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Participante: tem como viver o espiritual nesse mundo?

Tem. Tem muita gente que vive.

Se puserem, por exemplo, uma criança na porta de uma casa de vocês, a primeira coisa que farão é procurar o juiz da infância. Se o juiz oferecer para ficarem com ela, vão pensar se têm dinheiro para alimentá-la, para pagar escola, curso de inglês, balé, etc. Já a criança abandonada na porta do barraco de um pobre, o que acontece? Ele abre a porta e põe para dentro dizendo: onde come dez, come onze. Esse está vivendo livre da natureza humana.

Participante: então recolher uma criança é estar livre da natureza humana?

Não, é ato. O que importa é o que vai por dentro.

Aquele que recolhe uma criança sem apego a motivos, sem se preocupar com o futuro, está vivendo livre da natureza humana. Aquele que recolhe porque a coitada da criança não pode pegar frio, recolhe porque é uma pobre alma, etc. Nesse caso, como houve uma intencionalidade ligada a ação não é mais ato espiritual, mas material.

Participante: nós não viemos aqui para viver a natureza humana?

Não. Você veio aqui para vivenciar a natureza humana sem vive-la, ou seja, veio para ter o assédio da natureza humana, ter o pensamento forjado na natureza humana e libertar-se disso.

Você veio aqui para provar que ama a Deus acima da natureza humana.

Participante: veio, então, para negar a condição humana?

Não, não se pode negar a natureza humana, pois ela existe, está aí, é vivida por muitos. O que veio fazer foi conviver com ela sem apegos, sem se deixar guiar por ela, porque não é caminho para a aproximação de Deus.

Negar a natureza humana é dizer que ela é errada. Eu não disse isso. Tem gente que gosta e quer viver apegado a ela. Esses não digo que estão errados, pois estão vivendo o que querem, o que gostam.

Repare no que falei: é ter a consciência de que a natureza humana não é caminho para Deus. Importando-se com o aproximar-se do Pai, liberte-se de ser guiado por ela; não se importando com essa aproximação, viva sossegadamente a sua natureza humana. Mas, lembre-se: um dia todos farão o trabalho da reforma. Deus não tem pressa.

Estou falando para espiritualistas e por isso presumo que buscam que estejam em busca da realização do que vieram fazer nesse mundo. Por isso para vocês digo: tenham a certeza que, espiritualmente falando, a natureza humana não o leva a lugar nenhum.

Desculpe, falei errado. A prisão à natureza humana leva a um lugar sim: a ter que reencarnar, voltar para cá.

 Participante: quem está fumando, Joaquim, é você ou a natureza humana?

O corpo, já que não há intenção.

Participante: mas você gosta de fumar?

Não. Eu fumo. Já fiz diversas palestras sem fumar e não teve problema algum.

Fazendo um parêntese na nossa conversa, vou dizer uma coisa. Uma entidade é um espírito ligado a uma postura. O preto-velho não é um preto que é velho, é um espírito ligado a uma postura específica que é conhecida como preto-velho.

Por conta dessa postura, não fico de pé, não falo direitinho, não falo com arrogância. O café, o cigarro e a vela fazem parte dessa postura.

Já houve um dia que fizemos um teste. Incorporei e fiz uma palestra sem essa postura, ou seja, de pé e com a voz do médium. Ao final as pessoas pediram que não fizesse mais isso. Sentiram falta da postura.

Quando deixamos de usar a postura as pessoas, que não veem o espírito, não sentem a presença de um preto-velho. Acham que é um ser humano. 

Participante: o que é fazer elevação espiritual sem querer ganhar?

É fazer uma elevação espiritual não para que você se eleve, mas porque acha que o caminho que deve seguir. Fazer não para passar a frente dos outros, mas porque é um caminho que acha que deve seguir.

Participante: a todo momento nós somos provocados pela razão.

Sim.

A natureza humana é o diabo bíblico, o tentador. Não estou falando em diabo no sentido de mal, mas de tentador, é o instrumento da tentação do espírito encarnado.

Participante: do mundo de provas e expiações

Não só. Ela é o tentador das provas e expiações, mas também das provas da regeneração.

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