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Participante: acaba que nos acostumamos com o sofrimento…

Sim, por isso tem gente que tem prazer em sofrer. Essa é uma forma de prazer.

Participante: poderia explanar um pouco mais sobre essa cultura da vitimização? Porque gostamos tanto de nos fazer de vítima?

Porque a mente humana, todas, funciona dentro de um raciocínio lógico: eu tenho que ganhar e o outro perder. Não importa no que seja, não importa a forma para isso, a mente sempre está buscando ganhar, a vitória sua, e levar o outro a perder, derrota-lo.

É por isso que ela funciona através do processo vitimização: viu como eu sou um coitadinho. Assim ele ganha a atenção, a pena do outro.

Participante: a derrota é uma vitória?

Isso.

Participante: mas, isso não é vaidade?

Não, isso é querer vencer a qualquer preço, mesmo sofrendo. É o que disse: o sofrimento que se transforma em prazer por ter o sabor da vitória.

Participante: falei em vaidade porque o vaidoso quer sempre ganhar, estar mais bonito.

Não é apenas o vaidoso que quer ganhar: todos os seres humanizados, em todos os momentos, querem sempre ganhar do outro.

Porque quando alguém faz uma afirmação você diz: ‘não é bem isso, não é bem assim’?

Participante: para dizer que ela está errada,

Não. Não quer dizer que ela está errada; quer dizer que você está certa…

Participante: não dá na mesma?

Não. Você não quer corrigir ou informar o outro sobre nada. O que busca afirmando que há um erro é o autoelogio: ‘eu sei, eu sou culto’.

Agora, por favor não pense que estou falando de você: todos são assim. Essa busca da vitória é uma característica intrínseca de toda razão, pois pertence à natureza humana.

Então, viver assim não é passível de culpa, pois trata-se de um processo humano de vida.

Participante: isso não está na vaidade?

Não, pertence à classe da vontade de vencer, que é pior que a vaidade. O vaidoso vive a necessidade de ser reconhecido. Não é disso que estou falando. O que estou afirmando é que a razão humana precisa, necessita, depende, de derrotar o outro para ter o prazer.

Sei que é difícil vocês entenderem e perceberem em si mesmo essa vontade de ganhar. A mente a esconde debaixo de subterfúgios. Por exemplo, quando diz que não gostou muito da blusa daquela pessoa, está querendo usar isso para ganhar, ou seja, para ser reconhecida como uma pessoa que tem mais bom gosto do que aquela. Isso é explorar o outro.  

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