Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?

Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho do mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiencia; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo. (119)

Já definimos o mal como o individualismo, o querer para si, o sentir-se melhor que qualquer outro, o amor a si mais do que a Deus. Agora Kardec pergunta por que existe individualismo na Terra? Por que Deus não fez todos os Espíritos universalistas? A resposta: Deus fez puro.

O que é ser puro? É ser universalista, é amar a todos igualmente. Mas, continua resposta, também deu a cada um o direito de optar continuar puro ou desviar-se para o individualismo. Por que fez isso? Para que a justiça se faça.

O que é justiça? Justiça é dar a quem merece o que merece.

Veja bem essas palavras: justiça é dar a quem merece o que merece. Ou seja, se não houver merecimento, nada pode ser recebido. Isso quer dizer que Deus não pode dar nada sem que haja merecimento.

A partir dessa constatação, digo que o livre arbítrio, o direito de optar entre o bem e o mal, é o gerador da justiça. Essa liberdade é a perfeição de Deus que O leva a tratar a todos por igual, mas sem passar a mão na cabeça.

Deus não é benevolente como muitos dizem, é justo. Soberanamente justo. Por isso precisa criar um mecanismo para que o Espírito aprenda a merecer o que recebe.

Deus não é um pai terrestre que dá as coisas para o filho. Até porque a humanidade está cansada de ver que esse procedimento não leva a lugar nenhum. Crianças crescidas na abastança, transformam-se em adultos individualistas ao extremo. O Espírito, se criado na abastança, recebendo sem merecimento, também viveria só no seu individualismo.

Por isso é preciso que ele passe por provas. O que é provado em cada prova? Justamente o livre arbítrio entre o bem e o mal, o livre arbítrio entre amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e o amor a si acima de tudo e todos.

Por isso, quando acontece alguma coisa – e já vimos lá trás que a vida humana é planejada pelo espírito antes da encarnação – está acontecendo uma prova. É Deus perguntando: e agora você vai ficar do lado do bem, ou seja, vai permanecer feliz, em estado de graça me amando e amando o seu próximo mesmo não tendo acontecido o queria, ou vai sofrer porque exige que sua vontade seja sempre feita?

Aí está a prova que gera o merecimento. Ela é necessária para que o espírito humanizado trabalhe, pois é o trabalho que caleja a mão, que deixa a mão grossa, que a faz firme. A mão que não caleja, que não trabalha, é fina e qualquer coisa machuca. Assim também é o Espírito que não trabalha para a sua elevação espiritual, ou seja, não luta contra o seu individualismo. Tudo o faz sofrer, qualquer coisa é motivo para o seu sofrimento.

Pior, como disse o Espírito da Verdade, vai sofrer mais porque só sairá do ciclo de encarnações, da sansara, quando vencer o individualismo. Por isso aquele que não tralha durante uma encarnação estará na roda de encarnações vivendo suas vicissitudes, ou seja, alternâncias de situações, por muito mais tempo do que aquele que compreender o bem e o mal e lutar contra o seu individualismo.

Encerro com uma frase que Cristo disse: ouça quem tem ouvidos de ouvir.

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