Antes de haver qualquer matéria nessa densidade que vocês conhecem, Deus já criava espíritos. Por este motivo João diz em seu Evangelho:

“Antes de ser criado o mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus”. (João – 1,1)

Em O Livro dos Espíritos vamos encontrar as propriedades do espírito após ser gerado por Deus: simples e ignorante. Como simples compreendemos que o espírito no seu nascimento possui apenas um sentimento: o amor. Além disso, também nasce sem ciência (ignorante).

Podemos, então, afirmar que a evolução do espírito é adquirir a ciência do universo. Entretanto, nesta busca, ele perde a sua simplicidade: torna-se complexo, ou seja, adquire novos sentimentos que não possuía.

Assim sendo, o objetivo da vida de um espírito é adquirir ciência (conhecimento espiritual) sem perder a simplicidade, sem perder o amor. Quando nesta busca perde a simplicidade, a primeira coisa que adquire é o poder. Todos os sentimentos negativos que um espírito possui são baseados no poder: poder sobre os outros, de ser, de estar, de fazer.

A simplicidade é baseada em estar à disposição de Deus, ser subserviente a Ele, enquanto que o poder adquirido durante a busca da ciência faz o espírito encontrar a individualidade, o eu.

Podemos encontrar uma definição deste poder na Bíblia Sagrada, no livro Gênesis, mas antes de citá-la, precisamos entender esta passagem. Adão e Eva, enquanto moradores do paraíso não eram seres humanos (espíritos encarnados), mas simplesmente espíritos. Só com a expulsão do paraíso é que estes seres universais começaram a habitar a matéria carnal e se transformaram em seres humanos. Sendo assim, a desobediência que transformou Adão e Eva em seres humanos foi baseada no poder que eles adquiriram durante a sua procura pela ciência (conhecimento espiritual). Por isto, a importância de bem se compreender o texto bíblico:

A cobra era o animal mais esperto que o Deus Eterno havia feito. Ela perguntou à mulher: – É verdade que Deus mandou que vocês não comessem de nenhuma árvore do jardim?

A mulher respondeu: – Podemos comer as frutas de qualquer árvore, menos a fruta da árvore que fica no meio do jardim. Deus nos disse que não devemos comer dessa fruta nem tocar nela. Se fizermos isso, morreremos.

Mas a cobra afirmou: – Vocês não morrerão coisa nenhuma! Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal.

A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de comer. E ela pensou como seria bom ter conhecimento. (Gênesis – 3, 1/6)

O poder que acaba com a simplicidade do espírito é o de conhecer o bem e o mal.

A primeira característica do poder que o espírito adquire é o de escolher adjetivos para as pessoas, objetos e acontecimentos que vê: bem ou mal, certo ou errado, feio ou bonito, alto ou baixo, gordo ou magro, longe ou perto. Ter opiniões sobre as coisas é a decorrência de ter poder, pois só quem imagina que possua se julga na capaz de ser juiz de alguma coisa ou de alguém.

Desta forma, os espíritos nascem simples, mas perdem esta simplicidade quando adquirem o poder de achar que são capazes de escolher uma qualificação para as coisas. É este poder que faz com que o espírito não ouça o que Deus quer, mas apenas o que ele mesmo quer. O espírito que possui este poder quer escolher a verdade para todas as coisas.

Por isto a cobra afirma que o espírito será como Deus, conhecendo o bem e o mal. Só Deus tem o poder de saber alguma coisa.

O espírito simples não vive a ideia de ter este poder, pois confia em Deus e se entrega na mão do Pai (fé), aceitando tudo que recebe Dele, sem qualificar as coisas.

O ser simples, ao invés de qualificar as coisas do mundo em que vive, reage com alegria, compaixão e igualdade a tudo. Estes três sentimentos compõem o amor universal, aquilo que torna o espírito simples, sem poder de ser, estar ou achar.

É o poder que leva o espírito a vir para a carne, ou seja, o faz ser expulso do paraíso. É o imaginário poder que o ser universal imagina ter que torna necessário o processo reencarnatório.

Os espíritos superiores, os simples, sempre perguntam a Deus o que Ele quer que seja feito e por isto sempre agem dentro dos Seus desígnios. Aqueles que imaginam que detêm sobre si e sobre os outros o poder, não perguntam a Deus o que precisam fazer e imaginam-se capazes de fazer, de ser, julgando todas as coisas em bem ou mal, certo e errado, bonito e feio, etc.

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