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“Onde houver ofensa que eu leve o perdão”.
Ofensa é sentimento que denota um individualismo ferido. Um espírito só se sente ofendido quando o que acha, quer ou gosta, não acontece.
Novamente a mesma situação humana do verso anterior: individualismo ferido. Desta vez, porém, para contrapor a este procedimento do espírito humanizado Francisco pede a Deus que ele seja instrumento do perdão. Portanto, precisamos compreender o perdão para encontrar a forma de vida sugerida na oração.
Para os seres humanizados perdoar é uma coisa muito fácil, mas até hoje não conheço ninguém que tenha perdoado de verdade, a não ser aqueles que alcançaram a evolução espiritual. Isto porque para os seres humanizados perdoar é deixar de dar o castigo a quem merecia recebê-lo.
Alguém pisa no seu pé, por exemplo, você sente dor, sofre, acha errado ter recebido a pisada, mas o perdoa, ou seja, não pisa no pé dele de volta.
Pelo exemplo acima podemos, então, afirmar que se alguém fez alguma coisa “errada”, você o perdoa dentro da visão humana, ou seja, não o castiga, mas continua afirmando que houve um erro, algo que não deveria acontecer ocorreu.
Neste caso não houve perdão de verdade. Apesar de você aparentemente não haver castigado o agente da situação, ainda continua acontecendo um castigo, mesmo que não físico: a crítica, a acusação.
Você não o perdoou de verdade porque vivenciou uma crítica, um apontar de erro, que também é um castigo. Perdão é mais do que não penalizar fisicamente. Perdão é o que o Cristo ensinou na cruz: “Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem”.
Se analisássemos a intenção de cada um durante os acontecimentos, eu diria que ninguém faz nada errado, pois todo mundo age partir de uma convicção individual de que o que está fazendo é correto. Mesmo os que ferem a lei fazem consciente de que a estão ferindo, fazem porque acham que sabem o que estão fazendo. Ou seja, possuem motivos para agir desta forma que lhe dão a convicção que estão certos. Um bandido, por exemplo, sabe que é errado roubar, mas ainda assim cai no delito porque não tem como se sustentar, porque precisa alimentar sua família, etc. Ou seja, ele encontra motivos que para ele são reais para agir.
Se eles fazem movidos por uma convicção individual não deveriam merecer a crítica, pois, para eles, estão certos ao agir dessa forma. Eles não agiram errados, pelo menos a partir do seu ponto de vista.
Quando Cristo na máxima afirma eles não sabem o que fazem está dizendo exatamente isto: ‘Pai, eles estão agindo imaginando que estão ‘certos’, mas nós, eu e Você, sabemos que eles são apenas instrumentos da Vossa vontade’.
Portanto, perdoar não é só simplesmente deixar de castigar, mas nem ver erro, ou melhor, perdoar é dar ao próximo o direito dele estar certo a partir do seu ponto de vista. Não encontrar nada errado no que as pessoas fazem, ou melhor, não julgar as pessoas pelo seu ponto de vista é perdoar. Para isto é preciso que o seu pensamento seja este: ‘ele praticou a ação achando que estava ‘certo’ e agiu em nome de Deus. Por isto, eu me eximo em dizer se ele está ‘certo’ ou errado’’.
Quem age faz o que tem que ser feito: não há nada a ser criticado. Quando a humanidade compreender isso, não precisará ficar ofendida e aí as críticas aos outros acabarão e o verdadeiro perdão surgirá.
O perdão real surge da utilização da igualdade, sentimento que forma o amor universal.. Esta igualdade é que leva à liberdade de cada um.
A igualdade que estamos nos referindo não se refere à formação de cópias (todos serem iguais a você), mas no direito de cada um ser diferente do outro. Quando utilizada, a igualdade leva o espírito a conceder ao próximo a liberdade dele fazer e ser o que quiser, sem que por isto seja alvo de críticas ou acusações.
Viver com este sentimento, ou seja, ver os acontecimentos dentro desta realidade é amar e perdoar, pois perdão é amor.
Cristo ensinou que precisamos amar ao próximo, ou seja, nem ver erro no que ele está fazendo. É para cumprir esse mandamento que São Francisco de Assis está pedindo a Deus que leve àqueles que se sentiram ofendidos a compreensão de que ninguém faz nada errado.
Pede para que seja instrumento para ensinar que todos agem por uma motivação pessoal (individualismo), mas que só chegaram a agir frente à determinada pessoa porque esta precisava e merecia (carma) alguém que provocasse aquela situação.
Se este ser humano não houvesse gerado a necessidade da ação carmática ninguém poderia ter agido de tal forma. Assim, se existisse um culpado naquele momento, era o próprio espírito humanizado que, em momentos anteriores, criou para si este merecimento e não o próximo que foi mero instrumento para dar àquele o que seu merecimento.
A lei do carma é inexorável. Se não fosse aquela pessoa seria outra, mas o carma não deixaria de acontecer e para isso seria preciso um instrumento para criar a situação carmática.
