Agora sim podemos falar como agir quando a contrariedade vem.
Há dois tipos de ação que o ser humano pode fazer para não se contrariar: a primeira é agir no mundo externo, a segunda é agir no mundo interno. As duas ações não acontecem juntas.
Agindo no mundo externo.
O homem pode, por exemplo, lavar a roupa que quer usar e não está disponível. Mas, será que tem tempo de esperar lavá-la, secá-la e passá-la? Pode buscar outro caminho para ir para o trabalho, mas será que conseguirá encontrar um que não esteja congestionado? E se encontrar, será que a volta que dará realmente tornará a viagem mais rápida?
Pensar em escapar da contrariedade alterando o mundo externo é uma pretensão que na maioria das vezes não dá certo ou não é possível fazer. Isso porque o homem imagina que pode alterar a sua vida do jeito que quer, mas a fatalidade está aí para provar que não é bem desse jeito.
Quantas vezes programamos tudo para que um determinado acontecimento ocorra de tal forma e nada sai do jeito que queremos, não é mesmo? Aí inevitavelmente surge a contrariedade. Quantas vezes elaboramos até um plano para que a vida atenda nossas expectativas, mas, ou dependemos de alguém ou de algo que não temos naquele momento.
Portanto, tentar alterar ou gerir o mundo externo para que a contrariedade não aconteça não é certeza de vitória. E, se não podemos agir no mundo externo, para não vivermos uma contrariedade, só podemos, então, agir no mundo interno.
Agindo no mundo interno
O mundo interno são nossas vontades, desejos, esperanças que os acontecimentos da vida transcorram de determinada forma.
É a esperança de sair com uma determinada roupa, de chegar cedo em casa para estar com a família, de ficar quieto no seu canto sem receber visitas naquele dia. São nesses desejos que estão dentro de nós que podemos influir para não deixar a contrariedade se estabelecer.
Mas, como agir neles? Será que podemos deixar de desejar, deixar de esperar alguma coisa na nossa vida? A resposta é não. O desejar, ter vontade e esperança que as coisas aconteçam de determinada forma faz parte da natureza humana e o homem não consegue viver sem isso.
Como agir, então? Constando a realidade.
‘Sim, eu queria ir com aquela roupa, mas ela não está disponível. O que eu posso fazer’? ‘Sim, eu pretendia chegar mais cedo em casa, mas o trânsito está congestionado. O que fazer’? ‘Sim, eu pretendia descansar, mas essas pessoas chegaram na minha casa. O que posso fazer’?
Repare nas ideias que usamos como exemplo. Veja que o desejo de alguma coisa, que é inerente à natureza humana, permanece, mas ele é confrontado com a realidade. Constatando que nada há que possa ser feito para que a vontade aconteça, destrói-se a força do desejo. Enfraquecido, ele não deixa que a contrariedade se instale.
Para evitar que a contrariedade se instale dentro de cada um e germine novos sentimentos que acabam com a paz, o homem precisa ser extremamente lógico. Precisa desenvolver um raciocínio que mostre que não há nada que possa fazer naquele momento para alterar o acontecimento que está vivenciando. Por isso de nada adianta lutar contra vida.
Mais. Dentro da lógica o homem precisa mostrar a si mesmo a inutilidade do sofrimento. Sofrer, se contrariar, faz a roupa aparecer, faz o trânsito fluir, evita que as visitas venham?
Aquele que não é lógico, ou seja, aquele que ainda sonha que poderia fazer o que não está fazendo ou que a contrariedade pode resolver algum acontecimento, se contraria e com isso a paz logo vai embora.