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(Conversa realizada em 2014 em Rio das Pedras – SP)
O que é uma sangha?
Participante: é uma comunidade de afins.
O que é uma comunidade de afins?
Participante: reunião de pessoas que têm o mesmo objetivo.
Um grupo de pessoas que possuem um objetivo semelhante, um objetivo igual. Está certo isso?
Participante: sim.
Agora, será que essas pessoas são iguais?
Participante: nunca.
São pessoas o quê?
Participante: diferentes.
Isso, são pessoas diferentes. Os componentes de uma sangha são diferentes entre si no que diz respeito à crenças e personalidade, mas iguais no objetivo.
É só no objetivo que os membros de uma sangha são iguais: esse é um ponto que vocês precisam entender.
Quando nós começamos a conversar sobre a criação de comunidades, vocês pensaram que iam organizar um grupo de pessoas que apenas ririam um da cara do outro, que somente brincariam. Isso não é real, pois as comunidades são formadas por pessoas diferentes. E, onde há pessoas diferentes, há atrito.
Isso precisa ficar muito claro: nas sanghas sempre existirão atritos. Nunca haverá uma comunidade, dentro do sentido Sangha (afins com a busca da elevação espiritual, em busca da felicidade), onde não haja atritos.
Para se frequentar regularmente uma sangha, é importante que se tenha muito clara a consciência dessa verdade. Se ela não existir, no primeiro atrito que ocorrer, as pessoas irão agir como muitos agiram: ‘eu não estou indo na sangha porque se formaram muitos grupinhos; cada um pensando diferente’. Foi por esse motivo que muitos se afastaram.
Claro: tudo isso previsto. Muitos que deixaram de ir às atividades da comunidade não foram por que estava previsto que deixariam de ir, mas, humanamente falando, essas pessoas se afastaram por esse motivo.
Portanto, para participar de uma comunidade é preciso que se tenha a consciência da diversidade das pessoas e que por isso o atrito é inevitável. É preciso estar bem consciente de que a interação dos membros da comunidade não vai ser um céu ou um mar de rosas: haverá atritos.
Só que o atrito não acontece apenas por causa das diferenças entre as pessoas. Mesmo que elas fossem iguais, ele precisaria existir. Isso porque é no atrito que você vai exercitar o seu amor ao próximo, o despossuir suas verdades, paixões. É necessário que toda a sangha tenha atritos, é preciso que em toda comunidade que busca a elevação espiritual, a felicidade, que o atrito esteja presente para que o amor incondicional seja colocado realmente em prática.
Por isso é preciso que ele seja esperado. Mais: que seja entendido como uma oportunidade de trabalho.
Isso é o que faltou à vocês nas tentativas de formar o grupo. Essa consciência é o que falta às nossas comunidades.
As pessoas participam de uma atividade da sangha ou se comunicam esperando uma amizade colorida, uma amizade simples, bonita, já que se trata de seres que estão buscando o caminho do despossuir, da felicidade incondicional. Por causa desse objetivo, que é a afinidade entre os que frequentam uma sangha, esperam que tudo seja um mar de rosas. Só que isso jamais acontecerá.
É preciso que todo mundo esteja consciente que nas atividades da Sangha, sejam elas quais forem, existirão atritos. Mais: é importante que se tenha consciência de que esse atrito é necessário para haver uma oportunidade de trabalho.
Teoricamente, seria mais fácil vivenciar na sangha o amor ao próximo do que na vida particular, pois durante as atividades dela espera-se que as pessoas tenham a consciência de que estão ali para amar. Por isso, imagina-se que seria mais fácil um ser humanizado aceitar uma provocação, uma ofensa, dentro da sangha, sem reagir, do que aceitar dessa forma a mesma provocação em um relacionamento com seu familiar, com seus amigos ou no seu trabalho.
Por que seria assim? Porque, imagina-se, que esse ser humanizado participe dessas atividades com a consciência de que ali haveriam oportunidades para amar. Só que ele não se conscientiza de que essa oportunidade só existe na contrariedade e não quando tudo está correndo dentro do que ele quer. Por isso, quando acontecem os atritos, ele não consegue suplantá-los com amor.
