Aqueles que fizeram os desenhos deste jornal poderiam ter feito a caricatura de qualquer ser humano que siga a religião muçulmana para fazer a jocosidade que queriam. No entanto, eles foram atingir a toda uma comunidade usando de algo que é sagrado e santificado para eles. Mais, fizeram as figuras sabendo de antemão o que aqueles desenhos proporcionariam para que os outros viverem.

Este ponto é mesmo que abordo quando se fala de sangha. Aconteceram e acontecem problemas em todas as comunidades, mas, quando perguntado sobre esses problemas, respondo: o problema é que faltou amor.

  Sabe, as pessoas estão preocupadas em exercer a sua liberdade de falar o que querem, de serem o que quiserem, mas não estão nem um pouco preocupadas com o direito do outro não ouvir o que você quer falar, do outro de pensar diferente. É para essa questão que quero aproveitar este acontecimento e lhes alertar.

Relacionar-se com o outro vivendo a relação com amor, com liberdade, passa necessariamente pela preocupação e a ocupação em como o próximo vai receber o que você se acha no direito de falar. Passa pela preocupação e pela ocupação de ver o quanto aquilo que quer fazer ou dizer pode ferir o próximo.

Atos vão acontecer, ferimentos vão surgir, mas, se surgirem, se acontecerem, quando essa ocupação ou preocupação tiver acontecido anteriormente, já não houve uma premeditação, já não houve uma intencionalidade de ferir. Essa não-ocupação e preocupação com este detalhe mostra a intencionalidade de ferir, que está no ego, mas que você vive, mesmo dizendo que está apenas exercendo o seu direito de falar o que quiser, de fazer o que quiser.

  Sei que humanamente falando sou uma voz dissonante nos últimos acontecimentos. Milhares de pessoas ao redor do mundo se juntaram para louvar aqueles que atacaram o islamismo. Está certo, sou uma voz dissonante, mas pergunto: quantas vezes Cristo atacou os romanos? Quantas vezes Krishna atacou aqueles que eram contra o seu ensinamento? Quantas vezes Buda foi contra aqueles que não seguiam o que ele falava? Nenhuma vez.

Não fizeram isso porque amaram, e aqueles que amam não se preocupam em atacar ninguém. Eles tiveram cuidado no relacionamento com o outro para não ferir nem magoar ninguém. Claro, acabaram ferindo, magoando, com o que disseram, mas não houve essa intenção.

É a questão da intencionalidade que leva aqueles que se respaldam na sua liberdade de exercer o direito de ser, estar e fazer, sem se preocuparem ou ocuparem com o que outro pode vir a sentir que acaba com qualquer santidade, com qualquer valor de certo numa ação. O ato, como falamos, é vida, prova, missão, carma, e os envolvidos irão praticá-los e ninguém pode decretar o que vai acontecer, mas internamente é preciso estar atento ao ferimento que se possa causar ao próximo.

  Só mais um detalhe. Não sei se vocês se lembram quando, ao longo de muitas conversas, falamos em universalizar, em tornar-se universal. Eu disse: universalizar é ser um com o outro. Como você quer ser um com o outro, se não se preocupa e se ocupa com o que é importante para ele? Como quer se universalizar com alguém, se ainda coloca aquilo que você acha e julga que tem o direito de ser, estar e fazer, acima do próprio bem-estar do outro? É algo interessante para pensarmos.

Com as graças de Deus.

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