Participante: outro dia estava vendo um vídeo do Prem Baba. Ele disse que quando a gente está sentido alguma coisa desconfortável temos que observar de fora e buscar em algum momento que vivemos no passado. Queria entender um pouco isso: como a gente consegue observar de fora o sentimento, sentir e analisar aquilo.
O olhar de fora o sentimento é uma coisa muito difícil para vocês, pois nunca conseguem olhar de fora para dentro.
Olhar de fora um sentimento é descobrir porque está sentindo aquilo. Você falou de “uma situação desconfortável”. Para olhar de fora teria que pesquisar o porquê está sentindo o desconforto naquele momento? O que levou a se sentir desconfortável?
É preciso olhar desse jeito para entender que na verdade o desconforto que está sentindo agora não é causado por algo interno, mas decorrente de alguma coisa externa. Por exemplo: está se sentindo confortável agora porque está com seu filho no colo. Mas, e no momento que não estiver com ele no colo, vai perder o conforto?
É preciso olhar de fora e descobrir que o conforto ainda é causado por alguma coisa, ou seja, é resultado de alguma coisa material e não uma opção sentimental. Quando descobre que tem um sentimento causado por alguma coisa é preciso conversar consigo mesmo e dizer: ‘preciso me sentir confortável mesmo não tendo o meu filho no colo’. Aí buscar ficar confortável, mesmo que o momento não corresponda àquilo que lhe satisfaz.
É preciso aprender a não ter a dependência de nada desse mundo para se sentir de determinado jeito. Esse é o trabalho, mas para isso precisa sair de você e observar a emoção como criação da mente a partir de acontecimentos externos.
O problema é que quando sentem alguma coisa, ao invés de mergulharem em si, olham para fora, ou seja, atribuem o que estão sentindo ao que está acontecendo externamente. Isso faz automatizar uma emoção, ou seja, viver sempre aquela emoção quando externamente estiver acontecendo a mesma coisa. É preciso mergulhar naquilo que a razão diz que está vivendo naquele momento e descobrir a origem do que está sentindo, ao invés de se entregar a emoção proposta pela razão.
Só que ao invés de fazerem esse trabalho, se entregam a sentir o que a razão cria. Quando chega um outro momento, não conseguem se desvencilhar da emoção criada pela razão, porque estão acostumados a viver o que ela cria. Por isso acabam sofrendo quando poderiam não sofrer.
Esse é um trabalho bom. Só que ele não deve ser realizado para gozar o que está acontecendo e sim no sentido de se preparar para amanhã não sofrer quando não mais tiver o instrumento do gozo.
É o que venho dizendo há quase vinte anos: é preciso aprender a viver a vida, viver o que a vida acontece. É viver sem deixar que a vida lhe leve a ser alguém, sentir determinada coisa ou fazer algo.
A escolha emocional não pode envolver extremos, mas equanimidade. Krishna diz que temos que ser equânimes: ter um único sentimento para tudo. Para poder viver assim é preciso tornar-se independente do que está acontecendo.
Este é o trabalho.