Participante: as pessoas vão às atividades da sangha achando que vai ser uma festa, brincadeira, confraternização. Se for para ser isso não precisa ir lá; isso pode se fazer fora delas.
Isso. A pré-disposição de saber que o atrito pode e vai acontecer e a de se expor a ele como uma ferramenta de trabalho, facilita a vencer esses atritos.
Você já usou pá ou enxada? Se usar muito tempo essas ferramentas o que acontece? A mão fica cheia de calo. É assim também com a vivência de atritos. O trabalho constante dentro da sangha vivendo os atritos normais dos relacionamentos das pessoas diferentes existe para lhes calejar no tocante ao convívio com os atritos da vida.
Vencer esses sofrimentos deveria ser mais fácil lá, pois cada um deveria ir às reuniões com a pré-disposição de amar, não é mesmo? Se fosse com ela, executaria o despossuir necessário para amar ao próximo. Com isso, ia calejando até que, em determinado momento, fora da sangha, estaria com a mão formatada peal enxada para poder capinar, teria o coração formatado para amar universalmente.
Então, esse é o primeiro ponto que eu gostaria que você transmitisse para as pessoas: a pré-consciência de que a sangha é formada por pessoas diferentes e que, por isso, o atrito é inevitável. Falasse isso para elas e dissesse que precisam estar preparadas para que as desavenças aconteçam para que dessa forma pudessem calejar seus corações para depois poderem viver felizes mais facilmente do lado de fora.
Dissesse a elas que o atrito na sangha não é novidade, não é algo inesperado. O que ocorreu nas comunidades não se trata de algo que pensamos de uma determinada forma e aconteceu deu outra. Tudo o que ocorreu sempre esteve dentro dos nossos planos.
Muita gente pensa assim: ‘ah, Joaquim, você falou da necessidade de se formar as sanghas, mas como fazer isso se deu problema em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em todo lugar’? Não sabem que tudo o que está acontecendo, e que ainda acontecerá, faz parte do planejamento para formatar o coração de vocês no amor universal.
As pessoas pensam que fomos pegos de surpresa, de calça curta, mas sabíamos que essa reação aos atritos aconteceria. Não por sermos adivinhos, mas porque sabemos o que acontece quando se juntam dois seres humanos, duas personalidades diferentes, sem o devido cuidado com a felicidade incondicional.
Essas reações não deveriam acontecer, não é mesmo? A partir do momento que se ouve todos os ensinamentos que vocês já ouviram, seria de espantar que vocês ainda discutissem para provar que estão certos, não é?
Todos os que frequentam as comunidades já ouviram, já leram, já pensaram no que ensinamos. Dizem que entenderam que a única coisa que precisam fazer é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Só que chega na hora do atrito não fazem nada do que leram, nada do que ouviram. Não colocam em prática o ensinamento.
Esse é o primeiro aspecto que quero ressaltar hoje: as pessoas precisam começar a perceber que reunião da sangha não é um mar de rosas; pode e haverá atritos sempre. Mais: esses atritos são necessários para dar a oportunidade de cada membro trabalhar a sua elevação espiritual, a sua busca da felicidade incondicional.
Devemos ir para a reunião da comunidade com essa consciência e não esperando encontrar uma festa de aniversário de criança com um monte de brinquedinhos para brincar. É assim que vocês têm ido. A atividade da comunidade não é local de diversão, mas sim de trabalho. Então, é preciso trabalhar e o único que precisa ser feito é amar a tudo e a todos.
Participante: aprender a respeitar o outro.
Isso, mas você só conseguirá respeitar o outro quando estiver consciente de que haverá atritos e de que eles são necessários para o trabalho individual de cada um. Se vocês não forem para a sangha com essa consciência, no primeiro atrito se afastarão. Se vão para brincar e alguém diz que não pode brincar com aquele brinquedo, irão embora e não voltarão mais.
Esse é o primeiro recado que gostaria que você levasse para a sua sangha: ‘Joaquim pediu para nós pensarmos sobre nossa comunidade. Pensarmos e entendermos que ela é feita de pessoas diferentes e por isso o atrito é inevitável. Pensarmos que devemos ir às atividades preparados para a existência do atrito e para trabalhar nesse momento’.