Anteriormente tinha dito: existe um observador, um observado e uma observação. Só isso existe no Universo de cada um. Disse ainda: o observador é você…
Quando disse isso, não estava mentindo, mas não estava dando a explicação completa. Isso porque a sua identidade, o você que imagina ser, é falso. Tanto que disse depois: o eu que você diz ser é a mente. Ela é o eu: o eu que ri, chora, namora, que come e dorme…

Portanto, quando disse que o observador é você, não estava mentindo. Mas, você não é aquele que imagina ser.
Isso é importante de se salientar porque vocês estão querendo ser vocês mesmos, o observador, mas não conseguem. Não conseguem ser o observador porque ainda acham que a identidade gerada pela mente é vocês.
Na verdade, para a execução do trabalho, é preciso entender que o observador não é você. Não é que você não seja o observador, mas ele não é o você que acredita ser. Aquilo que vocês estão chamando de observador ainda é apenas a identidade gerada pela mente…
Este é o primeiro ponto que gostaria de deixar bem claro para poder introduzir um novo elemento em nossas conversas. O você que imagina ser é o você-mente, pois o você-observador não é conhecido por você mesmo. Na continuação desta conversa será entendido porque foi importante esse preâmbulo…
Além do observador, como disse, existe um observado… Quando dei a definição sobre estes elementos disse que o observado é a mente. No entanto, lembre-se de outra coisa que falei: não existe uma mente como elemento, mas apenas pensamentos. Os pensamentos são a mente; não existe um elemento chamado mente que pensa…
A partir disso, pergunto: porque chamo de observado o pensamento? Porque é isto que o observador deve observar. O pensamento é aquilo que é observado pelo observador…
Agora, se vocês repararem nas suas perguntas, nas suas dúvidas, nas suas preocupações, verão que não estão observando o pensamento, mas a observação, ou seja, a criação do pensamento. Vocês estão observando os fatos externos, os posicionamentos externos. Não estão observando estes elementos como criações da mente, como frutos do pensamento, mas sim como realidades…
O observador não observa o mundo externo. Ele observa a mente, o pensamento e não a ação, o outro, o carro, a casa, a falta de emprego… A diferença entre uma coisa e outra é muito grande…
Quem observa a falta de emprego, observa a falta de emprego. Quem observa o pensamento criando a ideia da falta de emprego, observa o pensamento. Quem observa a falta de emprego, vai observar o porquê não tem emprego, onde está errando e por isso não o tem o que precisa melhorar para poder tê-lo. Quem observa a mente criando a idéia de não ter emprego vai analisar o pensamento e não a falta de emprego.
Quem entende que o observado pelo observador é o pensamento e não o que vocês chamam de vida, está sempre buscando ver o pensamento que cria a ideia e não a vida, os acontecimentos ou o reflexo deles… Há uma diferença muito grande entre observar um pensamento que cria a ideia de não ter emprego e observar a falta de emprego…
Isso porque quando se observa o pensamento, observa-se uma história sendo narrada. Quando se observa a vida, a falta de emprego neste caso, se observa a ação da história. Quem observa a ação da história a vivencia…
É difícil deixar de sentir a falta de um emprego enquanto se viver a vida. Enquanto o observador for o eu da história, a falta de emprego será algo tangível, assim como o ter emprego, estar empregado, também… Neste caso é inexorável que se vivencie as emoções que a mente cria junto com estas situações…
É porque vocês não estão observando o pensamento, mas sim o mundo que aceitam como real um elemento que o pensamento cria: a vida… Ou seja, o conjunto de ações, percepções, sensações e emoções…
Já me perguntaram muito sobre emoções, mas quem se emociona? A mente? Não… O observador? Não… Na verdade não existe uma emoção. Toda emoção que a mente cria é uma observação que o observado cria…
A mente não sente uma emoção: ela cria a ideia de haver uma… Se você está analisando a vida, está analisando uma emoção, ou seja, observando uma emoção. Quando o observador observa o observado, ele observa o pensamento que constrói a emoção e não ela própria… A emoção não existe, pois ela é uma criação do observado, uma observação…
Falei tudo isso para poder introduzir um elemento novo na nossa conversa. Ele é conhecido do mundo humano. Chama-se: consciência… Ter a consciência de alguma coisa…
O que é ter consciência de algo? É ter um pensamento que crie a existência daquilo… Tudo que você-observador tem consciência de existir é um pensamento que cria a ideia daquilo existir. Na verdade aquilo não existe… Vamos ver um exemplo para entender melhor…
Neste momento o você-mente está agora sentado ou deitado dentro de um cômodo na frente do computador me ouvindo falar. Isso para vocês é uma realidade e é isso que observam. Mas, nada disso é real: nem você, nem a sua posição, nem o cômodo, nem o computador e nem o que está ouvindo. Cada um destes elementos é um pensamento gerando uma consciência, ou seja, criando uma realidade…
O você é uma consciência da mente, um pensamento. Você só se reconhece como você porque há um pensamento que diz: ‘Isso é você’… Se não houvesse, o observador nunca saberia nada sobre aquela imagem…
O corpo não existe. Na verdade o que existe é uma consciência criada pela mente, ou seja, a ideia de existir um corpo. O cômodo que você está não existe: o que existe é a ideia dele existir. Mas, como isso lhe chega como uma consciência e como você-observador não está atento ao pensamento que o cria, mas sim à própria consciência, ou seja, o que vocês chamam de vida, vivem o cômodo como algo real. Por isso passam a observar o cômodo e com isso não conseguem observar o pensamento. Neste momento, embarcam no fluxo das ideias e são levados a vivenciar tudo o que a mente continua criando…
Vocês já repararam na representação gráfica de uma gravação de som? O que ela contém? Linhas que sobem e descem… O que representa cada linha desta? Uma onda eletromagnética. Na verdade, a gravação de um som não é a gravação de uma palavra, mas sim de uma onda eletromagnética…
A partir disso pergunto: o que é voz? Uma onda eletromagnética… Então, você não ouve palavras, mas ondas eletromagnéticas… Pergunto, então: como cada onda eletromagnética se transforma em palavras, em coisas inteligíveis? Onde a onda se transforma em palavras? No pensamento…
Um pensamento capta uma onda que ele mesmo criou e a transforma em uma palavra. Depois vem outro pensamento que cria uma compreensão, diz o que representa aquela palavra. Ou seja, não há palavras: tudo é processo mental, é geração mental…
Sendo assim, você não está me ouvindo, mas tendo a consciência de ouvir algo. Você não está ouvindo, mas recebendo uma ideia de ouvir. Além disso, está recebendo da própria mente a ideia de ter determinada compreensão a partir daquela ideia…
Compreenderam? Não há mundo, não há vida para ser observada… O que existe é uma sucessão de consciências que a mente cria… Por isso anteriormente já tinha dito: quem vive a vida é a mente e não o observador…
O observador não vive vida porque não há vida para ele viver… Isso porque aquilo que vocês chamam de vida são consciências geradas pelo pensamento, ou seja, ideia de existir.
