse país, mas também no mundo inteiro. Mesmo nos países mais ricos, existe uma crise financeira. Em todos os cantos hoje as pessoas têm mais dificuldades de conseguir alimentar o sonho de poder comprar o que quer, na hora que quer.

Quando falo dessa crise, não estou me referindo só a supérfluos. Eu estou falando de feijão com arroz, que muitas vezes está sendo difícil de comprar. Falo, também daquilo que vocês chamam de necessidades básicas.

Participante: como está na Venezuela?

A Venezuela? Só ela? Você consegue comprar o que quer para comer aqui? A vida está fácil? Dinheiro sobra? Mesmo nos Estados Unidos, que é o país mais rico, há dificuldades para as pessoas comprarem o que querem.

A vida não está fácil para ninguém.

Participante: até esses intocáveis serão tocados por essa crise?

Não, não serão. Estão sendo!

Vocês estão desesperados com o desemprego no Brasil, mas nesses intocáveis, é muito maior o desemprego. Ainda por cima lá vem aquele monte de gente fugindo da guerra. Isso aumenta mais ainda.

Essa crise existe no mundo inteiro.

Participante: eu estava vendo um estudo que dizia que cada pessoa que adquira uma moto nova já é mais rica que metade da população do planeta. Eu acho que isso devia levar as pessoas a refletir sobre esse impulso de consumo.

O impulso de consumo não é problema nenhum. Você pode ter o que você quiser. O problema é sofrer pelo que não tem.

O problema para não é o que conseguem comprar, é o que não conseguem. É isso que causa o sofrimento, insegurança, que lhe faz sentir falta.

Pois bem, pergunto: como ser feliz com essa situação que está presente hoje e vai piorar? Como conviver com isso?

Participante: não ter necessidade de consumo…

Impossível. Você é bombardeado o dia inteiro para comprar.

O dia inteiro, mesmo que não seja bombardeado externamente, a sua mente cria necessidade de ter alguma coisa. Mesmo que seja supérfluo, a mente diz que você tem que ter aquilo. Aí, você compra, olha e diz: ‘e agora, o que faço com isso’? Cadê a necessidade tão apregoada pela mente? Compra e encosta de lado e nunca mais usa.

Participante: dar valor ao que já tem?

Que valor? Que valor é esse que que dar ao que já tem?

Participante: eu tenho o que necessito.

O que eu necessito é o que eu tenho.

Não as respostas não são essas. Da mesma forma que as duas outras crises, a resposta é a mesma: assumir o controle da sua vida.

Para ser feliz mesmo havendo uma crise financeira é preciso não deixar um celular assumir o controle de seu mundo emocional. Não deixar um prato de comida assumir o controle.

Ontem eu falei rapidamente de uma coisa. Agora quero falar mais. Vocês se consideram livres, mas são escravos de um prato de comida. Se não tiverem, sofrem.

Há uma frase que eu já disse que é a maior mentira: ‘amo tudo que tenho, mas quero…’. Se você quer alguma coisa, não ama o que tem.

Para sobreviver em paz a essa crise é preciso assumir o controle da vida e dizer a si mesmo: ‘isso é o que eu tenho, isso é o que eu posso comprar e tudo que não estiver aqui, não preciso ter’. Ou até melhor: ‘pode ser até que preciso, mas não tenho. Como quero ser feliz, tenho que assumir o controle da minha vida e me libertar de ser escravo de ter’.

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