A primeira algema, a primeira ideia que prende a esse mundo, diz respeito justamente aos valores de justiça e merecimento que a humanidade vive.

A mente humana trabalha, gera consciências, com valores que se referem à merecimento, justiça, positividade, necessidades, prática do bem. São valores que concede à determinadas ações, atos e que levam a consciências que dizem que eles devem ser praticados e merecem atenção.

Mas, será que as ações realmente possuem esses mesmos valores quando se prioriza a vida eterna, o mundo espiritual? Acho que não. Vamos tentar entender isso.

Uma das grandes lutas no mundo atual pela justiça e merecimento é contra o preconceito, seja racial ou contra a opção sexual de cada um. A coletividade humana está empenhada em acabar com esses preconceitos e por isso diz que aquele que é bom, justo, que cuida do bem, deve engajar-se nesta luta.

Mas, será que isso tem alguma importância para o mundo espiritual? Será que alguém ser alvo de um preconceito por causa da cor da sua pele ou pela sua opção sexual tem alguma reflexão negativa para o mundo espiritual? Acho que não.

O espírito não possui cor, raça ou sexo. Não tendo, qual o problema do humano dele ser de uma cor diferente e por isso sofrer preconceito? Nenhum.

Sendo isso verdade, pergunto: porque um espírito iria se engajar numa luta contra o preconceito racial? Porque unir-se à essa luta?

Aquele que está concentrado no ser, que prioriza os assuntos que são importantes para a sua existência eterna, não se engaja nessa luta. Faz isso porque sabe que ela é movida por valores humanos e não por espirituais.

Ah, me esqueci. A mente humana diz que unir-se a esta luta é um ato amoroso, um ato de amor àqueles que sofrem o preconceito. Diz isso, mas esquece de dizer que no momento que se engaja na luta contra o preconceito está deixando de amar aquele que é preconceituoso.

Esse é o risco que aquele que está concentrado no ser vê que está correndo ao aderir a essas questões. Ele sabe que engajar-se nesta luta pode até humanamente parecer alguma coisa santa, mas que quando analisa a partir do prisma espiritual, ou seja, a partir da necessidade de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo, seja ele quem for, como a si mesmo, toda a santidade se esvai. Verifica, assim, que a união a essas causas se torna danoso à suas pretensões espirituais.

Esse é o grande problema de não estar concentrado no ser. Quando isso acontece, a mente deita e rola no que diz respeito às tentações que levam o espírito a não aproveitar a encarnação e ele, não vê o que está acontecendo.

Quando o ser está concentrado na matéria, atento aos valores humanos dos acontecimentos, a mente se aproveita e traz todas as impurezas da qual o espírito precisa se libertar à consciência e ele não se liberta delas. Ela ataca, acusa, critica, xinga e ofende o próximo aquele que deveria ser amado também. Aliás, deveria amar prioritariamente.

Falar nesse momento do próximo é importante para nossa conversa. Quem Cristo define na Bíblia como o próximo? A quem se refere? Segundo a parábola do Bom Samaritano, dentro da definição que já conversamos, o próximo é o seu inimigo.

Voltando ao caso que estamos falando (xingar aquele que tem preconceito de raça, cor ou sexo) quem o nosso inimigo? É aquele que tem preconceito contra determinadas coisas desse mundo.

Sendo assim, segundo o mestre nazareno, a sua prioridade dentro do amar deveria ser o preconceituoso e não a suposta vítima. Só que envolvidos pela aura de bem, de santidade que a mente concede ao amor à vítima e a raiva ao inimigo, aqueles que buscam a Deus não se lembram de outro ensinamento de Cristo: ‘Vocês ouviram o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, lhes digo: não e se vinguem dos que lhes fazem mal’.

É isso que precisam atentar. Defender a vítima e acusar o preconceituoso parece, aparentemente, uma atitude nobre, algo sublime, mas a mente jamais defende um sem acusar o outro, jamais defende o negro sem acusar o branco. Com isso, o amor a todos, que Cristo teve e exemplificou quando foi jantar com prostitutas e cobradores de impostos, não é vivido por aqueles que dizem que querem ser cristãos.

Repare: a cada momento da existência a mente está chamando para tomar partido por alguma coisa. Ela sempre impõe que o ser esteja de um lado da situação. Só que ela jamais deixa apenas tomar um partido; sempre joga o ser humanizado contra quem está do outro lado, quem vive com um valor diferente do seu.

O que você não vê é que quando age desse jeito passa a viver um amor condicionado e não o amor universal que Cristo ensinou. Lembra? Ele ensinou esse amor quando não julgou, acusou ou condenou a mulher adultera.

Algemado pelo valor humano, pela capa de santidade dos conceitos da humanidade, não coloca em prática nenhum dos ensinamentos que diz acreditar. Por isso não caminha para a Deus, para a elevação espiritual.

Quando aceita tomar partido frente as situações, defende a vítima humana, mas acusa o culpado que a sociedade cria. Com isso cai e não caminha para Deus.

É sobre isso, filhos, que precisam pensar. Não se deixem distrair por movimentos que carregam a suposta bandeira do merecimento, da justiça ou da prática do bem que o mundo cria, mas que ao mesmo tempo servem para atacar outros. Quando se deixa levar por esses movimentos, acaba sempre ferindo alguém, não fazendo o que nasceu para fazer.

Antes de encerrar a conversa sobre essa primeira algema, me concedam um momento. Quando falo, como falei, sobre o não tomar partido, não estou falando que aquele que humanamente é considerado errado está certo.

Não sou a favor a discriminação, nem contra, muito pelo contrário. Minha preocupação está apenas em se amar a todos, independentemente do que a sociedade diga, pois, todos os mestres foram unânimes em apontar o amor a todos, inclusive aos que são considerados errados, como caminho para Deus.

Portanto, declaro desde já que não possuo qualquer preconceito de cor, raça ou opção sexual e nem compactuo com quem tem. No entanto, por buscar o caminho que leva a Deus, os ensinamentos de Cristo, não posso deixar de amar a qualquer um por qualquer motivo.

Essa, então, é a primeira algema que quero conversar hoje. Trata-se de alguma coisa que prende a esse mundo.

Dei dois exemplos deles, mas há outros. O movimento para acabar com a fome, com o terrorismo, as demandas do governo, a corrupção dos políticos, contra os juros extorsivos que são praticados pelos bancos, etc. Enfim, são tantos movimentos que a vida humana gera vestidos com a capa de justiça e merecimento para acusar alguém de alguma coisa que se o ser humanizado se atentar a todos, nem sobra tempo para o seu trabalho pela elevação espiritual, pela paz, felicidade e harmonia com tudo e todos.

Esses movimentos só servem para desconcentrar o ser, pois nunca acabaram com aquilo a que se propõem. Desde que o mundo é o mundo o preconceito racial e homofóbico existem, a fome, o terrorismo, as demandas do governo e a corrupção existem.

Será que acham que apenas por terem se engajados nessa luta agora as coisas acabarão? Esses movimentos vestidos com a sua capa de santidade, mas que nada tem disso porque ainda geram culpas e culpados, só servem realmente para uma coisa: não lhes deixar aproveitarem a encarnação.

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