Participante: deixe-me ver se entendi. A mente vai raciocinar gerando uma emoção. É isso?

Sim e depois disso você tem que agir junto ao raciocínio de uma forma prática para não aceitar a emoção.

Participante: o senhor tem razão, nós padecemos por coisas desnecessárias.

 Na verdade, diria que vocês só padecem por coisas desnecessárias. Por que posso dizer isso? Porque a natureza humana foi feita para gerar razões que lhes dê sofrimento.

Participante: porque isso? O sofrimento traz evolução?

Não. A negação ao sofrimento proposto é que traz. Não é o sofrer, o sofrimento, que traz, mas sim o libertar-se do sofrer. Agora, como vão se libertar dele se só vivem por ele?

Outro dia alguém me perguntou se só através do sofrimento se consegue a elevação. Respondi: ‘não, só recebendo o sofrimento e negando-o é que pode se elevar’. Porque isso é verdade? Porque quando se nega o sofrimento se aceita a felicidade. E, quem é a felicidade incondicional? Deus.

Participante: voltando ao primeiro exemplo que usamos hoje (aquela pessoa ter feito uma prova e não ter passado). Quando isso aconteceu, conversamos com ela para ajudar a superar aquela frustração.

Esse é o caminho.

Ela fez uma prova; não passou. A mente certamente lhe propôs a vivência de angústia, frustração, decepção. Nesse momento ela precisa conversar com a mente para eliminar a causa do sofrimento. Isso se faz do jeito que já mostramos: ‘eu estudei muito para a prova, achei que tinha me dado muito bem, mas acabei não passando’.

Consciente dessa ideia, se vier a frustração, ela tem argumentos para se libertar dele. ‘Porque eu vou ficar frustrado? Fiz a minha parte. Busquei, estudei, procurei, me esforcei, mas não consegui. Não passar em um concurso faz parte da vida. Se tiver outro amanhã, tentarei’.

Repare o que fizemos com esse fictício diálogo: destruímos os motivos para sofrer. Aliás, é o que faço quando converso com vocês. Quando veem me contar alguma coisa, alguma situação de sofrimento, dou argumentos para que se libertem dele. Só que não posso fazer isso sempre, pois não estou vinte e quatro horas ao lado de vocês. Por isso é preciso que cada um aja junto a si mesmo identificando a maçã que a cobra está oferecendo e recusar a oferta.

Participante: é o orai e vigiai, não?

Sim.

Participante: voltando à apatia, tenho que ser apática a tudo?

Repare no que está por trás do seu pensamento: ‘há tanta coisa boa neste mundo, é preciso abrir mão de tudo’?

Segundo o Espírito da Verdade, o Universo se reúne por afinidade. Não existem lugares específicos para reuniões de espíritos, se juntam por afinidades. Sendo assim, se você possui afinidade com a vida humana, ou seja, ainda encontra coisas boas nela, imagina que vai para onde?

Por esse motivo volto ao conselho que dei: olhe seu pensamento e repare no que está por trás dele. Aliás, isso é um trabalho que vocês precisam fazer: observar o que está por trás daquela afirmação que a mente faz.

Neste caso, quando ela perguntar se é preciso ser apático a tudo, é preciso que repare que ela não está querendo largar o osso. Constatando isso, pode dizer a ela: ‘está certo, você quer se prender aqui, fique, mas eu não quero. Eu quero ir embora. Por isso, pouco me importa se há coisas que não devo ficar apático ou não’.

Esse é outro aspecto que precisam levar em consideração: nem sempre a mente é completamente explícita. Ela faz jogadinhas e mantém coisas inconscientes para dar uma lógica fundamentada em coisas que já acredita para que caia.

Participante: está certo. Só que eu adoro praia, gosto demais de ir. Por isso, a minha condição humana fica planejando coisas como morar perto da praia, passear nela. É uma série de coisas que gosto.

Perfeito. Vamos analisar isso à luz do assunto que estamos abordando.

O primeiro ato que compõe essa ação é o acontecimento humano: você está aqui. O segundo é o comentário que a mente gera a respeito do ato: ‘eu gosto de estar na praia, por isso preferia estar lá do que aqui’. A partir desses dois atos, a mente oferece um fruto. Neste caso, qual é? A frustração de não estar, o desejo de querer estar.

O primeiro ato (estar na praia) não pode escapar. Do segundo (estar aqui), também não, pois os dois fazem parte da vida, da sua programação de encarnação. Quanto ao que a mente oferece (frustação por não estar onde quer), pode escapar, pois faz parte do livre arbítrio do espírito, ao vivenciar um acontecimento humana, uma prova, optar entre o bem e o mal. Optar entre manter-se em paz e feliz ou viver o sofrimento.

Participante: pois é, porque todos os planos para ir acabam dando errado.

Porque não é você que faz o plano acontecer, mas sim a mente. Por isso, sempre viverá o que tiver que viver.

Com relação a isso, não há nada a ser feito. A única coisa possível é não engolir a pílula que mente oferece no momento da ação.

Porque não pode engoli-la? Porque se a engolir é sinal de que usou do seu egoísmo. A frustração de não ir à praia é resultado de um ato egoísta, de uma ação vivida a partir do eu e para que esse eu ganhe.

Portanto, se a sua vida for planejar ir à praia, viva isso. Só que neste momento, cito mais um ensinamento que pode ajudar a compreender a busca da elevação espiritual, da felicidade: o homem dispõe os seus exércitos, mas é Deus quem determina para que lado a batalha vai pender. Esse é um ensinamento de Salomão.

Portanto, disponha os seus exércitos, mas não aceite a ideia de que é líquido e certo que aquilo acontecerá: ‘eu vou viajar dia tal. Até lá vou fazer isso, aquilo, etc. Depois que chegar lá vou fazer isso, aquilo’. Toda essa determinação, todo esse planejamento é só ilusão, só maya: você apenas tem a ideia de que essas coisas vão acontecer. Só que chega na hora de sair para ir à praia e chove. De que adiantou todo o seu planejamento, que foi revisado diversas vezes para que nada desse errado?

O que acontece quando aceita como certa a ideia de que vai fazer alguma coisa e não consegue realizar o pretendido? Frustração. Você toma a pílula da frustração.

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