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Como dissemos, a elevação espiritual através da luta contra o ego não é comodismo: é ação. O ser precisa agir, não para mudar o mundo, mas para aprender a viver a Realidade. Ele precisa agir contra o ego e não contra o mundo, contra a vida. Sem ação não há vida: o problema é o direcionamento que se dá a essa ação.

O ser humanizado luta contra o mundo, luta contra as pessoas, contra as coisas, contra os acontecimentos e por isso é inimigo de Deus e dos homens. O ser espiritualizado luta contra si mesmo, contra seu ego, contra a necessidade da realização de seus desejos, contra suas paixões.

Por isso, quem está hoje empregado precisa lutar contra a ilusão criada pelo ego que o seu emprego é eterno. Isso é ilusão criada para manter o ser no dualismo do prazer e da dor. Quem está com frio precisa lutar contra o desejo de iniciar-se o verão e aprender a conviver harmonicamente com a temperatura baixa até que chegue a estação que ele quer.

Quando ela acontecer, também não deve exaltar-se, mas vivê-la com equanimidade para que a felicidade não seja apenas fruto do seu desejo. Para isso é importante saber que o frio retornará: é apenas uma questão de tempo.

No entanto, o ser humanizado não age dessa forma. Ele goza todo o prazer de estar vivendo a temperatura que o agrada e fica cada vez mais preso ao desejo e a ilusão de que ela nunca se encerrará. Aí a ação divina traz o frio e ele certamente sofrerá, mas isso acontece porque não entende a ação de Deus.

O frio é necessário para que muitas sementes de alimentos que foram plantadas germinem e as plantas se desenvolvam para poderem alimentar o próprio ser humano. O ser humanizado não é apenas inimigo de Deus e dos homens, mas também de si mesmo. Sem o frio ele morreria de fome, pois as plantas não dariam os frutos e sementes que precisa para manter-se vivo.

Na cidade a chuva é um tempo “ruim”, mas no campo ela é “ótima”. Ela é necessária para a irrigação dos campos, fator necessário para o florescimento da vida vegetal que trará lucro ao agricultor. Sem ela o homem do campo não consegue tirar o seu sustento. Portanto, a chuva será “boa” ou “ruim” dependendo apenas dos desejos de cada um, ou seja, da influência do ego de cada um.

O ser espiritualizado reconhece essa verdade e por isso liberta-se da ação do ego. Ele não rotula as coisas (“boa ou má”), mas vivencia a obra de Deus em louvor ao Senhor do universo. Compreende que o Pai ama a todos (“Pai Nosso”) e age equanimemente com todos. Quando chega a hora propícia a outros, o ser espiritualizado não sofre; quando chega o seu momento auspicioso a si, não exulta.

 Portanto, dentro de nossas definições de ser humano podemos acrescentar que: o ser humano é um ser universal que vivencia uma experiência humana onde não aceita que os acontecimentos da vida passem por oscilações e por isso sente o prazer (exaltação) na subida e a dor (sofrimento na descida). Já o ser espiritualizado pode ser definido como o ser universal que vive uma experiência humana de forma retilínea, ou seja, que quando passa pela sua humanização (vida oscilatória entre momentos que deseja e outros onde não é satisfeito) não se compraz na dor nem se exalta na felicidade.

Aprender a viver equanimemente as diversas situações da vida foi ensinado por todos os mestres que vieram falar em nome de Deus, inclusive pelo Espírito da Verdade, que falou a Allan Kardec. No Livro dos Espíritos, ao responder a pergunta sobre o objetivo da encarnação ele ensinou: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Mas para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal”.

Muitos entendem o termo “vicissitude” como necessidade e por isso criou-se a crença que o ser humano nasceu para sofrer. Mas, a definição para essa palavra é outra: “VICISSITUDE – mudança ou alternância das coisas que se sucedem – MINI DICIONÁRIO AURÉLIO”.

O homem não nasceu para passar por sofrimentos, mas para aprender a viver equanimemente com as alternâncias da vida. Se o ser humanizado não tivesse a tentação, ou seja, o desejo de que as coisas fossem apenas satisfatórias, não venceria a alternância das coisas. Foi para isso que o ser universal criou um ego e subordinou-se a ele.

Deus coloca a prova e o ego tenta: a função do ser nesse “jogo” é dizer de que lado ele está. Se optar pela vida eterna (espiritual) ligar-se-á a Deus, amando-O acima de todas as coisas, mas se optar pelo amor próprio (ao seu ego), vivenciará o prazer e a dor dependendo da alternância das situações.

Aprender a viver com equanimidade as vicissitudes é, portanto, o objetivo da encarnação e para isso é indispensável a vivência da impermanência das coisas. Isso responde às perguntas que o homem até hoje não conseguiu responder: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Por que estou vivo? Você é um ser espiritual que se humanizou e que um dia terá que eliminar toda ação do seu ego para poder retornar à sua pátria espiritual.

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