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Isso é o que estávamos falando. Todos os ensinamentos que ouviram não são usados na hora que é preciso: quando a emoção toma conta do seu íntimo. Usam apenas para geração de consciências, de saber. Isso é algo mental e pela razão não se chega a Deus.
Durante os momentos em que a emoção dita sofredora não chegou, vocês racionalizam: ‘não posso falar nada, tenho que respeitar o direito dela ser quem quiser ser.’ Só que na hora que a emoção chega, caem.
Participante: já me fiz muito essa pergunta: até onde uso o que aprendo? Cheguei a resposta que só uso quando me é conveniente.
Na verdade não usa só quando é conveniente; não usa quando fere o seu lado humano.
Apesar de já ter ouvido centenas de ensinamentos, de dizer que sabe as coisas, se o que foi ouvido ferir algo que a humanidade acha certo, você não usa o que diz ter aprendido.
É a partir dessa constatação que vem a grande questão: qual o problema de ferir o lado humano? Qual o problema de ser diferente do que os outros seres humanos? Para quem está disposto a ser um humano, viver o ciclo do prazer e da dor, há muito problema, mas para aquele que está em busca da felicidade plena, que não se interessa em ser reconhecido como um humano politicamente correto, qual o problema de causar esse ferimento?
Ferir o lado humano que estou me referindo é bem abrangente. É, por exemplo, não se preocupar se pode acontecer algo com a filha por não assumir a responsabilidade na criação. É não agir dentro das normas e regras da sociedade, não fazer o que se espera que seja feito em determinados momentos.
Participante: sim, quando acontece isso a coisa começa a pegar …
Sim, a coisa começa a pegar.
Só que depois de tantos anos ouvindo e lendo sobre coisas espirituais, isso é algo que precisam parar para pensar: até onde vou subordinar o meu lado espiritual às normas humanas?
Participante: será que é mesmo o lado espiritual que queremos?
Não é disso que estou falando.
Com certeza vocês querem a busca espiritual. Está um frio de matar, como falaram no início, mas estão aqui me ouvindo. Poderiam estar vendo o jogo, já que estamos na Copa do Mundo, ou estar se divertindo de diversas formas, mas estão aqui. Isso me mostra que pelo menos mentalmente já descobriram o que querem, mas será que o coração está acompanhando essa razão?
É preciso descobrir se esse querer não se trata apenas de um processo mental ou se vem do coração. Isso só será descoberto na hora que o lado humano é ferido, na hora que os anseios, as paixões e as posses humanas perderem a importância, deixarem de seduzir e guiar o mundo seu mundo emocional. Só descobriremos se o coração está envolvido no processo de busca espiritual ou não quando houver uma tentativa de resguardar o lado humano, de resguardar as posses, paixões e desejos.
Participante: no exemplo da minha filha, o que é resguardar o lado humano?
Aquele que está resguardando o seu lado humano se chateia quando acontece algo que não considera bom com sua filha. Isso acontece porque esse ser, apesar de conhecer a realidade (mãe e filha são papéis vividos por espíritos dentro de suas encarnações) ainda nutre posse, paixão e desejos na relação.
É com o que leva à chateação, ou seja, o que se nutre com relação ao outro, que é preciso acabar. Aquele que não se apega ao lado material vive essa relação liberto de esperanças ou projeções para o futuro. Por isso não sofre quando algo inesperado acontece.
Quando falo em libertar-se do lado humano no caso da maternidade, não estou falando em deixar de falar que sua filha saiu de dentro de você, que é sua filha, de orientá-la. Isso dirá e fará a existência toda, pois é discurso, mente, ego. O que estou falando é abrir mão de coisas que provocam a instalação do chatear-se porque isso ou aquilo aconteceu.
As razões pelas quais você sofre nunca são espirituais, pois são oriundas de uma norma humana de viver: ‘toda filha precisa seguir a orientação dos pais’, ‘todo pai tem obrigação de dirigir a filha para que tenha um bom futuro’. É quando essa norma, essa obrigação, é quebrada que se chateia com o que acontece. Livre dessa norma, qualquer coisa que ocorra não provoca chateação.
É isso que é o importante agora de se conversar. Falar novamente dos mesmos ensinamentos de nada adianta mais.
Se isso é o importante, algumas questões ficam: como usar isso, onde é preciso usar, como usar o ensinamento como arma? Esse é o ponto que considero importante para conversar com vocês agora.