Participante: se o senhor disse que não devemos nos preocupar com a vida espiritual, o que vocês estão fazendo aqui no meio da gente?
Não disse que não deve se preocupar com ela. Disse que não deve perder tempo querendo conhece-la.
Na verdade, deve se preocupar com a vida espiritual, já que o seu futuro é essa vida. Só que quem realmente se preocupa com esse futuro dedica o seu tempo a vida de agora, porque aquela depende dessa.
Então, não é não se preocupar. Quando falei em não se preocupar com aquela vida disse no sentido de não querer saber como é lá, o que acontece lá. Querer conhecer coisas espirituais: essa é uma preocupação que não deve ter.
Nós estamos aqui em dois sentidos. Primeiro no de alertar aos encarnados de que não mais basta provar que quer unir-se a Deus. Segundo que agora mais do que nunca é hora de realizar esse trabalho. Para isso é preciso dedicar-se a conhecer a forma humana de viver para, então, fazer o trabalho íntimo de libertação desse modo.
Participante: então não devemos também nos preocupar com a possibilidade de vocês interferirem de alguma forma na nossa vida.
Impossível alguém interferir na sua vida.
Você possui o livre arbítrio que Deus lhe concedeu. Não tenho a menor pretensão de quebra-lo. Deus lhe deu e eu respeito o Pai. É por isso que lhe dou o direito de ser, estar e fazer o que fizer.
Um dia me perguntaram: se você vê alguém com uma arma na cabeça o que faz? Respondi: digo, boa morte. Ele quer se matar, porque eu vou lá fazer alguma coisa? Seria um desrespeito, uma falta de educação interferir no direito do próximo.
Participante: mas esse livre arbítrio é na outra vida. Aqui não há livre arbítrio.
Tem sim. Você tem o direito de comer banana com prazer, sofrimento ou em paz e harmonia com o momento presente. Agora, comer banana, certamente vai comer, se tiver que comer.
O livre arbítrio nesse mundo se consiste em um trabalho para não deixar o prazer ou a dor chegar. Esse trabalho consiste em reconhecer a origem do prazer e da dor e agir para se libertar da origem. Libertando-se dela, come sua banana em paz, sem prazer ou dor.
Participante: mas é tão bom comer banana…
É por isso que estão encarnando há sete mil anos.
Há sete mil anos estão encarnando porque é bom comer banana. Se agora não fizerem o trabalho de libertação, irão nascer e morrer outros sete mil anos para comer banana.
Só tem um detalhe que ainda não perceberam: vocês não gostam de comer bananas. Quem gosta é a sua natureza humana. Além do mais, como a cada encarnação os valores da natureza humana mudam, pode ser que amanhã nasça só para comer jiló.
O que acabamos de fazer nessa resposta é exatamente o trabalho que precisa ser feito. É preciso reconhecer que o que nos faz nascer e renascer repetidamente está na natureza humana e agir para libertar-se dela e assim poder nos aproximar de Deus.
Uma vez uma pessoa me disse que viver materialmente era muito bom. Tinha o contato com a natureza, a beleza das flores, o nascer e o pôr do sol, o canto dos pássaros. Respondi: exatamente por isso está nascendo e morrendo há sete mil anos.
É preciso se libertar de tudo, não só do que você quer. Preso às coisas dessa matéria assim que chegar no mundo de lá e não encontrar aquilo que gosta, pois não existe, volta correndo para cá.
Na verdade, a grande maioria que afirma que quer alcançar a elevação espiritual, que quer se aproximar de Deus, não quer.
Participante: por medo de perder o que tem aqui.
Sim, isso aí. Mas, porque tem esse medo? Porque não se libertou do gostar que está na natureza humana.
Participante: quando a gente alcança esse equilíbrio, e eu já alcanço em alguns momentos, continua comendo banana, mas de uma forma diferente.
Isso.
Tanto faz se tem banana, laranja ou uva, come o que tem em um estado de paz e felicidade. Afinal de contas pergunto: você vive para comer ou come para viver? Aquele que está apegado a comer só o que gosta vive para comer.
Participante: ao mesmo tempo parece que tudo fica sem graça.
Claro que fica.
Quem acha graça nas coisas do mundo humano? A natureza humana. O espírito não acha graça nessas coisas. Ele apenas as usas porque sabe que elas são instrumentos da sua elevação.
Deixe-me dizer uma coisa. O espírito só quer encarnar por um motivo: para evoluir. Ele não sai correndo do mundo espiritual para vir curtir natureza ou comer banana. Não vem aqui para isso. Vem porque sabe que está tendo uma oportunidade de elevação. Vem preocupado em fazer o trabalho que precisa. Só que depois de encarnado vem a natureza humana e diz que as flores e os pássaros são sagrados e que comer banana é melhor do que jiló.
Participante: mas, o que posso fazer? A natureza humana incita a comer banana e eu vou tentando fazer o trabalho que preciso. Estou sempre tentando levar o bem.
Tentar não adianta nada. Meia grávida não existe. Meio não existe: ou está ligada na natureza humana ou não está.
Dizer que está tentando já é uma forma da natureza humana não querer perder nada: nem no material, nem no espiritual. Apegando-se a essa busca de não perder achando que está fazendo alguma coisa, acorda do outro lado e ao invés dos esperados anjos encontra dois diabinhos que dirão: surpresa, não era bem isso.
Participante: mas, se mesmo com apego conseguir fazer as coisas boas?
Com apego a natureza humana não vai fazer nada de bom. Vai fazer apenas coisas. Isso porque o bom é criado pelo apego, ou seja, é ligado ao que gosta e quer. Quem disse que o outro quer e gosta o mesmo que você? Por isso não será bom para ele.
Vou dar um exemplo. Você pode achar bom viver na luz, mas nem todos acham a mesma coisa. Por isso levar a luz a uma pessoa apegada ao que gosta e quer nem sempre é bom.
Uma vez conversando sobre caridade perguntei: se um dia estiver passando na rua e ver uma pessoa passando fome, tem pena dela e, porque acha certo, dá um prato de comida, não fez nada por aquela pessoa. Apenas fez o que achava certo ser feito, ou seja, atendeu apenas aos seus próprios interesses.
Aí a pessoa me perguntou: quando, então, posso ajudar o próximo? Quando estiver andando na rua e sem motivo algum der o prato de comida. Quando der a comida sem se preocupar se está certo, se vai melhorar a vida daquela pessoa, o que ele vai fazer o que você der (tomar a esmola em cachaça).
Quando se coloca condicionalidade a alguma coisa tenha certeza de que quem está fazendo é a natureza humana. O espírito é incondicional.