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Alguém colocou muito bem: o não da vida é uma contrariedade. É o momento em que você fica contrariado com o que está acontecendo.
Isso é um não da vida: quando quer ir pela direita, não consegue e se contraria com isso. A contrariedade surge mesmo que vá pela esquerda, dê uma volta e chegue no mesmo lugar. O chegar não importa; se sente contrariado por não ter ido por onde queria.
Essa é a primeira ideia que precisamos ter: sofrimento não tem nada a ver com dor profunda. Qualquer coisa que vá contra ao que quer, ao que acredita, ao que imaginava que fosse acontecer, é uma contrariedade, por menor que seja.
‘Eu queria ir com aquela blusa, mas está lavando’, isso é uma contrariedade. ‘Queria pôr uma meia, mas não sei onde a coloquei’, isso é uma contrariedade.
Outro detalhe: toda contrariedade é como se fosse um câncer.
O que é um câncer?
Participante: é uma célula morta que vai se multiplicando.
Não é morta. Ela é bem viva.
Participante: segundo o senhor o câncer é uma célula que não aprendeu o que fazer.
Isso. Mas ela funciona como?
Participante: desordenadamente.
Ela funciona ao contrário das outras, destruindo-as.
A contrariedade é isso. Quando contaminado se não toma um remédio, não mata essa célula, ela vai destruir outras. Esse é o problema.
Sabe, não colocar uma blusa que quer, parece que não tem o menor problema nessa vida. Coloca outra. Mas tem. Por quê? Porque não colocar a blusa que quer tem um problema?
Participante: acha certo ir com aquela.
Não. Por quê?
Olha o que disse: o câncer é uma célula que ataca a outra.
Por quê? Porque vai ser criado um culpado da blusa não estar lá: a esposa, a empregada ou você mesmo que não a lavou a blusa. Olha a célula cancerosa destruindo a sua paz, acabando com a paz na relação com outro.
Participante: é o câncer agindo.
É o câncer agindo destruindo as células da paz.
É isso que qualquer contrariedade faz. Pode parecer uma coisa sem problema, sem importância, mas quando permite que essa célula se interiorize, ela vai começar a atacar as outras.
Se fosse só essa contrariedade não haveria problema, mas vocês têm diariamente muitas contrariedades. Elas vão se somando até que chega um dia que você não aguenta nem mais olhar para a cara da sua mulher, da sua empregada ou da sua a roupa que quer nunca está lavada.
Desculpa, se acha que isso não acontece pode brigar comigo. Pode dizer: ‘não Joaquim, você está falando mentira’.
Sabe aquela pessoa que não anda na calçada que você quer. Essa contrariedade vai acumulando, acumulando, acumulando e um dia se for pedir um martelo emprestado, manda enfiar antes da resposta dela.
Refere-se a uma estória contada anteriormente:
Um homem queria pendurar um quadro. O prego ele já tinha, só faltava o martelo. O vizinho possuía um, e o nosso homem resolveu ir até lá pedi-lo emprestado.
Mas ficou em dúvida:
“E se o vizinho não quiser me emprestar o martelo? Ontem ele me cumprimentou meio secamente. Talvez estivesse com pressa. Mas isso devia ser só uma desculpa. Ele deve ter alguma coisa contra mim. Mas por quê? Não fiz nada! Ele deve estar imaginando coisas. Se alguém quisesse emprestar alguma ferramenta minha eu emprestaria imediatamente. Por que ele não quer me emprestar o martelo? Como é que alguém pode recusar um simples favor desses a um semelhante? Gente dessa laia só complica a nossa vida. Na certa, ele imagina que eu dependo dele só porque ele tem um martelo. Mas, agora chega!”
E correu até o apartamento do vizinho, tocou a campainha, o vizinho abriu a porta. Mas antes que pudesse dizer “Bom Dia”, o nosso homem berrou:
“Pode ficar com o seu martelo, seu imbecil!”
Essa é a importância da contrariedade, ou seja, dos nãos que o mundo diz: eles vão se juntando, se aglomerando, dentro de você e de repente como um vulcão explode tudo. E aí, o que seria algo muito pequeno torna-se uma enormidade.