Como vimos, para se alcançar a felicidade, quando a mente cria a idéia de estarmos doentes, não podemos compactuar com isso. Só que há outras coisas além do estar doente: preocupações, como com trabalho, com atividades, com compromissos…
‘Você ficou doente logo hoje, no dia que tinha que fazer tal coisa’? Essa é outra armadilha que a mente cria.

Não existe nada a ser feito. Tudo que acontece é a vida que faz. Isso é importante de se ter consciência para não se deixar levar por este pensamento-emoção de frustração por estar doente e não poder fazer aquilo que tinha programado realizar, não poder honrar os compromissos que tinha assumido.
Vou dar um exemplo. Aquela pessoa está desempregada há algum tempo e por isso já está ficando desesperada. Já pensou se ela consegue uma entrevista e fica doente exatamente naquele dia? Olha todo cenário que a mente cria para que esta pessoa aceite a história que ela cria: ‘Eu estou mal mesmo, acho que colocaram macumba em cima de mim… Não consigo uma entrevista e na hora que isso acontece vou ficar gripado, doente?’
Vocês estão muito preocupados em saber por que a mente é assim, de onde vem o que ela faz, mas isso não interessa. O que vocês precisam entender é a teia que a mente cria para lhes prender a ela.
Já reparam que quando vocês programam fazer algo que esperava fazer a muito tempo aparecem diversas outras coisas que vocês também queriam fazer? Já perceberam que quando conseguem programar-se para realizar algo que queiram aparecem muitas complicações à sua frente? Isso tudo são teias que a mente cria e você não pode se deixar levar por isso se quer alcançar a verdadeira felicidade.
É preciso trabalhar a libertação dos desejos, a idéia de que você não age, de que não quer, de que não vai ficar chateado, pois tudo isso é criação da mente. Isso vocês já me ouviram dizer, mas vou falar de uma nova coisa para trabalharem em si mesmos: precisam trabalhar a idéia de ter uma vida humana para viver…
Vocês não têm uma vida humana, não vivem uma vida humana… Quem vive a vida humana é a mente…
A mente é você e é ela que vive a vida que você chama sua… A vida não é sua: é da mente. Não é você que está aqui, mas a mente; não é você que lê, mas a mente. Você é quem? Não sei… Está onde? Não sei… Está fazendo o que? Não sei…
Você não dirige, mas sim a mente. Melhor: a mente é a idéia de estar dirigindo, pois não há um ato de dirigir. O que existe é uma idéia de estar dirigindo.
Você, além de não ver isso como uma idéia acha que é você que está fazendo… Você não faz, não é e não está… Tudo isso são elucubrações mentais, criações da mente.
Nenhum de vocês está me ouvindo agora, mas sim a mente. Quem está na frente do computador é a mente. Quem o desligará é a mente. Ou melhor, ela vai criar a idéia dele estar desligado, já que ninguém desliga nada. Não há ações a serem feitas.
Eu vou falar uma palavra que já falei para não ser usada, mas que preciso usar agora. No trabalho ‘Conhece-te a ti mesmo’, quando fomos explicar o ego, a primeira coisa que falei foi o seguinte: para entender qualquer coisa e realizar qualquer coisa, você precisa assumir a dupla personalidade: você e o ego. No caso de agora, precisa assumir a dupla personalidade você e a mente…
Você precisa distinguir muito bem quem é você nesta história e quem é mente. Quem é mente nesta história: tudo aquilo que você diz que é você. Quem é você? Nada que possa saber. A única coisa que pode saber é que não é o que a mente é…
Por isso falo em não compactuar com a mente. Mas, isso deve ser feito a nível geral, ou seja, tudo, e não pontualmente. Você não dirige, não anda, não faz sexo: tudo isso é a mente que faz. Apenas quando você não aceita que é a mente que está fazendo é que é você quem faz.
Como o espírito pode fazer sexo se ele não tem órgão sexual? Como você, o observador pode fazer sexo se ele é um ato físico e você não é corpo que veste?
Você não faz nada. Na verdade só tem uma coisa a fazer: observar a mente e compactuar ou não com ela. Quando você compactua é que ilusoriamente imaginará que é você que está fazendo o que ela faz…
Aproveitei este momento no tema estar doente para falar disso, porque o estar doente é isso. Atrás do sentir-se doente vem sempre uma série de cobranças da mente, mas, quem está doente é ela, quem não vai é ela, quem vai sentir-se frustrado por não ir é ela. Por que você tem sentir tudo isso se não é ela?
É a mesma história da doença: por que você tem que sentir-se doente se é a perna que está doente e você não é o corpo? É preciso que vocês separem bem claramente quem é você e quem não é.
Isso é um trabalho de vigilância. É um trabalho para ouvir o que a mente diz que você é. Ouvir o que a mente diz que você está fazendo, para poder responder: isso é mente, não sou eu. Não é ouvir para saber o que está fazendo, para saber o que está vivendo, mas para distinguir o que a mente está falando e assumir que tudo isso é ela…

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