É viver por viver, fazer por fazer sem ter regras, motivos ou intencionalidades. Na hora que vai vivendo por viver, fazendo por fazer, todos os conceitos que conviviam com a ação vão sumindo, perdem força.

Volto à frase de Krishna: ninguém muda sua natureza. Portanto, não há como deixar de ser como é. Se na sua natureza acredita que deve sentir-se responsável por sua mãe, vai sentir-se assim até o fim. Por isso, a solução não é trabalhar para mudar alguma coisa dentro de si, mas aprender a viver com você mesmo sem se contrariar.

Isso já falei diversas vezes, mas hoje estou deixando algo mais claro: não é aprender a conviver com você que está no externo, mas sim o interno. Conviver com quem é internamente, ao invés de criar um personagem que esteja preso a normas diferentes e viver com ele.

Na verdade, é isso que acontece. A maioria dos que se dizem espiritualistas ou espíritas criam um padrão para ser. Durante a vida tentam se encaixar dentro do padrão criado dizendo que são livres. Mas, não são: estão presos ao novo padrão. Tanto é assim que se conseguem, tem o prazer de ter feito, se não conseguem realizar dentro do preestabelecido, sofrem.  

Lembro de Paulo e de Cristo. O mestre nazareno chamou os seres humanizados para o seguirem porque ‘seu jugo é leve’, ou seja, não julga ninguém, não cria obrigações. O apóstolo do cristianismo disse que Cristo, a fonte dos ensinamentos usados para criar os padrões para o personagem espiritualista, veio nos trazer a verdadeira liberdade. Que liberdade é essa, que jugo leve é esse, que cria obrigações e pune quem não cumpre alguma coisa?

O próprio Cristo também pergunta: na hora que se olhar por dentro, será que terá coragem de olhar o que vai ver? Na hora que busca o amadurecimento espiritual e descobre que vive de determinada forma não porque quer, mas porque é o certo, porque acha que tem que fazer isso ou aquilo, apesar de ter a consciência da necessidade de despossuir as coisas mundanas, chega até a doer internamente.

Na hora que descobre que não é livre, mas escravo do mundo material, conhece a razão porque sofre. É a prisão ao mundo material, as normas humanas, mesmo que composta por verdades ditas universais, que causa o sofrimento, a contrariedade.

Participante: obrigação é o que mais existe no relacionamento mãe e filha.

Sim. É por isso que dissemos que maternidade é a prova mais difícil. Sim é o mais difícil de ser vivido e por isso é o tema que mais abordo em nossas conversas.

Quando falo contra o relacionamento dito certo ou bom entre mãe e filha, as pessoas dizem que falo assim para atacar as mães. Não é isso. Não ataco ninguém; quero apenas mostrar a prisão que vivem.

A prisão que o ser humanizado vive é o de ter que ser determinada coisas dentro de determinados momentos. A prisão de ter que estar de algum jeito. Essa prisão é ilusória. O ser encarnado não tem que ser ou ter nada, porque tudo externo acontece.

A única coisa que tem que fazer, se quiser estar em paz é aprender a viver consigo mesmo do jeito que é.

Me diga uma coisa: na sua relação com seu filho ou com sua mãe o que é, internamente, mais difícil, mas dolorido?

Participante: ver eles sofrerem …

Não. Se eles sofrerem por alguma coisa você sai correndo e tenta resolver. Portanto não é isso que mais causa problema à você.

O que mais lhe faz sofrer internamente é a preocupação com eles que vive, estando bem ou não. Esse sofrimento nasce exatamente porque é escrava do ter que ser, do ter que acontecer ou não. Por isso é que digo que o trabalho para ser feliz é ser livre do ter que ser, mesmo ainda querendo ser.

Livre dos seus conceitos do tem que ser para ter, tem que ter para ser, não deixará de fazer por eles nada que já faz ou iria fazer. Só deixará de se preocupar em fazer.

Participante: entendi, mas …  

Mas, é um trabalho que você precisa fazer.

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