01 – Ousadia e comodismo

Para começarmos nossa conversa de hoje, gostaria de fazer uma pergunta: qual a responsabilidade que o espírito assume ao encarnar? A de promover a reforma íntima. Todos os espíritos que estão ligados a uma consciência material só se encontram nesse estágio da sua existência espiritual porque assumiram o compromisso de buscar a elevação espiritual através da reforma íntima.

Se isso é verdade, é necessário, então, que se faça mais uma pergunta: o que é preciso para promover a reforma íntima? Do que precisa um espírito para honrar o compromisso assumido com Deus, consigo e com a espiritualidade antes da encarnação?

Será que apenas o desejo de fazê-la é suficiente? Acho que não. O ser humanizado pode ter muita vontade de fazer, mas nunca chegar a realizar, pois para isso a vontade precisa se transformar em ação. Não basta apenas ter vontade: é preciso realização, agir no sentido de se reformar

A partir do momento que o ser humanizado compreende a responsabilidade assumida antes da encarnação, entende a necessidade da realização da reforma íntima. Mas, só compreender também não adianta, pois pode no primeiro obstáculo desistir e com isso não realizar o que se comprometeu.

Você pode ter vontade de reformar-se, pode desejar ardentemente elevar-se, mas se o desejo não se transformar em prática, nada será conseguido. Só que para que a prática ocorra há um elemento que é fundamental. Sem ele nada se consegue em termos de elevação espiritual.

Claro, que o primeiro mandamento deixado por Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas) é fundamental. No entanto, o ser humanizado pode até amar ao Pai, mas na primeira adversidade estancar a prática da reforma íntima. Claro que amar o próximo como a si mesmo também é importante, pois sem isso não se vive em harmonia com o todo. Óbvio que existem muitos outros fatores tais como vontade, perseverança, afinco e outros que também são importantes, mas existe um sem o qual nada se alcança.

 Para que promova a sua reforma íntima, ou seja, alcance a consciência espiritual – viva liberto de valores (verdades) que estejam ligadas ao sistema humano de vida – é preciso ousar. A ousadia é a característica fundamental de todos aqueles que conseguiram promover a sua reforma íntima, ou seja, se libertaram da consciência material e com isso se fundiram com Deus, com o Todo.

Saiba você que diz estar buscando a espiritualização que a reforma íntima por parte de um ser encarnado acima de tudo é um ato de ousadia. Sei que é necessária muita coragem para ter a ousadia necessária para a espiritualização, como vamos ver hoje, mas é preciso tê-la, pois sem a ousadia não se realiza nada.

Qual o contrário de ousar? Acomodar-se. E o que é acomodar-se para um espírito que assumiu a responsabilidade de executar a reforma íntima, de realizar a busca espiritual? Viver como a humanidade vive, perpetuar a sua ação submisso aos papéis planetários, deixar-se guiar pelas verdades da consciência terrestre.

A acomodação acontece quando, mesmo de posse dos ensinamentos deixados pelos mestres, o ser humanizado continua vivendo como todo resto da humanidade, ou seja, continua balizando a sua existência dentro dos códigos de normas e comportamento impostos pela sociedade. Isso é acomodação e com essa postura nenhum ser humanizado realiza a sua reforma íntima.

De nada adianta conhecer profundamente os ensinamentos trazidos pelos enviados de Deus, saber citar capítulos e versículos dos livros sagrados, se o ser humanizado não ousar colocá-los em prática. Falo em ousar colocá-los em prática porque para praticar os ensinamentos é preciso não se acomodar, ou seja, ir contra a rotina da humanidade, contra as verdades que balizam os papéis humanos. Sem ir contra essas coisas, o ser encarnado jamais conseguirá realizar aquilo que se comprometeu em fazer.

 Para que você realize a sua elevação espiritual é preciso que vá além das regras societárias do planeta, viva liberto das obrigações que a consciência humana cria. Isso porque, afinal de contas, são essas regras e obrigações que preservam a sua humanidade, que tem como natureza íntima o egoísmo.

As normas e obrigações humanas são essencialmente egoístas e por isso não servem como caminho para a espiritualização, universalização. Aliás, como ensina o Espírito da Verdade:

75a) Por que nem sempre é guia infalível a razão? Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. (O Livro dos Espíritos)

Por isso é preciso ir além das regras das sociedades, dos preconceitos, das críticas e de todas as verdades pré-estabelecidas. É preciso ousar ir contra os sistemas pré-estabelecidos que há milhares de anos servem ao ser humano, ou seja, aprisionam o espírito na busca do bem material (as paixões e o prazer oriundo da satisfação dos desejos).

Sem a ousadia de buscar reformar a vida, vive-la liberto dos parâmetros humanos, livre da escravidão da mesmice humana que existe há séculos, você não vai conseguir realizar aquilo que se comprometeu. Ficará preso no igual ao que todo mundo vive e faz. Lembre-se: quem caminha igual chega ao mesmo fim do outro.

Portanto é preciso não se acomodar, mas para isso é necessário ousar ser diferente dos outros. Isso é fundamental para a reforma íntima.