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Todo ser humano que não se coaduna com as mesmas ideias de outro é tratado por aquele como um inimigo. São inimigos políticos, ideológicos, religiosos, que vivem se enfrentando no sentido de um alterar os conceitos do outro.
O inimigo é sempre aquele se interpõe às verdades estabelecidas pelo ser humano. Isto porque este sempre debate, argumenta e às vezes até ofende o outro com o objetivo de impor pontos de vista que aquele não acredita como ‘verdade’.

Se a esposa quer a casa arrumada e o marido não faz, ele se torna um inimigo. Se uma pessoa coloca uma verdade que o outro não acredita, vira um inimigo que precisa ser vencido, ou seja, seus argumentos precisam ser silenciados. Se alguém quer fazer alguma coisa e a outra pessoa não aceita aquilo como verdade, passa a ser tratado como um inimigo. Para que o outro possa ser um amigo é necessário que ele tenha o mesmo pensamento, ou seja, as mesmas verdades que o ser humano acredita.
Quando surge a figura do inimigo – aquele que contesta ou já contestou suas verdades – o ser humano perde logo a sua felicidade. Encontra mágoa, ressentimentos, raiva e até ódio por aquele outro que não quer compartilhar das mesmas ideias.
Justamente para não perder a felicidade, bem maior que todo ser humano preserva, é que ele sente compulsão em atacar antes de ser atacado. Este ataque não precisa ser necessariamente em atos ou palavras, mas acontece, muitas vezes através do pensamento que rotula o outro de errado.
Quando aquele ser humano já está rotulado como inimigo, não importa mais nada que diga: ele não mais será ouvido. Ou seja, nenhuma das suas ideias e mensagens sofrerá análises para se conhecer o conteúdo, mas, como diz o ditado popular, entrarão por um ouvido e sairão pelo outro. As ideias políticas, ideológicas ou religiosas não serão absorvidas pelo ser humano, pois aquele já é conhecido daquela pessoa.
Entretanto, Cristo disse que devíamos amar a todos e não apenas àqueles que satisfizessem nossos conceitos. Afirmou ainda: abraçar um amigo é fácil, quero ver cumprimentar um inimigo.
Todos os seres humanos são espíritos irmãos em evolução. Nenhum de nós é melhor do que o outro, nem sabe mais do que ele: somos apenas diferentes uns dos outros…
O amigo é considerado especial apenas porque se coaduna com a ideia do outro ser humano e não por afinidade sentimental. Repare que se este amigo um dia ousar discordar, receberá o rótulo de traidor da amizade e essa se acabará…
O inimigo também não é um desafeto espiritual: ele surge do apego que o ser humano tem às suas verdades, vontades e desejos. Este apego confere ao ser humano um ilusório poder de imaginar que tem o direito de julgar o que é bom ou mal, certo ou errado.
Um ser humano recebe o rótulo de inimigo simplesmente porque tem valores diferentes do outro. Mas, quem disse que aquele ser humano é que está certo e não o que pensa diferente?
A finalidade da encarnação é alcançar a elevação espiritual e isto só ocorrerá quando o espírito abrir mão do poder de conhecer as verdades. Isto porque todas as verdades com as quais o ser humano convive são sempre individuais. Mas, como saber que estas verdades são individuais se elas não forem contestadas por outras, que também são imaginadas como únicas e perfeitas?
Portanto, a reforma íntima necessita desta exposição. É preciso que o espírito encarnado seja constantemente confrontado com as verdades dos outros para poder compreender que não existem dois seres que acreditem, em gênero, número e grau, na mesma verdade.
Aquele que busca realizar a reforma íntima através do isolamento de outros seres humanos não consegue saber que eliminou suas verdades, pois elas não são expostas a outras. Como imaginar que se aceita todas as cores se a única que se conhece é o branco? Somente quando o espírito conhecer e admirar todas as cores poderá dizer que não tem conceitos com relação às cores.
O inimigo, aquele que possui verdade diferente em qualquer assunto, é, portanto, um emissário de Deus… Não para combater as verdades dos outros ou ensinar algo novo, mas para mostrar que este espírito encarnado ainda possui ‘verdades’.
Quando o marido deixa a casa desarrumada, Deus está mostrando a esposa que ela ainda possui conceitos do que é arrumado ou desarrumado… Quando alguém fala algo diferente daquilo que o ser encarnado acredita, é Deus mostrando que existem mais mistérios entre o céu e a Terra do que a sua vã filosofia possa imaginar… Quando alguém quer fazer uma coisa diferente daquilo que o ser humano acha certa, é Deus dirigindo-o para mostrar que aquele homem ainda possui padrões…
Então, este ser humano que contraria o outro não é seu inimigo, mas sim o seu verdadeiro amigo. É amigo porque mostra ao ser humano o que nele precisa ser mudado, o que precisa ser reformado, para que o trabalho de despossuir – abrir mão do poder de saber distinguir o bem e o mal – possa ser realizado.
Ao expor os conceitos dos outros, o inimigo não está, no sentido universal, mesmo que individualmente imagine que sim, visando impor-se, mas sendo dirigido por Deus para mostrar àquele determinado ser humano o que e onde ele precisa mudar. Aquele que é considerado amigo,, ou seja, não expõe conceitos dos outros a eles mesmos, não auxilia na reforma íntima. Ao contrário, atrasa esta conquista, pois consolida o poder que o ser humano imagina que tem.
Como objetivo da vida carnal é promover a reforma íntima, podemos afirmar que o espírito veio à matéria carnal não para viver com os amigos, e sim buscar conviver com os seus inimigos, aprendendo aquilo que deve eliminar.
Visto sob este aspecto, o inimigo passa a ser o professor, o amigo do outro ser humano. Ele não vem para ensinar uma nova forma de proceder, mas sim para mostrar que o ser humano ainda está apegado a leis que determinam formas padrões de procedimentos e que precisa não mais possuí-las. A esposa não precisa se tornar desleixada, mas não pode acusar o marido de sê-lo. O ser humano não precisa ir pelo caminho que o outro segue, mas não pode julgá-lo por fazê-lo.
Para amar o inimigo é preciso alcançar a liberdade absoluta, aquela que não imponha a ninguém normas de proceder.

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