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O tema que vamos conversar hoje é religiosidade. Vamos falar dos momentos onde o ser humanizado convive com outros seres e esses estão abordando temas da sua religiosidade. Por exemplo: você ao conversar com uma pessoa fala algo e ela responde que isso não pode ser feito de acordo com o que é afirmado pela sua doutrina religiosa. Esta pessoa está expressando a sua religiosidade e a partir desta expressão vem o que vamos estudar hoje: como vivenciar esse acontecimento? Claro que antes de chegarmos especificamente à vivência do espiritualista para este momento, precisamos antes tratar de alguns aspectos para bem compreender o momento que estamos conversando e aí sim poder alcançar a vivência.
O que é uma religiosidade? É a vivência de determinados rituais e a submissão – crer como verdadeiras – determinadas informações doutrinárias. Isso é a religiosidade de um ser. O católico, por exemplo, é aquele que se submete aos rituais da Igreja Católica e se submete às informações doutrinárias que a Igreja de Roma ensina.
Tudo o que vamos falar aqui serve tanto para o momento em que alguém está praticando o ritual da sua religião como a quando ele expressa uma informação doutrinária dela. No entanto, vamos nos ater mais nesta conversa no momento onde é vivenciada a declaração de algumas pessoas à respeito do conteúdo doutrinário de uma religião.
Especificado o momento sobre o qual vamos conversar, temos ainda que entender o que é religião. Porque existem tantas religiões? Porque existem tantos ritos e corpos doutrinários diferentes no planeta?
Cristo ensinou isso: na casa do meu Pai há diversas moradas. Existem diversas formas de se entrar em contato com Deus. É por isso que existem as diversas religiões. Muitas são antagônicas à outras, mas isso não importa: todas levam ao mesmo caminho. Isso porque em essência todas estão ligadas ao amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Entendida a função das diversas religiões, permanece uma dúvida: porque é preciso haver diversas religiões? Vamos explicar isso…
A origem das múltiplas formas de se chegar a Deus foi explicada na conversa anterior: por causa da vicissitude presente na vida humana. Existem diversas religiões, diversos corpos doutrinários e ritualísticos, para que cada ser tem sua prova.
Quando digo isso é preciso entender que a religião católica não existe como a verdadeira igreja de Cristo, até porque ele não tinha igreja e disse bem claro: o templo de Deus está dentro de cada um. O espiritismo, a religião espírita, não é a religião dos espíritos, até porque a própria literatura espírita mostra que no mundo espiritual existem espíritos que se submetem a religiões diferentes. Todas elas são apenas elementos deste mundo e por isso são apenas instrumentos das provas dos seres encarnados.
Acreditar no corpo doutrinário de uma determinada religião ou em seus rituais é ter os elementos necessários para que aquele espírito faça a sua provação, para ele alcançar uma vivência que lhe leve a Deus. Isso é religiosidade.
Quando um evangélico fala algo que você não concorda, ou melhor, que a sua vida vive não concordando, ele está gerando uma vicissitude para você, uma prova. Ele não é um pobre coitado ignorante que precisa aprender coisas; é um espírito que está vivendo a sua provação.
Esse é o primeiro corrimão que tiramos desta conversa. Cada um tem suas verdades, seja sobre religiosidade ou qualquer coisa, e as têm porque aquele é o instrumento dele. Por isso, o que o outro acredita não deve ser objeto de uma tentativa de mudança.
Esse é o entendimento que o espiritualista tem. A partir do momento em que sabe que não existe vida, mas sim encarnação, que sabe que a encarnação é composta por momentos onde pode ranger dentes ou não e que eles acontecem sempre gerando vicissitudes, o espiritualista sabe que jamais haverá uma unicidade do que é acreditado. Com isso recebe a crença de cada um como sua prova. Esta é a compreensão que serve como corrimão que o espiritualista precisa ter para se apoiar na vivência dos acontecimentos da vida humana.
Ele precisa vivenciar os acontecimentos onde convive com pessoas que comungam de outras crenças e as verbalizam sem imaginar-se dono da verdade, dono da razão, aquele que sabe. Além disso, precisa também apoiar-se no corrimão do amor ao próximo, ou seja, respeitar o direito do outro pensar diferente…
Esse é um aspecto muito importante para aquele que busca aproximar-se de Deus durante a sua encarnação. Isso porque os seres humanizados vão entrando em contato com informações sobre a questão da elevação espiritual e a cada vez que isso acontece imaginam que descobriram os segredos das coisas deste mundo, descobriram a verdade absoluta das coisas. Ninguém detém a verdade absoluta de nada no Universo, só Deus.
Por se acharem certos, aqueles que não alcançam uma vivência espiritualista querem ensinar ao outro aquilo que sabem, querem mudar o outro. Primeiro que não conseguem, mas se conseguissem, estariam tirando a provação que o outro precisa. Isso não é colaborar para obra geral, que é outro objetivo da encarnação que está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.
