Um dos elementos para a caminhada terrestre rumo à unidade com Deus ensinado por Sri Krishna é a equanimidade. Se consultarmos o dicionário, encontraremos como definição para este termo “igualdade de ânimos”, ou seja, quando nos animarmos em qualquer situação, seja ela considerada positiva ou negativa, da mesma forma.
Ser equânime é libertar-se do prazer e da dor. É não vibrar por conquistas nem cair no abismo do desespero ou da depressão nas perdas. Em resumo, ser equânime é não ter emoções.
No entanto, para nós, ocidentais latinos, eu acredito que isso é quase impossível. Somos considerados sangue quente, ou seja, temos nossas emoções à flor da pele. Se nós ganhamos, vibramos intensamente; se perdemos, sucumbimos profundamente. Como, então, por em prática este ensinamento? Vivenciando uma única emoção: a apatia.
Se os orientais conseguem sufocar todas as suas emoções e nós, por carma pessoal, não conseguimos, precisamos, pelo menos, encontrar uma emoção que nos leve a aproximar de Deus. Esta emoção é o que eu chamo de apatia.
Portanto, vejo como caminho para a nossa busca de elevação o ser apático às coisas do mundo. Para mim, ser apático às vitórias ou derrotas é o caminho do meio que pode nos levar a vivenciar nossa plenitude espiritual encoberta pela ação do ego.
No entanto, quando se fala em apatia muitos imaginam frieza, mas não é disso que estou falando. Não estou dizendo para ficar indiferente ao mundo, mas lidar com ele sem deixar-se levar pela exaltação ou pela dor. Ser frio é não ligar para o mundo; ser apático é lidar com as coisas de uma forma diferenciada.
O apático não está alheio às coisas do mundo. Pelo contrário, ele está atento a elas, mas não as vivencia com as emoções humanas (dor/prazer). Isto porque o apático às coisas do mundo é ligado na emoção oriunda da glória de Deus. Ele não vive friamente, mas vivencia as coisas do mundo com a emoção espiritual e não com as materiais.
O apático não lida com pessoas ou objetos, mas deuses emanados; não vivencia acontecimentos, mas emanações de Deus. O apático é aquele que encontra em todas as coisas a Causa Primária se pronunciando com Justiça Perfeita e Amor Sublime. Se tiver emoção é ser quente, o apático ferve com o amor de Deus que ele vivencia em tudo.
O apático se regozija na glória de Deus. Sei que esta frase pode ser considerada por muitos como cafona, inculta. Aliás, já vi inclusive textos que buscavam ensinar coisas espirituais onde o autor iniciava falando que não se preocupassem, pois ele não iria falar em Deus ou em Cristo, como se apenas a própria cultura fosse o suficiente para levar o espírito à vitória durante a encarnação. Ledo engano.
O mais alto grau de elevação espiritual que um ser pode alcançar é quando ele se funde numa comunhão amorosa com o Pai. Quando o espírito amar a Deus e sentir-se amado por Ele o tempo inteiro funde-se naturalmente ao Universo sem necessidade de qualquer conhecimento teórico. Aliás, como Cristo ensinou, “louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde do sábio”.
O apático é simples, porque para ele só existe Deus e seu Amor em ação. Para ele tudo o que acontece é fruto do Amor de um Pai olvidando todos os esforços para que o seu filho possa alcançar o mais alto grau de elevação espiritual: a comunhão com o Todo. Portanto, bem aventurado o apático.

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