Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?

Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma à outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.

Agora, Kardec, apesar do Espírito da Verdade ter dito que o bem e o mal são o cumprimento do mandamento do Cristo, o amor, e apesar do de ter sido falado da vontade, da intenção, volta a insistir no ato. Cita como mal a necessidade de destruir as coisas, inclusive outro ser humano.

Em resposta o Espírito da Verdade acaba com qualquer dúvida: embora necessário…

Destruir alguma coisa ou até o outro semelhante, é necessário. É necessário porque, como já vimos, os atos da vida são ações carmáticas. Por isso a destruição não é mal, mas se torna se o ato for vivido preso a uma intenção a uma vontade.

O problema não é destruir o outro, é querer destruir o outro. O problema não é gritar com o outro, é querer gritar com o outro, é achar-se no direito de gritar com os outros.

O problema não está em criticar o próximo, mas achar que tem o direito de criticar o próximo. Isso é mal porque um ato carmático é usado para se ter um prazer individualista. Destruir é levar ao próximo o que ele precisa, acreditar que tem o direito de destruir é ter prazer individualista. Isso é o que precisamos compreender.

O problema não é gritar, é se achar no direito de gritar. O problema não é criticar, é se achar no direito de criticar porque se acha certo. Esse é mal porque ama a si e não a Deus que fez a pessoa agir do jeito que tinha que agir.

Como já disse, quando participa das ações sem colocar intencionalidades (ensinamento de Krishna), ou seja, sem ter vontade de fazer, sem achar-se no direito de praticar e fazer, não importa o que é feito, é perfeito. Quem vive assim eleva-se espiritualmente e poderá passar a ser instrumento carmático de outras vidas.

Participante: os espíritos que vieram de outros orbes para esse para ajudar na evolução desse planeta, vieram como voluntários e missionários? E as encarnações aqui podem ofuscar o brilho desses Espíritos? Eles podem ficar mais individualistas do que universalistas?

Deixe-me só dizer uma coisa.

Como já falei, existem espíritos que vivenciam situações para a sua evolução espiritual. Existem, também, os que vivenciam as suas situações como instrumentos da sua missão, que sãos os missionários. No primeiro caso a sujeira adquirida durante a encarnação terá que ser limpa numa nova encarnação. Agora, para o missionário não. A sujeira dessa encarnação será limpa na saída dessa encarnação.

Participante: de que forma?

Da forma que se limpa depois da encarnação, umbral.

Participante: mas, umbral?

Sim. Não pode permanecer como ser humano grudado às coisas.

Participante: missionário?

Sim, porque ele não pode carregar isso de uma vida para outra, pois não está em prova. Então, precisa estar apto a assumir nova missão. Por isso terá que limpar-se na saída da encarnação que se sujou.

Participante: não existe uma forma mais prática não? Tipo um banho de energia?

Existe. O que eu estou falando é um banho de energia.

Participante: você falou em umbral, ficar preso em pedras…

Viver lá é um banho de energia, de amor. Agora, de um amor que vem de cima. Por isso você não pode compreender.

Saiba apenas que um banho de energia desses é uma grande oportunidade de aprender a amar.

Participante: por quê?

Porque durante essa estada é mostrado que o desejo, a vontade, o querer, o individualismo, não serve para nada.

Saiba que se na vida carnal existe o prazer e a dor, no umbral não existe não. Lá só há o sofrimento para gerar o aprendizado.

Por isso é uma grande oportunidade de destruir tudo aquilo que se prendeu durante a vida. Tudo aquilo que se escravizou na vida será contestado mais fortemente no umbral para mais rapidamente você se limpar e poder dizer: estou pronto para outra missão.

Participante: quer dizer que o missionário vem pra cá voluntariamente, serve de instrumento de carma, passa por uma série de vicissitudes e o prêmio ainda é ir para o umbral? Se é que eu entendi bem.

Não, o prêmio não é ir para o umbral.

Participante: o prêmio entre aspas.

Não, passar por vicissitudes.

Desculpe, mas passar por vicissitudes não é necessariamente sofrimento. Quem passou por sofrimento durante a vicissitude não fez missão.

Quem passou pela situação sem sofrer cumpriu missão. Esse não vai para o umbral. Agora, quem passou pela vicissitude no sentido que você, sofrendo, não realizou nada.

Participante: Jesus foi para o umbral? Ele chegou a pedir: Pai tira de mim esse cálice.

Mas se não for possível, que seja feita a Sua vontade. É que você só lembra do primeiro.

Participante: mas aí já não demonstra um sofrimento? Não é motivo para ir para o umbral?

Não. Há a ação humana de pedir o afastamento, mas ao mesmo tempo há a intencionalidade: desejo não passar por isso, mas não me prendo ao meu desejo e sim a você Pai.

Saiba que todo ser humano vai desejar até o fim da encarnação. Isso porque o desejo vem do ego. O desejar é prova.

Olha o que já disse: não é ter desejo, é não se escravizar a ele. Se Cristo dissesse Pai afasta de mim esse cálice, porque não quero, não gosto, e se o Senhor deixar eu falar contra, nada teria realizado. Mas, quando fala que seja feita a tua vontade, mostra a submissão a Deus.

O dizer Pai, afasta de mim esse cálice mostra uma realidade. Todo ser humanizado tem um ego, todo ego vai propor um desejo individualista. Já o complemento –  mas se não for possível que seja feita a vossa vontade – é a reação que o ser humanizado deve ter à proposição do ego. É a liberdade a humanidade, é o amor a Deus.

Participante: mas o umbral existe? Tendo em vista que você já disse que o umbral não existe.

A vida carnal existe? Não. É o estado de uma consciência de um espírito. É um trabalho mental que cria o que você acha que é real.

O umbral também existe dentro dessa mesma condição. É um estado mental. Ele não é um lugar físico, mas uma projeção mental de um espírito que vivencia situações naquele trabalho mental.

Assim como o espírito encarnado acredita estar vivendo uma vida humana, alguns seres libertos da materialidade acreditam que estão vivendo em um lugar chamado umbral.

Leiam o tratado das percepções e sensações de O Livro dos Espíritos. Lá o Espírito da Verdade é claro: a realidade para o Espírito é outra.

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