“onde houver erro que eu leve a verdade”
O que é uma coisa errada? É aquilo que vai contra a verdade, o que é certo. Mas, se errado é tudo aquilo que vai contra a verdade quem pode dizer o que é verdadeiro, ou seja, quem tem a Verdade do Universo? Quem pode saber o que é Verdadeiro, Verdade Absoluta? Só Deus.
Somente a Inteligência Suprema do Universo tem a capacidade de analisar e compreender perfeitamente tudo que acontece e assim gerar uma Verdade sem retoques, Absoluta.
O ser humano, como personagem criado pelo espírito para sua evolução, possui inteligência, que é o próprio espírito que o anima. Esta inteligência, no entanto, não é suprema, mas limitada de acordo com o seu grau de evolução. Ou seja, possui verdades que não são reais, mas que condizem o grau de evolução de cada um.
É por isso que o ser humano não conhece a Verdade Absoluta, mas apenas a verdade relativa, ou seja, uma verdade baseada na sua limitada capacidade de compreender o universo.
Se a inteligência do ser humano (espírito) não conhece a Verdade, como pode imaginar ter o poder de dizer o que é Real? Como pode afirmar que o que está imaginando das situações é Verdade? Somente quem conhece a Verdade pode saber a Realidade, ou seja, Deus.
Você dá um prato de comida, porque quer dar um prato de comida e imagina (cria a realidade) que com isto está servindo ao próximo, mas esta compreensão é fictícia, ilusória. Quando alguém age motivado por um desejo (vontade) está, antes de qualquer coisa, agindo em seu favor e não do próximo. Portanto, a Verdade daquele momento é que você está se servindo do próximo, ou seja, está utilizando o outro para satisfazer a sua vontade.
Mesmo que com seu ato auxilie alguém, a motivação primária (intenção) foi fazer o que você queria e não auxiliar o próximo, pois esta última intenção ficou subordinada à primeira. Deus conhece a Realidade dos fatos, pois como Cristo nos ensinou, Ele conhece a verdadeira intenção de cada um ao agir. Desta forma Deus sabe o que está acontecendo de verdade: você se servindo do próximo para ter prazer.
Além disso, já estudamos anteriormente que todos os atos da vida carnal são ações carmáticas, ou seja, são situações criadas por Deus que possuem a característica de ser a justa reação a uma ação anterior. Elas também servem de prova para o espírito na sua caminhada da evolução espiritual. Todos os envolvidos em acontecimentos estão vivenciando uma ação carmática criada por Deus e não gerando atos espontaneamente.
Portanto, a intenção criou uma fantasia, mas o próprio ato é também uma ilusão. Você não está dando comida a ninguém. É Deus que está, através da ação carmática sua e do outro, dando a comida. Essa é a Verdade Absoluta dos acontecimentos do mundo, essa é a Realidade. Apenas Deus e Sua ação, Deus e Seu amor são Verdadeiros.
Ninguém faz nada, só Deus age: isto é Real; isto é Verdadeiro. É isto que precisamos levar às pessoas e trazer para nossa vida para que todos eliminem as ilusões que vivem e possam viver a Realidade.
Voltando ao texto da oração que estamos analisando após termos compreendido o que é a Realidade e a Verdade, o que seria, então, o erro ao qual Francisco se refere? Os seres humanos imaginarem que estão fazendo, agindo, quando na verdade estão sendo instrumentos de Deus.
O ensinamento da Realidade (Deus Causa Primária de todas as coisas gerando ações carmáticas) vale para todos os detalhes da vida, mesmo aqueles onde os seres humanizados imaginam que Deus não interfira. Portanto, ninguém jamais faz pratica ação alguma, por menor, mais sem importância que possa parecer a ação.
Imagine se uma grande quantidade de seres humanos decidisse comprar a quantidade de pães que quiserem. Sabe o que ia acontecer? Ia ter que devastar a floresta amazônica para poder plantar trigo.
‘Se quiser eu como vinte pães, e Deus nada tem a ver com isso’. Aí está o erro: achar que cada um age por livre e espontânea vontade sem compreender que o universo é interdependente, ou seja, que tudo que você faz reflete sobre outros e sobre as coisas.
Destruir a floresta amazônica seria, em tese, um acontecimento que afetaria não só a vida de todos os habitantes do planeta, mas se refletiria em todo Universo. Será que alguém pode fazer a outro tão distante o que ele não precise nem mereça, ou seja, sem que Deus não tenha considerado que ele possuía este carma e precisava passar por tal situação?