Isso é muito importante de se compreender. Como disse, esse trabalho é longo. Até aqui deixei vocês perguntarem do mundo à vontade, mas não vou mais fazer isso, pois não há mundo para se agir. Não se consegue ser feliz de verdade agindo no mundo, mas sim observando a mente.
Quando passo a observar a mente, o que é compreendido? Quando se observa o pensamento, o que é descoberto? Que nada está acontecendo… A única coisa que está acontecendo é um pensamento criando a ideia de estar acontecendo alguma coisa…
Será neste aspecto que iremos fala muito daqui para frente: não há nada acontecendo… Portanto, não adianta o observador querer observar acontecimentos. É preciso compreender que o que você chama de acontecimento é apenas uma consciência que a mente está gerando e o observador precisa observar o pensamento, ou seja, saber que aquilo é apenas uma consciência e não uma realidade…
Não sei se vocês se lembram, mas em Krishna estudamos o seguinte ensinamento: a faca não o fere, o fogo não o queima e a chuva não o molha. Porque isso acontece ao homem sábio? Porque ele sabe que não existe se molhar…
A água bate no corpo, ou seja, no observado e não no observador. Como o homem sábio sabe que o encontro da água com o corpo é apenas uma consciência gerada pela mente, ele não vive a próxima ideia, ou seja, o sentir-se molhado. Ele não se molha porque, além de saber que sentir-se molhado é uma consciência criada pela mente, sabe que ela é decorrência da consciência de haver um corpo, a água e do encontro das duas coisas…
Por isso, ao invés de viver o estar molhado, o homem sábio diz: a mente está molhada e não eu… Mas, isso só é possível porque a ação de molhar também foi interpretada como uma consciência e não como uma realidade, como acontecimento da vida. Se vivesse isso como real, fatalmente este homem se sentiria molhado…
Estar molhado é uma consciência gerada pela mente. Ela é vivida obrigatoriamente como real pelo observador quando ele acredita que existe um corpo, uma água e o contato entre eles…
Por isso o homem sábio não se preocupa em secar-se, em não sentir a água e nem em procurar um guarda-chuva. Ele preocupa-se sim em entender que tudo isso é apenas uma consciência gerada pela mente…
O homem sábio não se preocupa em observar o mundo externo porque ele sabe que este é apenas uma consciência gerada pela mente: a ideia de estar acontecendo aquilo. Quando tem essa compreensão, o homem sábio não se preocupa com o conteúdo do pensamento, mas em libertar-se da consciência gerada por ele…
Esta é a melhor forma de se libertar do prazer e da dor gerado pela mente e alcançar a verdadeira felicidade: saber que tudo o que é chamado de vida é apenas uma consciência gerada pela mente e não uma realidade… Enquanto não se entender que a vida é apenas um processo mental e não físico, estará se compactuando com a mente neste aspecto e libertar-se dos demais é quase impossível… Para estes o sofrimento e o prazer são inexoráveis.
Portanto, daqui para frente vamos bater muito neste aspecto: existe um observador, que não é você; este observador vive apenas pensamentos ou consciências que o pensamento cria; e é preciso entender que tudo é apenas consciência gerada pelo pensamento.
O observador, portanto, precisa compreender que tudo que existe são apenas consciências geradas pela mente e não coisas reais. A partir disso deve deixar de querer agir na consciência ou naquilo que vocês chamam de realidade…
Participante: seria deixar de ser um agente da vida e passar a ser um mediador dos conflitos gerados pela mente em forma de pensamento?
Deixar de ser o agente dos fatos da vida… Que vida, pergunto eu… Não, não é isso…
É deixar de achar que existe uma vida e um agente. Entender que a ideia de existir uma vida ou uma gente é apenas uma consciência…
Ser um mediador dos conflitos gerados pela mente…
Como você pode mediar alguma coisa, se para isso seria preciso que houvesse dois elementos em conflito? Não existem dois elementos: existe só o observador…
Na verdade, é só entender que tudo isso que você disse não é verdade, mas uma consciência…

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