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Para realizar tudo isso, no entanto, a primeira providência que o ser humanizado precisa tomar é desistir de ser humano. Desistir de querer mudar o mundo, desistir de querer mudar as pessoas, desistir de querer alterar os acontecimentos. Essa é a ação do inimigo de Deus: ele quer mudar o reino do Senhor Supremo para atender o seu bel prazer.

Por isso toda a busca da elevação espiritual começa com a mudança do auto entendimento sobre si mesmo. Deixar de ver-se como um ser humanizado que vivencia experiências espirituais e passar a viver como ser universal que está tendo uma experiência humana. Enquanto o ser achar-se o homem (ego) terá que reagir dentro dos padrões ditados pelo inimigo de Deus que mora dentro dele.

O ser que compreende que o seu reino não é desse mundo não se preocupa em alterar a vida, mas em vivê-la em harmonia. Aquele que compreende que é apenas filho do dono, não muda a casa do seu Pai. O ser é uma visita na casa de Deus, mas durante a experiência humana quer reorganizá-la de acordo com suas vontades.

Quando um ser humanizado acusa outro de ter batido no seu carro, por exemplo, não vê a ação de Deus contra o seu ego. Ele não entende que o Pai está lhe mostrando que o homem não pode imaginar que o seu carro é ileso a batidas. Imaginar isso é querer possuir o bem material o que é uma ilusão criada pelo ego para o que o ser humanizado viva o dualismo do prazer e da dor.

Deus está provocando o a situação para ensinar ao ser humanizado que a verdade ilusória de que jamais poderia ocorrer um acidente com ele é fruto do ego e não da Realidade. Todos que possuem um automóvel estão sujeitos a que um dia possa acontecer um acidente, mas o ego não deixa o homem compreender isso.

Aquele que vive essa ilusão como realidade sentir-se-á atacado, ferido, pelo agente do combate à ilusão e não compreenderá a ação de Deus por trás do acontecimento. Livre das amarras do ego, do conceito que o seu carro é incólume a batidas, o ser espiritualizado verá nisso apenas um acontecimento profícuo de Deus, uma forma de ensiná-lo a viver com a Realidade. Não há mais motivo de sentir-se apunhalado, mas encontrará o amor do Pai atrás daquele ato.

A desistência do prazer traz a real felicidade. Aprendendo a conviver na casa de Deus como ela está, deixando a vida seguir o seu fluxo normal sem querer dirigi-la, traz a verdadeira felicidade ou o bem celeste (bem-aventurança) que Jesus Cristo nos conclamou a buscar.

Não se trata de comodismo, como muitos podem imaginar, mas de dar a César o que é de César. Tudo que existe é criação de Deus e, por isso, não pode estar imperfeito. Quando o ser, que ainda está em processo de evolução e, portanto, pouco sabe do universo, acusa imperfeições na obra, está acusando o próprio Deus de não saber o que faz. Por isso Paulo afirma que o ser humano é inimigo de Deus, pois quer destruir aquilo que Ele criou.

Quem não desiste de alterar o mundo para aquilo que acha “certo” cria justificativas quando não consegue mudar as coisas. Coloca a culpa do acontecimento contrário ao seu desejo em outras pessoas, nas coisas, na sorte, no azar, na maldade da humanidade: enfim, em todo o resto do mundo. No entanto, todas essas justificativas são apenas frutos do ego para que o ser não desista de lutar e que apenas o prazer e a dor sejam sentidos.

O ego através dessas justificativas mantém o ser humanizado escravo dele, pois encobre com as acusações ao mundo o real desejo de poder: que todos um dia estejam aos seus pés, fazendo aquilo que o ser quer. No entanto, como já vimos, isso é ilusão, pois se viesse a acontecer isso, o ego mudaria a lógica, para continuar a batalha contra as coisas da vida que levam ao sofrimento e o prazer.

O ser para libertar-se do ego deve compreender que tudo pode acontecer e que isso, independente da sua vontade, será fruto do amor de Deus por cada um. Para o ser elevar-se espiritualmente é preciso viver com a Realidade. Quem está vivo vai morrer; quem está com saúde ficará doente; quem não tem terá e quem já tem pode perder. Nada se perpetua: tudo se transforma constantemente.

Viver na ilusão que a situação jamais se alterará é não compreender uma das qualidades da vida espiritual: a impermanência. Todas as coisas se transformam constantemente a cada segundo. O que hoje está em cima, amanhã desce; o que está em baixo certamente subirá. O ego não deixa que o homem viva uma vida com essa qualidade e para isso cria a ilusão de que as coisas “boas” jamais acabarão e que as “ruins”, jamais chegarão.

O ser espiritualizado luta contra o seu ego para compreender a impermanência das coisas. Ele sabe que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”, por isso é equânime em todas as situações. Se a vida lhe é propícia não se exalta, pois sabe que essa exaltação gerará o sofrimento na mudança da situação. Se a vida não lhe é propícia, também não se desespera, pois sabe que esse “inverno” é apenas o período que antecede a primavera.

Não há primavera sem inverno, nem outono sem verão. O ser humanizado compreende isso e passa pelo seu inverno com a convicção que as flores reaparecerão. O ser humanizado quer parar o tempo e fazer que sua vida seja sempre um mar de rosas. “Pobre homem, que o sopro de Deus pode lhe abater”.

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