O ser humanizado tem medo de libertar-se dos seus hábitos, pois não consegue imaginar como se vive sem leis. Ele imagina que precisa destes balizamentos para poder compreender a vida, mas a compreensão que surge com a utilização dos padrões individuais é, na verdade, fruto do exercício do poder que acabou com a simplicidade dele.

Ao quebrar as leis o espírito estará eliminando o bem ou mal, o certo e o errado. Quando não houver mais a obrigação de alguma coisa seja feita de determinada forma, alcançará a liberdade sonhada e poderá escolher a forma de viver.

Hoje o ser humano não tem poder de escolha: segue uma lei que determina como deve ser feito e se habitua tanto a isso que nem vê que o que está acontecendo não é feito por escolha própria. Ele imaginar estar querendo que o acontecimento ocorra de uma determinada forma, mas este querer nada mais é do que escravidão às leis humanas.

O ser humano imagina que anda de sapato porque quer, por exemplo, mas na verdade anda para que não seja apontado na rua como diferente. Ele imagina que quer andar de sapato, mas apenas segue a lei que determina que todo homem civilizado deve utilizar sapatos. Portanto, usar sapatos não é uma questão de opção para o ser humanizado, mas de obrigação, de subordinação à padrões pré-estabelecidos.

Na hora que ele começar a andar descalço conhecerá o que é viver desta forma. Conhecendo os dois lados, o ser humano pode escolher andar de sapato ou descalço. Somente quando tiver alcançado a consciência de fazer por quer, estará praticando por opção consciente.

Agora ele não escolhe: ilude-se dizendo que sim, mas não é verdade. Quando conhecer os dois lados ele poderá optar, pois atingiu uma consciência sobre o assunto. Isto não causará sofrimento nem a ele nem aos outros.

Hoje o ser humanizado mascara suas intenções afirmando que quer aquilo, quando na verdade está apenas buscando satisfazer as suas leis. Ele participa de atos que aponta como certo imaginando que estão praticando o bem, mas na verdade busca apenas satisfazer suas vontades, seu poder, suas leis.

Uma pessoa que acusa outra de ser fumante, por exemplo, na verdade não está preocupada com o próximo, mas sim consigo mesmo. Esta pessoa afirma que o outro deve parar de fumar para que o pior não aconteça a ele (doença ou desencarne). Na verdade ela não está preocupada com o outro, mas tem medo do sofrimento que irá sentir se aquele desencarnar.

Esconde-se atrás de um sentimento altruísta, mas na verdade utiliza é o egoísmo. Quer que o outro pare de fumar para que a sua lei (quero estar com ele) não seja quebrada.

A reforma íntima leva o ser humanizado a exercer plenamente a sua liberdade (fazer não por obrigação, mas por conscientização). No entanto, ela também deve conceder esta liberdade a todos, sem julgamentos. Quando se alcança a reforma íntima a liberdade é ampliada, pois ela também confere ao próximo o direito de cada um viver o que quer (inclusive morrer) no momento e da forma que lhe aprouver.

Reforma íntima é atingir a consciência de se fazer o que quer realmente, ao invés de se praticar atos certos baseados em lei individuais. Quando isso é alcançado e tornado consciente, esta mesma liberdade é transferida ao próximo. Com isso, se alcançou o fim do julgamento.

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