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O ser humano hoje é obrigado a conviver com o mundo.
As sanghas no seu início, eram comunidades formadas por pessoas que abandonavam tudo e juntavam-se num mesmo lugar para juntos viverem uma vida diferente. Hoje isso é impossível. Dentro do mundo moderno o ser humano precisa viver inserido no mundo, pois existem coisas que não são mais acessíveis para aqueles que vivem isolados no meio do mato.
Sendo obrigados a viver com o mundo, a mente do ser humano está o tempo inteiro trabalhando valores para prender este ser à vida viciada. Vou dar um exemplo disso, mas antes deixe-me explicar como isso acontece.
O trabalho do ser, como estamos vendo no estudo ‘Em busca da felicidade’ é libertar-se das verdades que a mente produz. Como disse recentemente, quando ele não faz isso, a mente consegue envolvê-lo transformando o que é apenas uma formação mental numa realidade. Vou explicar mais claramente…
A mente produz pensamentos. Estes pensamentos contém afirmações sobre a coisas. Estes pensamentos não espelham verdades, mas apenas formações mentais, ou seja, a visão humana da coisa.
Quando o ser está desatento, ou seja, aceita o que a mente fala como verdade ou real, esta informação é arquivada naquilo que chamamos de memória. Ou seja, quando a mente diz que uma pessoa não presta e o ser não desacredita disso, esta informação ficará gravada na memória. No momento oportuno a mente usará esta informação.
Ela não apenas usará, mas mostrará que aquilo foi aceito como verdadeiro ou real pelo ser, para que ele mais uma vez não consiga libertar-se do pensamento. Em outras palavras, a mente vai dizer ao ser assim: ‘você mesmo aceitou isso como verdade’… Neste momento, para o observador da mente é praticamente impossível conseguir libertar-se daquele raciocínio, pois a lembrança de ter aceito aquilo não deixará.
Agora vou ao exemplo que queria dar. Se vocês tiverem condições financeiras, preferem comprar um produto de ‘marca’ conhecida ou desconhecida? Claro que é conhecida, mesmo que nunca tenha conhecido produtos daquela marca. Mas, porque a escolhe? Porque a propaganda lhe disse que aquela marca é boa, é a melhor…
Essa é a função da propaganda. Ela bombardeia a mente gerando verdades que o ser desatento aceita como real e depois, no momento certo, utiliza isso para manter a escravidão do observador ao mundo observado. E isso acontece o dia inteiro…
O observador, que não consegue apenas observar o dia inteiro, é bombardeado por informações o tempo todo que está consciente. É rádio, televisão, jornal, publicidade de rua, etc… A cada momento que o ser vacila na observação uma verdade se forma na mente e é arquivada na memória para depois ser lançada com a informação de aquilo foi aceito anteriormente.
Esse esquema mente/mundo, ou seja, formas/pensamento é muito difícil de ser detectado pelo ser que se propõe a ser apenas observador da mente. Como venho frisando, não há ninguém que consiga vinte e quatro horas por dia realizar a libertação da realidade criada pela mente.
Então, que solução há para isso? A primeira que nos vem á mente é fugir do mundo, mas isso, como já vimos no início, nos dias de hoje é impossível. A única outra saída é a sangha….
A comunidade daqueles que querem fugir do mundo, no momento da sua existência, proporciona aos que participam dela a oportunidade de esvaziar a memória, ou seja, de ver que aquilo que a mente diz só foi possível por causa de um vacilo do observador.
Vamos explicar isso melhor mais abaixo, quando falaremos do funcionamento das sanghas, mas por hora fica, então, a informação de que a comunidade dos que não querem ficar preso ao ciclo do prazer e dor existe para o ser ter a oportunidade de recarregar-se. Conscientizando-se das verdades que deixou criar, o observador se reforça para vencer as batalhas que a mente ainda o fará lutar.