Participante: está muito bom, mas queria que explicasse mais na prática o que está falando, por favor.

Vamos lá.

Você é mãe? Tem uma filha? Cuida dela? Já que me respondeu sim a essas perguntas, acho que acredita no que falou. Por isso pergunto: essas crenças estão em acordo com aquilo que acredita?

Participante: sim.

Não.

Pelo que sei, acredita que tanto você como sua filha são espíritos que estão encarnados vivendo provas e cumprindo missões. Por crer nisso, sei que acredita que todos que estão encarnados têm um destino traçado antes da encarnação. Sabe que para viver essas provas e missões pré escritas os seres vivem papéis no teatro da vida. Sabe que entre esses papéis estão de mãe e filha.

 Acreditando nisso, como pode conviver com aquela pessoa como se ela fosse sua filha? Como pode conviver com ela seguindo os padrões humanos de se lidar com uma filha? Como pode imaginar que tem poder de interferir no futuro dela? Acreditando no que acredita, não pode imaginar que tenha a capacidade de influenciar no que ela faz. Apesar disso, continua crendo que é capaz de cria-la, de aconselha-la e dirigir sua vida para que tenha um futuro ‘melhor’.

É disso que estou falando…

Participante: pelo lado humano entendi, mas é difícil fazer isso.

Veja, não há lado humano e espiritual: tudo é espiritual, segunda verdade universal.

Se tudo é espiritual, se quer fazer alguma por você nesse sentido nessa vida, é preciso decidir o que quer: ser mãe ou buscar a felicidade incondicional, a vida espiritual?

Participante: as duas …

Impossível. Não se serve dois senhores ao mesmo tempo.

“Um escravo não pode servir dois donos ao mesmo tempo, pois detestará um e gostará do outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro’. (Mt. 6, 24)

É isso que Cristo nos ensina. Dedicando-se a ser mãe acabará com raiva de Deus se acontecer a sua filha algo que considera ruim. Dedicando-se a viver espiritualmente essa vida será feliz incondicionalmente. Para viver a segunda opção é preciso usar algum ensinamento que disponha para destruir a ideia de ser mãe, responsável pela sua filha, geradora do futuro dela.

Apesar de falar da necessidade dessa destruição, me permita um adendo. Será que a destruição que estou falando leva a abandonar sua filha, expulsa-la de casa? Destruir a ideia da maternidade é nunca mais conversar com ela, não orientá-la? Não, não é isso,

Para viver a vida espiritual você continuará praticando as mesmas ações de hoje. Continuará zelando por ela, orientando-a. Só que ao invés de achar que ela é obrigada a seguir a sua orientação, o que gera ansiedade e preocupação, você falará e deixará para ela a responsabilidade de seguir ou não. Continuará querendo o ‘melhor’ para ela, mas estará pronta para viver o destino que ela escolheu antes da encarnação, seja do seu agrado ou não.

Participante: concordo.

Só que mais uma coisa que precisa destruir.

Disse que concordava com a questão de não esperar nada dela. Isso é ato, é ação e acontece. O mais importante de ser destruído é o que vai no mundo interno: a chateação com ela, com o que fez, com o que sentiu, como se portou. De nada adianta apenas não assumir a responsabilidade: é preciso não se chatear com o resultado das orientações que der.

Quando fica chateada é sinal de que deixou o que aconteceu penetrar em você. Esse é o jeito velho de viver, o jeito humano de viver. Por isso, é onde o ensinamento deve penetrar.

Não estamos falando de tentar racionalizar agora, quando sua filha está longe, como vai agir com ela. É na hora que ela fizer o que você não gosta, o contrário do que já ensinou, que precisa usar o ensinamento para destruir o modo velho, humano de viver. Resumindo: é na hora que a chateação aparece que deve usar um ensinamento para acabar com sua posição de mãe, de provedora.

Estamos falando em destruir, mas não estamos dizendo para destruir a família, mandar a filha embora ou não falar mais nada. O que é preciso fazer é usar o ensinamento para destruir a ideia de que você é a mãe, a responsável, aquela que manda na filha, a responsável por ela, aquela que tem que ser ouvida.

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