“653. Precisa de manifestações exteriores a adoração? A adoração verdadeira é a do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar”.
Definimos adoração como uma relação amorosa extremosa com Deus. Agora Kardec pergunta: este amor com Deus precisa de atos materiais para ser comprovado? O Espírito da Verdade responde: não, Deus olha o interior de cada um, dentro de cada um. Aquele que ama a Deus apenas em atos, ou seja, pratica a lei de Moisés restringindo apenas suas ações ditas más ou pratica a caridade fisicamente por que acha isso importante, não está numa relação amorosa com o Pai, mas consigo mesmo. Isso porque está preso em fazer aquilo que acha certo, o que deseja fazer.
A adoração a Deus não pode ser, portanto, confirmada por ações físicas, mas deve acontecer no íntimo de cada um. Neste íntimo deve haver um sincero amor ao Pai e uma sincera sensação de ser amado por Ele a cada momento para que haja verdadeiramente uma adoração. Havendo isso, há a adoração, pouco importando que ação está praticando aquele ser humanizado naquele momento.
Ora, se no íntimo de quem pratica a verdadeira oração existe apenas o amar e o sentir-se amado, não há lugar para contrariedades. Não havendo, há paz e harmonia, ou seja, a felicidade que Deus tem prometido aos seus filhos. Eis aí uma forma de você verificar se a sua adoração é verdadeira ou não.
Pouco importa se você está na posição de lótus, se está concentrado, se as mãos estão com as palmas para cima ou em postas: nada disso garante que sua adoração seja verdadeira. Ao invés de se ocupar com posturas, verifique se no seu íntimo naquele momento você está em paz (sem críticas a nada nem ninguém) e harmonizado com o que está acontecendo (sem achar certo ou errado, bonito ou feito, bom ou mal). Se o seu íntimo estiver desta forma, não importa que palavras estejam sendo ditas ou que movimentos o corpo está fazendo, você está em adoração, pois está irmanado com o Pai numa relação amorosa.
“653a. Será útil a adoração exterior? Sim, se não constituir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam”.
Foi o que acabei de dizer. De que adianta você praticar atos, mesmo que eles sejam aparentemente meritórios, se por dentro está utilizando-se do egoísmo ou do amor próprio, ou seja, a vontade de fazer aquilo. De nada adianta isso para a elevação espiritual porque não reflete uma verdadeira adoração.
Quem faz o que quer, o que gosta, o que acha certo não está adorando a Deus, mas a si mesmo. Digo isso porque a sua adoração, ou seja, a sua relação amorosa é com as suas próprias verdades, consigo mesmo.
Isso precisa ficar bem claro para vocês que dizem que querem aproveitar a oportunidade da encarnação e realizarem o trabalho da reforma íntima que os aproxima do Pai e por isso vou repetir o que já disse: adoração não é reza, não é participação numa atividade mediúnica, mas ela existe sim quando há uma comunhão amorosa com o Pai. Ela só existe quando você comunga amorosamente com Deus em qualquer momento.
Se ela existe somente neste momento e se o que determina a existência da adoração é o amor e este não é ato, pouco importa que ação esteja fazendo. Amor é sentimento e por isso a adoração verdadeira só acontece quando há este laço entre você e o Senhor.
“654. Tem Deus preferência pelos que adoram desta ou daquela maneira? Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.
É hipócrita aquele que só pensa no ato exterior e não presta atenção ao seu interior quando o assunto é adoração a Deus. É hipócrita quem age assim, por exemplo, quando atende aqueles que possuam carências materiais, pois que engana a Deus (diz que está adorando ao Pai quando está adorando a si mesmo). Isso é hipocrisia.
Aliás, a hipocrisia chegou a tal ponto, que vocês hoje nem precisam mais sair do conforto de seu lar para poder ajudar os outros, ou seja, não há sacrifício algum na doação ao próximo. Isso porque caridade hoje pode ser feita por telefone.
Onde há adoração ao Senhor neste momento? Como foi ensinado, não se serve dois senhores ao mesmo tempo e por isso para se adorar a Deus é preciso não adorar a si mesmo, o seja, é preciso ir além do seu comodismo e de seus anseios. O que há no tipo de doação que citei é apenas a compra de uma consciência limpa e não um serviço ao próximo. O que há é a tentativa de se ludibriar a Deus dizendo que está amando o próximo, mas se este amor não existe realmente no mundo interno. Sendo assim, o ato de nada vale para a adoração a Deus.
Todo ato espelha o que vai por dentro do ser humanizado. O que espelha a ação daqueles que acham que apenas doar aos carentes é um ato de adoração a Deus é a satisfação de suas verdades e anseios. Por isso, esta adorar desta forma é hipocrisia.
“Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem ou ambicioso dos bens deste mundo”.
Quando se fala de bens deste mundo, muitos acreditam que se está falando de objetos ou dinheiro, mas isso não é real. Os bens deste mundo são tudo aquilo que pertencem à materialidade, sejam estas coisas materiais ou imateriais. O amor de um filho por seus pais, o amor de um homem por uma mulher ou vice versa, a pena que se tem dos que precisam: tudo isso é bem deste mundo. Satisfazer-se, ou seja, ter seus anseios e verdades atendidos também é um bem deste mundo.
Cristo nos disse que devemos buscar o bem celeste, o do outro mundo. Sendo assim, todas estas coisas não são realizações para quem busca a elevação espiritual. Portanto, achar que nestas coisas podem estar um ato de adoração é ser ambicioso com relação às coisas dele.
Portanto, de nada adianta praticar atos caridosos movidos por estes sentimentos, pois esta adoração não é a Deus, mas a si mesmo. A verdadeira adoração só existe quando o bem que se espera advêm do Pai e não da matéria.
“Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça”.
Quem vocês acham que mais conhece os ensinamentos mandados por Deus? Os religiosos, aqueles que tiveram acesso aos ensinamentos remetidos pelo Pai. A estes mais será cobrado.
Vocês já ouviram os mandamentos ensinados por Cristo? Acho que já… Então, sabem que devem amar ao Pai acima de todas as coisas, independente do seu querer, e que devem amar ao próximo como a si mesmo, ou seja, devem dar ao outro o direito de ser, estar, e fazer o que quiser que reclamam para si. Estes mandamentos comandam a sua vivência da vida? Acho que não, não é mesmo? Portanto, serão mais cobrados do que aqueles que nunca ouviram estes mandamentos…
Vocês já leram O Livro dos Espíritos? Acho que sim… Então, já leram que a adoração é interna e deve ser vivenciada através de uma comunhão amorosa com o Pai e não através da prática de determinados atos. Vivem com estas verdades? Olha que serão mais cobrados por isso do que os que nunca leram O Livro dos Espíritos…
Quem já leu estes ensinamentos precisa entrar numa relação incondicional com o Pai e não ter pena de pobres coitados que não tem o que comer. Só pratica a caridade com adoração verdadeira aquele que ao invés de pena ou dó dos que não têm o que comer vibram dentro do Amor divino.
“Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-ei; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão”;
“Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração”.
De que adianta cantar mantras, hinos religiosos, música gospel ou pontos da Umbanda sem amor no coração? De que adianta reza o Pai Nosso ou Ave-Maria sem ter amor no coração? Nada…
A adoração a Deus não é externa e por isso qualquer cântico ou prece declamada de nada vale para aquele que quer buscar a elevação espiritual.