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Para poder se alcançar a verdadeira liberdade é preciso viver a vida, que chamarei de impessoal.

Na vida impessoal não existem individualidades se relacionem. Essa forma de existir é universal, já que na existência real, aquela que existe além da matéria carnal, não há personalidades, pessoas, um eu, sob forma alguma. Se não existe um eu, o agente ou receptor de uma ação, não existe o próprio agir. Não existe ação, mas apenas vida.

Só vivenciando a vida sem agente e receptor e sem a ação em si é possível vivenciar a liberdade irrestrita. Vou dar um exemplo.

Na vida pessoal, nesse momento, a consciência é de que Joaquim está falando e você está ouvindo. Essa é, nesse momento, a vida daqueles que vivem uma vida pessoal. Na impessoal, não há você, Joaquim, falar ou ouvir. O que existe apenas é a própria vida.

A vida é o que está acontecendo e não a ação de alguém, o acontecimento.

Quando se entra numa vida impessoal, ou seja, quando apenas a ação existe como a própria vida, o egoísmo não possui mais campo para agir. Ser egoísta é defender seus próprios interesses acima do de outras pessoas. Ora, se não existem mais personalidades que praticam ação, não há mais interesse próprio a ser defendido. Em uma vida impessoal você deixa de ser o atingido e o outro o agressor e deixa, também, de buscar a si mesmo acima dos outros.

Parece que estou falando novidade, mas quantas vezes em nossas conversas disse que a vida vive a vida. A vida é a vida e não o resultado da ação de personalidades. Não há um você para agir na vida nem alguém para sofrer o resultado da sua ação, pois você, o outro e a própria ação são a vida. Para silenciar o eu, para silenciar o egoísmo é preciso assistir a vida como vida e não como a soma de acontecimentos onde seres ou pessoas participem.

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