Para aproximar-se de Deus, o espiritualista jamais deve vivenciar o momento onde alguém explana a sua religiosidade sentindo-se um guru, um mestre, aquele que sabe a verdade. Ele deve vivenciar este momento sabendo que aquilo é verdade apenas para quem acredita. Ele vivencia o momento sem querer interferir no que o outro acredita.
Mesmo que o outro não acredite no espírito como você acredita, não há nada a ser ensinado a esta pessoa: ela sabe o que precisa saber para fazer a sua provação. Este, mesmo não acreditando em nada do que estamos falando, mesmo não sabendo que está em provas, está vivendo uma oportunidade para aproximar-se de Deus e para isso é preciso estar em paz e harmonia coma sua vida, ou seja, vivendo em felicidade.
Vou contar uma história só para vocês entenderem o que estou dizendo. Ela está em um livro espírita.
Um grupo espírita em reunião conseguiu trazer para dentro de um centro um espírito que era pastor evangélico e que tinha muitos seguidores no mundo espiritual. Passaram diversas sessões conversando com este espírito incorporado num médium. A cada conversa eles ensinavam ao pastor espírito a verdade do espiritismo. Depois de diversas sessões o espírito do pastor disse que já havia compreendido tudo o que estava sendo ensinado e aceitado como verdade.
Os seres humanos que estavam conversando com ele ficaram muitos felizes e pediram, então, para que ele transmitisse a todos que os outros estas verdades. O pastor, então, disse que não ia fazer isso. Questionado pelos espíritas o porquê não faria isso, ele respondeu: porque eles estão felizes dentro da crença que têm. Disse mais: ‘aqueles que me seguem estão felizes com aquilo que sabem; para que eu vou levar estes argumentos a eles’?
Esta história resume bem a posição do espiritualista, do espírita, do budista, do católico e dos seguidores das diversas religiões: eles querem sempre trazer o outro para a sua verdade. Mas, para que fazer isso? O evangélico está feliz por ser evangélico. O espírita está feliz com o espiritismo que ele vive. Se você começar a trazer novas informações para o outro levará tormento a ele.
Mais: ao estar feliz com o que ele acredita e vive, está fazendo o que deveria ser feito – conviver com a sua vida em paz e harmonia. E você que acha que está ensinando a ele alguma coisa está fazendo o que precisa fazer para a sua evolução? Eu diria que não. Isso porque você não está em paz com a sua vida, que naquele momento é ouvir a verdade do outro.Você está em desacordo com o que ele acredita e por isso está em desacordo com a vida que está tendo naquele momento.
Esta, portanto, é a vivência para o espiritualista quando está em contato com outros seres que naquele momento estão usando de ritos ou informações doutrinárias a partir da sua religiosidade. Ele respeita o direito de cada uma acreditar no que quiser. Ele se harmoniza com o que é dito pelo outro. Não falei em acreditar no que o outro acredita, mas em harmonizar-se, ou seja, em dar ao outro o direito de acreditar no que quiser sem que se sinta obrigado a mudar a crença do outro.
Isso me leva a mais uma coisa que preciso falar. Depois de ouvir isso, certamente a pergunta que vocês me fariam seria: porque, então, você está fazendo estas conversas? Eu diria: porque tem gente que acredita no que eu acredito. É para estes que estou falando e não para todos.
Se para você o que estou falando não faz sentido, pare de ler ou ouvir agora, porque não é para você que estou falando. Mais: peço para não ouvir ou ler mais nada do que disse… Isso porque se você fizer isso, eu estarei vivenciando a presunção de que posso interferir em você e isso eu não quero jamais.
Aliás, algumas vezes já me ofereceram para falar para centenas de pessoas via meios de comunicação de massa. Eu não fui. Na verdade só posso ir onde as pessoas querem me ouvir. Por isso seria preciso perguntar a cada uma das centenas de pessoas que me ouviriam anonimamente se queriam me ouvir, já que não posso interferir no que cada um acredita.
Portanto, fica mais um recado. Se você está ouvindo ou lendo estas conversas, cuidado para não achar que aqui há um pote de ouro e querer levar isso para as outras pessoas. Isso não é uma atitude espiritualista. Agora, se alguém lhe pedir, sinta-se livre para transmitir o que está aprendendo, sempre atento a doar à razão quando quem está lhe ouvindo não concordar com o que diz.
Esta, então, é a vivência de um espiritualista para o momento quando as pessoas estão fazendo uso de sua religiosidade. Nesta conversa colocamos mais um corrimão na caminhada do espiritualista: ao invés de se arvorar em mestre, em senhor da verdade, o espiritualista vivencia o momento onde os outros estão vivendo sua religiosidade em paz e harmonia com a opinião do outro.