Ninguém ficou com nenhuma dúvida? Que maravilha!

Participante: a dúvida, acho, é por onde começar.

Diria para começar pelo começo.

Qual é o começo? O que você acha?

O começo é viver.

O começo é viver a vida de uma forma diferente. Hoje vivem a vida com o botão do automático apertado. Vivem a vida no piloto automático. Para colocar em prática o que falamos o começo é desligar esse piloto. Ou seja, o começo é estar presente no agora para detectar a contrariedade; ao detectá-la, agir na busca de ver o conceito que a causou.

Deixe-me explicar bem esse ponto. Para isso vou usar um exemplo que uso sempre: alguém lhe chama de feio e você não gosta de ser chamado assim, se considera bonito.

Quem vive no piloto automático sai xingando e criticando aquele que falou: ‘fala isso porque não gosta de mim, porque não entende nada de beleza, por isso ou aquilo’. Já quem desliga o piloto automático, quando vem a contrariedade por ter sido contrariado ao ter sido chamado de feio, olha para dentro, e procura em si o que foi contrariado pelo que o outro falou.

Nesse caso o que foi contrariado? A vontade de ser bonito, a vontade de ser chamado de bonito, a vontade de ser elogiado.

Então é isso, essa é a revolução. Participar da Revolução Anárquica Espiritualista é estar sempre combatendo em si aquilo que causa a contrariedade. Mas, como se combate a fonte da contrariedade?

Participante: sabendo que o problema não está no outro, mas dentro de si mesmo.

Isso quer dizer que é preciso parar de que querer ser chamado de bonito?

Participante: sim.

Não!

A revolução não consiste em mudar-se. Não é derrotar a causa da contrariedade, mas se libertar da condicionalidade. O conceito e a condicionalidade continuam existindo, mas não condicionam mais o estado de espírito. Dentro do exemplo, promover a revolução é se achar bonito, continuar querendo ser chamado assim, mas dar ao outro o direito de achar você feio.

A maior ignorância é achar que existe alguma coisa universal, ou seja, alguma coisa que todo mundo vai achar igual, unanimidade. Isso não existe. Não importa o que seja, por um mínimo detalhe, vai haver sempre discordância entre os seres humanizados.

Por isso é preciso dizer para si mesmo: ‘sim eu me acho bonito, gostaria de ser chamado de bonito, mas tenho que compreender que não existe unanimidade. Por esse motivo tenho que dar ao outro o direito de me chamar de feio’. Nesse momento você continua querendo ser chamado de bonito, ele continua lhe chamando de feio, e ninguém briga, ninguém sofre.

Realizando esse trabalho você não se contraria porque foi chamado de feio, pois o que causa contrariedade não é nem o fato de ser chamado de feio, nem o querer ser chamado de bonito. O que causa a contrariedade é não aceitar que o outro tem o direito de ter a opinião dele.

Participante: então nunca vamos mudar?

Não sei, se mudar, mudou, se não mudar, não mudou.

Para aquele que promove essa busca não há nada certo, não há nada universal, não há nada cem por cento. Sendo assim, dúvidas sobre se nunca vou mudar, não existem.

Aliás, a resposta para qualquer dúvida é: não sei, pode ser que sim, pode ser que não. Ele pode viver assim, pois não é mais dependente das respostas para ser feliz.

Esse é o desapego. Esse é o processo. Essa é a revolução. Não uma revolução para matar você, mas para se libertar de você mesmo.

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