Quando falei para aquela pessoa sobre a questão de sonhar, e o problema de sonhar. Disse que o problema seria acordar para a realidade. Você sonha com um mundo encantado, sonha que a vida é um biquíni cor de rosa com bolinhas amarelas, só que no dia seguinte acorda e só tem a sua roupa velha para vestir.
Esse é o perigo de sonhar: acordar para a realidade da vida. ‘Casei, agora vou ser feliz com a minha mulher (marido) o resto da vida!’ Será? Quem acredita nisso, acha que é uma regra que acontecerá consigo, é uma criança que idealiza os seus castelos de sonhos.
O verdadeiro buscador da felicidade vive a realidade. Com isso não estou dizendo que vive brigando com o parceiro(a), mas sim que vive com a consciência que não existe nada eterno, que tudo pode acabar ou mudar a qualquer momento. Porque vive assim? Porque na hora que aquilo acabar, não será pego de surpresa. Com isso não cairá no sofrimento.
A depressão pelo sofrimento existe justamente quando não estamos preparados para o tipo de acontecimento que está ocorrendo. É o caso da morte. Quando alguém está muito doente é mais fácil aceitar a morte do que quando a doença é leve ou não tem doença. Por que? Porque a morte já é esperada; Quando não é, quando acontece um acidente por exemplo, sofremos muito mais com o falecimento de alguém.
Mas porque sofrer nesse caso? Porque a morte não é esperada? Mas, será que não sabe que todos que estão vivos vão morrer amanhã de um jeito ou de outro? Será que não sabem que esse amanhã pode ser daqui a 1 minuto ou 10 ou ainda 20 anos?
É sobre isso que estou falando: ser maduro com a vida. O buscador da felicidade é maduro nesse sentido. Ele não brinca com a vida, não constrói castelos de areia; vive a realidade. Dentro desse exemplo, a realidade é que para morrer só é preciso estar vivo. Mais: quando ela chega, não há como fugir. Se alguém se esconde dentro de um chuveiro para não morrer de acidente de avião, se tiver que ser o avião cairá em cima da casa.
Outra coisa que o ser maduro presta atenção é o desejo de ter coisas novas, o sonhar com aquilo que não tem. Ele sabe que se prender a esse sonho não leva à felicidade nunca, nem quando consegue o que sonha ter.
O ser infantil é um sonhador por natureza. Ele precisa estar sempre sonhando com coisas novas. Por isso, mal acaba de conseguir o que sonhou começa a sonhar em ter outra coisa.
O ser infantil não é feliz nem quando consegue o que sonha ter. O ser maduro, aquele que busca a felicidade, é feliz com o que tem. Ele até tem sonhos, desejos, mas diz para si: ‘eu queria ter outra coisa, queria ter um carro do ano mas o que tenho é esse Chevete. Então vou entrar no meu calhambeque e ser feliz’.
De que adianta ficar esperando comprar o carro do ano para ser feliz, se o seu salário não dá para comprar um? De que adianta viver reclamando do seu Chevete se só tem ele para se locomover?
É dessa maturidade que estou falando. É a maturidade de saber lidar com a realidade que tem para viver. O ser que é feliz é aquele que sabe lidar com a maturidade, com a vida que tem. Ele até pode ter sonhos, pode sonhar com coisas diferentes do que tem, mas não se prende a esses sonhos. Acalenta seus sonhos, os mantém guardados dentro de si e vive, convive, com a vida que tem, com as coisas que tem de uma maneira feliz.
Participante: condicionamos a felicidade à posse?
Se fossemos felizes quando possuíssemos seria ótimo. O problema é que quando possuímos alguma coisa já queremos possuir uma outra coisa para sermos felizes.
Então, nem a posse de algo satisfaz o ser infantil. Ele só alcança a satisfação quando ganha coisas novas. Seu sonho é ganhar coisas novas o tempo inteiro. Isso é impossível!