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“Senhor, fazei-me um instrumento da vossa paz”.

Neste primeiro verso descobrimos um ponto fundamental para a vida: viver para ser instrumento de Deus. É isto que Francisco de Assis nos leva a compreender desde o início.


Quando pede para ser instrumento da paz de Deus (“vossa”) ele demonstra que não quer agir por individualismo, a partir de nenhuma vontade própria (ser instrumento da paz dele). Todo seu sentimento está voltado em ser vir ao Pai e por isto a única coisa que ele sente é o desejo de ser “instrumento” da paz de Deus.
A partir deste aspecto, para que possamos colocar a “Oração de São Francisco” como um guia para a vida, nós devemos compreender que, na visão do santo, há a necessidade de que cada um retire da sua existência tudo aquilo que acha, sabe, conhece (individualismos) da vida.
O sentimento que deve pautar a vida de cada ser humanizado é o desejo de ser simplesmente instrumento consciente de Deus. Falo em instrumento consciente, pois inconscientemente todos já somos.
Francisco de Assis, neste primeiro verso, portanto, não pede a Deus que seja feita a sua vontade, mas que o Pai o utilize para participar das ações do mundo servindo de instrumento consciente da Sua obra.
Neste pedido se reconhece a ação do sentimento básico para esta vida: fé. Pedir a Deus para ser conscientemente instrumento do Pai e entender o mundo como ação de Deus (emanação divina) é o exercício da fé: confiança total e entrega absoluta a Deus.
Exemplifiquemos. Francisco apesar de gostar dos bichos não acusava quem os maltratasse. Socorria os feridos, ajudava-os, mas nunca criticava quem agia como instrumento de Deus promovendo ações que “ferissem” os animais.
Se ele assim fizesse estaria vivendo a sua vontade de que os bichos não fossem machucados. Vivendo com estes sentimentos teria que criticar e atacar aqueles que agissem provocando danos aos animais. Esta forma de proceder demonstraria a não compreensão da ação de Deus (Causa Primária de todas as coisas): tudo emana de Deus.
Ele não podia condenar os agentes do carma dos bichos, pois desde o início da sua oração declara: “Senhor, fazei de mim um instrumento de SUA paz”. Se atacasse quem foi o agente carmático do ferimento nos animal, Francisco estaria exercitando a não entrega, ou seja, a não concordância com a emanação divina.
Francisco quer levar a paz de Deus ao mundo (consciência da ação carmática emanada por Deus como fonte de elevação espiritual), não a guerra (a luta pelo prazer, pela realização dos desejos individuais frutos de paixões humanas). Por isto abre mão de retaliações, mesmo que por pensamento.
Caso alguém houvesse machucado um animal, Francisco se preocupava em socorrê-lo. No entanto, para isto não precisava abrir guerra (crítica, acusação) contra quem o machucou. Agia em socorro e defesa dos animais, mas não reconhecia na ação um mal nem outro causador a não ser o próprio Pai.
Isso é fazer a paz de Deus: amparar, auxiliar, ajudar quem está vivendo a sua ação carmática, mas sem críticas alguma a ninguém como instrumento causador de maldade, ou seja, compreendendo que ação provêm de Deus e não do homem e por isto é justa e necessária.
Esta também deve ser a forma como cada espírito ligado a um ser humano deve viver a sua encarnação. Se ele passa em uma esquina e lá se encontra alguém passando fome, deve ajudá-lo.
Pode servi-lo dando um prato de comida, levando-o para casa, dando banho, auxiliando-o a conseguir um emprego, ou seja, fazendo tudo que estiver ao seu alcance, mas jamais destruindo a paz de Deus (o que está acontecendo), criticando a sociedade, o presidente da república ou qualquer outra pessoa de ser o “culpado da situação daquele ser humano”.
Isto é servir de instrumento a Deus para levar a paz. Levar a felicidade a quem sofre (passa por uma ação carmática que o desgosta) sem que para isto seja necessário guerrear contra os outros que levam, aparentemente, vantagem sobre a situação daquele que está sofrendo.
Nesta primeira frase da oração, portanto, entendemos que o sentimento básico para se ter todas as outras coisas é a fé e que, a partir do momento que haja esta entrega com confiança a Deus, o ser humano simplesmente age para ajudar ao próximo sem colocar nenhum dos seus individualismos em ação.
Sem colocar nenhum acento a mais no que Deus escreveu, sem colocar uma letra para dizer o que acha individualmente da situação.
Agindo dessa forma o espírito ligado ao ser humano estará levando a paz de Deus àqueles que precisam da paz, ou seja, todos: tanto os que estão na situação chamada de sofredora quanto àqueles que a humanidade acusa como causador da situação.
Todos precisam da paz de Deus, ou seja, da compreensão da emanação divina. Guerreando contra aqueles que estão fazendo a ilusória maldade os espíritos não estarão levando esta paz a eles. Criticar alguém por não fazer nada para ajudar os necessitados e imaginar que por isto outros passam fome, não se leva a paz de Deus.
Quem guerreia acusando outro ser humano como agente da situação, direta ou indiretamente, busca implantar a sua paz, ou seja, estabelecer as suas condições individuais para o mundo. Agindo desta forma, o espírito estará levando para as pessoas a palavra que ele queria e não as de Deus.
Para se levar à paz de Deus aos homens é preciso que ela seja levada para todos os envolvidos no episódio. É preciso auxiliar a todos: aquele que está passando pela situação de necessidade e aqueles que, direta ou indiretamente são os causadores da situação.
Agindo assim o ser humanizado auxilia a Deus, pois ama a todos de uma forma equânime, de maneira igual. Agora, socorrendo um e acusando outros, age preso no individualismo, no que quer, no que acha correto a partir da sua compreensão limitada sobre os acontecimentos da vida.
Portanto, na sua vida, pare de achar culpados. Para de colocar culpas em outras pessoas. Para culpar alguém há a necessidade de se criticar e quem age dessa forma não será um instrumento da paz de Deus, mas do que ele quer (paixões e desejos individualistas).
Auxiliar um criticando outro não é um ato de caridade, mas uma guerra de domínio para que se consiga impor a paz individualista (contentamento de paixões).
Participante: a palavra individualismo nunca foi tão entendida como agora.
Eis aí o grande problema da humanidade: o ser humanizado que se baseia naquilo que quer para vivenciar o mundo. Viver o que acha, saber apenas o que sabe: nesta forma de vivenciar as situações do mundo se denota o individualismo.
Para se aproximar de Deus, conectar-se com Ele, não se pode estar individualista. Só na hora que você abandona todo o seu saber e querer é que pode alcançar o universalismo, ou seja, Deus.
Enquanto você souber não compreenderá Deus agindo.

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