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Participante: vou usar o seu exemplo do medo, a programação para que se tenha medo diante da velocidade, para fazer minha pergunta. Como ela é mudada?  Estou perguntando isso porque aconteceu comigo. A vida toda eu tive muito medo de velocidade de carro e de repente isso está mudando. Isso também é uma programação? Está pré-programado que o medo iria até uma determinada fase e depois deixaria de existir?  

Diga-me uma coisa: você perdeu o medo?

Participante: estou dirigindo mais rápido sem o pavor que tinha.

Mas, perdeu o medo, ou o venceu? Ou seja, não há mais medo ou ele ainda vem e você não se entrega mais a ele? Não é isso que tem acontecido?

Participante: é mais ou menos o que tem acontecido.

Veja: a programação não muda, a não ser que a mudança esteja pré-programada. Mas, apesar disso você pode libertar-se dela. O ego continua lhe insuflando à sensação de medo, só que você se liberta do que ele cria e não aceita mais a sensação que ele dá.

Participante: a confiança, que compõe a fé, também não é uma codificação do programa?

Não: sensação é uma coisa, sentimento é outra. A sensação é aquilo que o ego lhe impõe e o sentimento é aquilo com o qual o espírito vivencia a situação.

O ego pode dar medo, a sensação de medo, mas o espírito pode libertar-se desse medo, agindo com fé, com confiança, ou pode se escravizar a esse medo e vive-lo porque o ego criou a sensação de medo.

Participante: mas, a libertação do medo também não é pré-programada?

Não, a libertação do medo não é pré-programada; o fim do medo sim.

Veja, a sensações são pré-programadas, ou seja, elas vão continuar enquanto você estiver em provação sobre elas. Elas só podem ser extintas por um pré-programa. Neste caso, não houve mudança, mas o mesmo programa preestabelecido foi seguido.

Apesar de afirmar isso, digo, também, que as sensações podem continuar existindo e você pode não se escravizar àquilo que o ego está lhe dando como sensação. É o caso que acabou de me ser perguntado. A pessoa disse que o medo ainda vem, mas ela já não se entrega a ele.

Participante: e os sentimentos não são codificações?

Não. As sensações são provações, ou seja, fruto da programação feita anteriormente, mas os sentimentos são frutos do livre arbítrio do espírito. Sendo assim, por exemplo, o ego pode estar lhe mandando uma sensação de tristeza e você não aceitar e vivenciar alegria.

Agora repare: estou falando de sentimento, algo universal e não de elementos materiais. A alegria a que me refiro não é aquela que é caracterizada pelo sorriso fácil, como fruto de uma brincadeira, mas sim a sensação de paz, que equanimidade, de tranquilidade.

Portanto, o ego pode lhe insuflar à tristeza e você pode reagir da seguinte forma: ‘é, estou triste, estou e daí?’ Agora têm outros que dizem: ‘meu Deus, como eu estou triste’.  Esses últimos caíram, apegaram-se ao ego.

Mais um detalhe: estou falando em reagir com frases, mas não me refiro à ideias ou palavras. Estou dizendo para dizer com o coração. É o coração quem tem que dizer e daí e não a razão.

Se for a razão que diga que não irá viver aquela sensação, não houve libertação. Na verdade isso foi mais uma geração ilusória da mente, um maya, e, portanto, foi mais uma provação gerada pelo ego e não uma libertação…

Esta é a diferença entre sentimento e sensação. Não sei se dá para me entender, porque para vocês as sensações e os sentimentos são a mesma coisa, mas não são: uma é escolhida pelo ego a partir das codificações pré-programadas enquanto a outra é fruto do livre arbítrio do espírito.

Participante: mas, não vem tudo escrito no livro da vida, até esse momento da libertação?

Até o momento da libertação está escrito, mas quando isso acontecer em atos ou ideias e não no mundo sentimental…

Na verdade pode existir uma ideia de libertação – que ocorre no mundo das ideias (ego) e não quer dizer que realmente houve alguma vitória, mas apenas uma nova provação – e pode existir uma libertação verdadeira, que acontece nos mundo dos sentimentos e não é percebida pela razão. A primeira é pré-programada e a segunda é a vitória do espírito nas suas provações…

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