Ensinar isto a quem se sente ferido é levar o perdão. Para isto é preciso dizer ao próximo que estiver ofendido: Pare de acusar os outros. Aprenda: ele é instrumento de Deus. Foi Deus quem realizou a situação na sua vida. Apenas utilizou-se daquele espírito como instrumento.
A ação do próximo como instrumento do carma do ser humanizado foi transmitida claramente através de O Livro dos Espíritos na pergunta 132:
“Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.
Isto é levar o perdão onde houver ofensa. É chegar para aquele que está passando fome e dizer: ‘ninguém está agindo contra você. Não há motivos para acusar alguém da sua situação nem porque ficar ofendido. Quem está criando a situação que você está vivenciando é Deus. Não se ofenda, não se magoe, não se deixe levar pelo individualismo’.
Estamos falando de atitude moral, sentimental. Com relação à atitude materiais, você pode até dar um prato de comida, mas de nada adianta você alimentar quem necessita sem ensinar isto a ele, sem levar a palavra de Deus. Relembremos mais uma vez o Cristo: nem só de pão vive o homem.
Quando você dá apenas o peixe, sustenta a barriga, mas não sustenta o espírito. Com raiva essa pessoa vai ter dor de barriga; ofendido, terá problemas estomacais como resultado do sentimento que está nutrindo.
Aí você afirma que a doença do faminto é verme, que ele é doente por que é mendigo, mas não é nada disso. Simplesmente a ofensa que ele está carregando dentro de si é que está lhe fazendo passar mal.
Levar a paz de Deus a quem está ofendido é dar ao outro a compreensão de que as pessoas são instrumentos da vontade divina e que por isso tem que ser perdoados. Mesmo quem recebe uma lança enfiada na barriga, mesmo quem pede água e recebe fel, precisa perdoar, precisa aprender a perdoar, ou seja, descobrir que o acontecimento ocorreu porque ele precisava (reação carmática) e merecia (nova oportunidade para amar a Deus acima de todas as coisas) aquilo que está acontecendo.
Pergunta: Por que a raiva para um é luxo e para outro veneno?
Depende do ‘prazer’ que você sente ao ter raiva. Se você gosta de ter raiva, será um luxo. Agora se você não gosta, será um veneno.
Pergunta: O senhor disse que nós escolhemos os nossos amigos espirituais para passarmos por nossas provas espirituais mais difíceis. Pedimos para nossos amigos servirem de instrumentos para nós. Apenas esquecemos de nossos pedidos quando estamos encarnados. Perdoar e lembrar que amamos nossos queridos irmãos que servem de instrumento de Deus e amá-los sem lembranças mesmo é o que devemos fazer?
Sim, isso é prova de fé.
Pergunta: Já que você afirmou que Francisco de Assis já reencarnou, seria possível saber quem ele foi?
Isso é simples curiosidade, não há necessidade de ser respondido, pois em nada influencia na elevação espiritual.
Pergunta: Joaquim nos fala de São Francisco de Assis, de Jesus Cristo e nós, pobres espíritos, fomos educados num sistema totalmente longe da santificação. Isso não é “areia demais para o nosso caminhão”?
Você já leu a história de São Francisco? Ele também foi educado longe da santidade, talvez mais do que você, pois era rico, senhor de terras e nobre. Foi criado para seguir a tradição da família.
Você já leu a história de Jesus? Ele também não nasceu santo. O problema é que nós só conhecemos o santo depois que alcança a santidade. Por isso não entendemos que ele também teve que vencer suas batalhas para alcançar este estado de espírito.
Dessa forma, se Chico Xavier, Chico de Assis, Jesus, Joana D’Arc, Santa Clara, conseguiram vencer o mundo, como Cristo disse que venceu, você também pode. É tudo uma questão de decisão, ou seja, decidir o que quer para a sua vida.
Decidir com que base vai vivenciar a sua vida, mas principalmente abrir mão de outros caminhos. A partir do momento que você decidir buscar uma vida São Francisco, precisa abrir mão do prazer de ser contentado, senão não conseguirá. Esta afirmação pode ser comparada simbolicamente ao ato de São Francisco retirar as roupas caríssimas e colocar o saco de estopa.
No entanto, estamos citando este ato de Francisco de Assis figuradamente: você não precisa abandonar sua casa, suas propriedades nem sua roupa. Agora, você deve abandonar todas as suas posses (ter verdade sobre as coisas) e realizar sua santidade.
Pergunta. Concordo, mas para isso é preciso uma ajuda de cima.
Essa ajuda acontece cada segundo na vida humanizada do espírito. A cada micro fração de tempo existe uma pergunta de Deus que lhe ajuda a viver assim: ‘e agora, você vai amar a quem, a você ou a Mim’?
Cada segundo da sua vida é uma dramatização onde está embutida esta pergunta de Deus. Quando você gosta do que acontece e ama a você mais do que a Deus, tem prazer; quando você não gosta e se ama acima de tudo, sofre; mas, se você ama a Deus acima de todas as coisas, vive sempre em paz: sem prazer ou dor.