Se o ser humano agisse dentro da inconsequência gerada pela sua limitada capacidade de compreender os reflexos dos seus atos, teria o poder de ferir o próximo. E Deus? Neste caos seria um mero espectador do mundo, vendo os seus filhos serem feridos constantemente sem poder fazer nada?
O Senhor Onipotente do Universo não poderia reagir para salvar a humanidade e o próprio Universo porque seres humanos querem comer vinte pães cada um? Claro que sim e por isso age, ou seja, por isso faz cada um comer a quantidade de pães suficientes para que não interfira no equilíbrio universal.
Esta é a Verdade que Francisco de Assis propaga: Deus, e somente Ele, age. A nós espíritos, humanizados ou não, compete sair do “erro”, ou seja, da ilusão da ação individual de cada um: achar que eu ajo, que o outro age, achar que as coisas agem, achar que o outro pode fazer o que quiser.
É desta ilusão de que todos agem por livre e espontânea vontade que surge o medo. A ilusão da ação individualizada e livre destrói a fé.
Não existem dois seres humanos que gostem e queiram as mesmas coisas com a mesma intensidade. Se cada um pudesse agir livremente, certamente estaria sempre movido pelo desejo de que a sua verdade sobrepujasse a do próximo, pois o objetivo primário do ser humano é satisfazer-se, ou seja, que suas verdades sejam realidade. Com isto, certamente um acabaria ferindo o outro na busca de impor-se.
Se você não acredita que Deus e só Ele age, mas que o outro pratica ações por livre e espontânea vontade irá imaginar que ele tem o poder de se sobrepor a você e, com certeza, se sentirá ferido se isto ocorrer. Então eu pergunto: e o seu Pai que é o Senhor Onipotente, Onipresente e Onisciente não pode fazer nada para lhe defender?
Será que Ele, que tudo pode terá que assistir passivamente a toda injustiça que você passa? Claro que não. Ele age sempre dando a cada o que merece. Portanto, se o outro lhe sobrepujar em determinados momentos, não sofra, pois foi Deus quem assim decidiu e só fez isto porque era o que você merecia no momento. Louve e ama a Deus por isto.
Levar a Verdade e a paz de Deus é dizer a cada um: Deus está agindo lhe dando o que você merece (fruto da sua ação anterior) e precisa (prova para sua elevação) e não o próximo. Pare de sofrer e ame a Deus e sinta-se amado por Ele.
Mas, a recíproca é verdadeira. Se você conseguir se impor (estar certo) num relacionamento, saiba que isto não é Real, mas uma ilusão temporária que Deus concedeu a você porque o outro precisava e merecia ser sobrepujado naquele momento. Portanto, não tenha o prazer nem a soberba de se sentir o melhor, o certo.
Ter prazer quando Deus age: isso é uma atitude de profunda incompreensão do Universo. Eu afirmo: o homem, o ser humanizado tira proveito do que Deus faz.
Quando o Pai faz acontecer a ação carmática coincidente com a ilusão (verdade relativa) do ser humanizado, ele tira proveito da situação: tem prazer achando que ele conseguiu realizar o que queria.
Aquele que obtêm lucros individuais com o trabalho alheio pode ser chamado de explorador. O ser humano, ou melhor, o espírito que vive a ilusão de ser e estar é um explorador de Deus. O Pai age e ele tem o prazer (lucro individual). Onde ficou a humildade ensinada pelos mestres? Onde ficou a subserviência a Deus?
Deu certo, foi eu que fiz, não deu certo, foi outro que fez: isso é erro, é irreal. Viver deste jeito é viver no erro, na ilusão. Para que vivamos a oração do São Francisco é preciso compreender e viver dentro da Realidade: só Deus age. Aí estaremos vivendo a Verdade.
Um comentário de Joaquim:
Tantos assuntos estão sendo estudados hoje, não? Quantos temas diferentes da vida humana estão sendo abordados, não? Esta oração, como guia de vida, é fenomenal.
Tanto ela como o Pai Nosso são guias que se seguidos no seu contexto levariam o ser humanizado a alcançar a evolução espiritual rapidamente. O problema é que os seres humanizados ficam adorando, idolatrando Francisco de Assis, ao invés de entenderem o que ele fala, ou então, ficam apenas recitando as suas palavras, mas na hora de agir não as colocam em prática.