Participante: o senhor está dizendo que eu e Deus fizemos um pacto para que eu fosse egoísta? Para que isso?

Para você servir como instrumento de prova para aqueles que precisam ser provados no seu egoísmo.

Como disse, se pediu paciência, Deus dá uma situação para exercer a paciência. Só que para exercer essa ação contra a paciência Deus não vem pessoalmente. Cria a situação utilizando outro ser humano. Esse vai viver uma situação de tal forma que teste a paciência de outro, ou seja, se torne instrumento de um pacto com Deus: ‘serei instrumento para agir de tal forma que aqueles que forem testar a paciência passem pela minha mão’.

Esse é o pacto com Deus que estou falando. É por isso que Krishna diz que ninguém pode deixar de agir de acordo com sua personalidade. A sua personalidade é programada antes da encarnação e outros Espíritos também criaram as suas encarnações dependendo da sua personalidade para que tivessem as suas provas.

Participante: podemos dizer, então, que Deus controla nossos atos e nossos sentimentos? Nossos sentimentos também são ilusão assim como os atos?

  Duas coisas.

Primeiro: você não tem consciência dos seus sentimentos. Você, o espírito, tem, mas para o ser humano, a consciência a qual o espírito está ligado, a escolha sentimental é inconsciente.

Por isso diria que você, a Maria, não tem sentimentos. Quem tem é o espírito, o ser sem nome, raça, cor, sexo.

O sentimento é do espírito, não é seu. Sim, você é um espírito, mas está humanizada, está ligada a uma consciência transitória que acredita ser você. Hoje se considera a Maria e não o espírito.

A Maria não tem sentimento nenhum. Quem tem é o Espírito. Esse sentimento do espírito é inconsciente a você, Maria. Na hora que se desligar dessa personalidade voltará a ter consciência do sentimento que está vivendo.

Quanto a você, Maria, o que tem é sensação. O que é sensação? É o que o ego diz que você está sentindo. Os raciocínios que exprimem dor, culpa, orgulho, vaidade, amor, etc. O “sentir’ que exprimem todas essas coisas são sensações. Elas não são do espírito, mas como ensina Buda, se agregam ao ser depois do advento, do nascimento.

Então, você me pergunta se Deus comanda os seus sentimentos e eu respondo: da Maria sim, através da sensação, do espírito não.

Participante: isso tudo é muito novo para nós todos e é difícil entendermos. Agora você está me dizendo que eu sou duas, que sou o espírito e sou o espírito humanizado. Bastante complicado.

Não, você é uma só com consciência dupla, o que é diferente de ser duas.

Você é o espírito, tem a consciência espiritual, mas durante aquilo que chamamos de encarnação perde o acesso a essa consciência e assume a consciência material, a Maria, o ego Maria. Nesse momento, então, você, o espírito, tem as duas consciências. Enfim, é uma, mas tem dupla consciência.

Só para fazer uma comparação e tornar mais fácil o que estou falando, no mundo humano tem uma coisa que vocês chamam de dupla personalidade. Um ser humano que possui duas ou mais personalidades. O processo é quase o mesmo.

Portanto, você é o espírito, mas está em uma fase onde possui uma consciência espiritual, mas se liga a uma consciência material, um ego, para que esse crie as suas provas. Então, você não é duas, mas uma só.

Participante: então por que Jesus teria dito o amai os vossos inimigos, orai pelos que lhe caluniam, sede perfeito como perfeito é o Pai celestial?

  Mas, é isso que estou dizendo.

Amar o inimigo é amar outra pessoa a qual trata como inimigo. Mas, quem é que chama de inimigo? É outro ser humano? Não, é outro espírito.

Você tem que amar o seu inimigo, mas com o amor de Deus, o incondicional, e não o seu, o que é condicionado pelo egoísmo. Para que tenha o amor de Deus, para amar incondicionalmente, é preciso que suas condições sejam vencidas. É assim que por pedir a prova da paciência, quando encarna a sua consciência temporária tem pouco dessa emoção. Junta-se a isso a ação de alguém que atiça a sua impaciência e aí está a sua prova, a sua chance de amar acima das suas condições.

Amar não é passar a mão na cabeça. Falo isso porque o Cristo também disse assim: ama o seu irmão como o Pai lhe ama. Como Deus lhe ama? É satisfazendo todas aas suas paixões e desejos nesse mundo? Não, é dando provas, contrariedades, para amar incondicionalmente e assim merecer elevar-se.

Esse é o verdadeiro amor. Não esse amor bobo que vocês sentem, aquele que passa a mão na cabeça de todos aqueles que concordam com suas verdades.

Deus não passa a mão na cabeça de ninguém, pois tem que dar o que é Justo. Também criar contrariedades, coisas que você não gosta nem queria, porque o seu Amor Sublime sabe que esse é o único caminho que o aproxima Dele. Esse é o amor Justo e Amoroso do Pai. Se tem que amar como Ele ama, como Cristo ensinou, precisa, então, amar a Justiça e o Amor Sublime de Deus.

