(Gálatas 2, 11)

Quando Pedro veio a Antioquioa, eu o repreendi em público porque ele estava inteiramente errado. Antes de chegarem ali alguns homens que Tiago tinha mandado, Pedro comia com os irmãos que não eram judeus. Mas, depois que aqueles homens chegaram, ele não queria mais comer com os não-judeus porque tinha medo dos que eram a favor da circuncisão dos não judeus. E também os outros irmãos judeus começaram a agir como covardes, do mesmo modo que Pedro. E até Barnabé se deixou levar pela covardia deles. Quando vi que não estavam agindo direito, nem de acordo com a verdade do Evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: “Você é judeu, mas não está vivendo como judeu e sim como os não judeus. Como é então que você quer obrigar os não-judeus a viverem como judeus”?

Sabe qual é o nome dessa postura que Pedro assumiu? Hipocrisia. Essa hipocrisia pode ser reconhecida por dois aspectos da postura de Pedro.

Primeiro: enquanto lhe convinha, vivia como os outros, sem achar nada errado. Segundo: quando não mais foi conveniente viver daquele jeito quis transformar os outros para ficar bem com seus parceiros mais antigos. Ou seja, agiu pensando nele apenas, em não perder a fama, a glória individual. Pior: ainda disse que agiu assim por amor aos outros.

Mas, não é apenas Pedro que age assim: essa é uma maneira padrão de agir do ser humanizado.

Quando as circunstâncias do que está vivendo convém, o ser humanizado se adapta às maneiras dos outros. No entanto, quando esse modo de proceder pode ferir a sua fama trazendo a infâmia e as críticas, além de mudar o seu proceder, quer transformar também os outros.

Hipocrisia, mas, o mais hipócrita de tudo é que afirma que quer mudar os outros por amor a eles, sem reconhecer que está pensando apenas em si mesmo.

Vamos trazer este ensinamento para a vida diária de um ser humano. Todos nos ambientes que participam (casa, trabalho) sempre estão achando que alguém faz algo errado e querem alterar o proceder do outro para aquilo que acha certo.

O ser humanizado convive com os outros, mas está sempre querendo mudá-los para que façam da mesma forma que ele, imaginando-se sempre certo. Mas, cada um faz e age na sua vida de uma maneira certa.

Isso é uma coisa fundamental para essa vida: todos estão certos até o momento em que você disser que ele está errado, ou seja, todos agem dentro da sua razão, mas você os julga pela sua. Mas, a partir do momento que o sentenciou, ele passou a estar errado apenas para você, não para ele mesmo. Portanto, ele continua certo; apenas você é que diz que ele está errado.

Precisamos aprender, para ser cristão, a conviver com os outros do jeito que eles são, pois o jugo cristão é leve. O cristianismo proposto por Paulo a partir da compreensão que recebeu no mais alto céu dos ensinamentos de Cristo não contempla o certo ou o errado, porque não se baseia em códigos de leis que criam o pecado, mas no amor incondicional.

No cristianismo a abolição das leis individuais (o que você acha certo ou errado) para julgar os outros baseia-se na maior expressão do amor universal que já conversamos: a igualdade. A igualdade, ingrediente necessário para a existência do amor universal entre dois seres, baseia-se no direito de cada um ser diferente entre si.

A igualdade que compõe o amor universal é dar ao próximo o direito de ser, estar e fazer o que quiser sem que você se intrometa na vida dele para dizer o que deve ou pode fazer. Essa igualdade é a maior expressão do amor crístico.

No entanto, você se diz cristão, mas não deixa de achar os outros errados, utilizando para isso suas próprias verdades como lei. E, ainda diz que age desta forma por amor.

Não vê que essa forma de proceder é fruto do seu individualismo, do seu amor a si mesmo que é superior ao amor a tudo e a todos. Você, como Pedro e os apóstolos materialistas, ainda imagina que para os outros serem do seu partido, têm que se mudar.

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