Voltando ao nosso assunto, se agiu contra a paciência de alguém, ame a si mesmo por ter sido instrumento de Deus para levar a alguém a Justiça e o amor do Pai. Isso é viver a autoacusação com amor. Agora, se acusando ou tendo prazer em tirar a paciência do outro, não participou com amor. Nesse caso, não passou na prova. Terá que viver outra situação chamada de negativa para poder realizar o trabalho para o qual nasceu.

Só tem um detalhe a mais: tirar a paciência de alguém que pediu para que testá-la você jamais poderá deixar de fazer. O universo é construído dentro da interdependência, um dependo do outro. Se aquele depende da sua ação para a coisa mais importante do universo, viver provas para poder elevar-se, não haverá nunca a possibilidade dele ficar sem a ação necessária para isso.

O problema é que vocês ainda estão presos ao bem-estar material. Deixe-me deixar bem claro: Deus não ama o ser humano, porque esse ser nem existe.

O ser humano não existe como algo no universo. Como diz o Espírito da Verdade na questão 27 de O Livro dos Espíritos: no universo existe o espírito, a matéria e acima de tudo Deus. Onde está o ser humano nessa resposta?

O ser humano não é um elemento do universo. Ele é uma consciência transitória que o espírito utiliza para vivenciar uma encarnação.

Além de ser apenas uma consciência, o que você conhece como ser humano também é transitório, acaba. Cadê os outros personagens que foi em outras vidas? Já encarnou diversas vezes, cadê aqueles seres humanos? Morreram, acabaram, não existem mais porque hoje você é você.

Mais: morreram, acabaram todas as posses, paixões e desejos. Tudo que você defende no ser humano de agora já foi defendido em outras vidas, mas acabou, morreu. Vale a pena defender nessa vida? Porque, dessa vez as coisas se tornarão eternas? Claro que não.

Se acabou não é eterno. Se não é eterno não existe no universo, porque só existe o que é eterno e universal.

Então, o ser humano não existe. Por isso Deus não vai proteger seres humanos. Ele protege o espírito que está vivendo ligado a uma consciência humana. Protege o Espírito dando a ele oportunidades de evolução, ou seja, dando uma situação de impaciência para quem pediu para ser paciente, para que conquiste a paciência.

Deus não dá paciência gratuitamente para ninguém.

Participante: amar sendo egoísta para provar. Onde se evolui nessa condição egoísta?

Não é amar sendo egoísta, mas é amar praticando atos egoístas.

Amar a Deus acima de todas as coisas, inclusive no egoísmo que você está vendo no ato. É isso: amar a Deus sobre tudo, inclusive sobre o que acha que está acontecendo.

Vocês têm dificuldade com essa palavrinha ‘tudo’. Acham que tudo é só o que querem que seja, massa isso é ilusão. Tudo é tudo, inclusive o que você não considera como alguma coisa.

Então ame a Deus acima inclusive do que você prática, porque não vai deixar de praticar o que prática, pode ter certeza.

Participante: sei não, se todos pensarem assim, para que a moral que o Cristo nos ensinou?

  Mas veja, se o Cristo não pensasse assim, não chamava os seus apóstolos de vermes. Aparentemente chamá-los assim não pode ser considerado amor. Mas, está lá na Bíblia: vermes até quando vou aguentar vocês?

Se Cristo não pensasse assim não enfiava o chicote no lombo dos mercadores do templo. Se estivesse apegado ao amor como imaginam, teria dito aos mercadores: filhinho meu, você precisa sair daqui. Não foi esse ato que praticou, o que fez foi enfiar o chicote. Aliás, enfiou e não teve culpa alguma.

Porque Cristo viveu assim. Porque como disse quando fez Lázaro renascer, ‘tudo acontece para que a glória de Deus se faça através de mim’. Então, o chicote no lombo aconteceu para que a glória de Deus se fizesse através Dele, o xingamento aos apóstolos também. Ele não sofreu nem se acusou e dessa forma se manteve em Deus, mesmo praticando atos condenados pela humanidade.

Garanto que se fosse o ser humano, quando os mercadores saíssem correndo do templo debaixo das chicotadas, pensaria: ‘viu como sou o gostosão? Eu mando todo mundo embora daqui na hora que quero’.

Cristo não pensou isso, mas o chicote que tinha que acontecer, aconteceu, assim como o povo judeu perdeu diversas guerras, mesmo sendo guiados por Deus, porque tinha que acontecer

Participante: onde a gente evolui nessa condição egoísta?                        

Amando a Deus acima de todas as coisas.

Esse é o primeiro mandamento ao qual você tem que se entregar de corpo alma espírito. Por isso, ame a Deus acima de tudo. Se está praticando um ato que considera egoísta, ame a Deus. Se acusando não amou a Deus nem reconheceu a lei natural acontecendo: você dentro de um corpo fazendo o que tinha que ser feito sob as ordens de Deus.

Compartilhar