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Deu para ficar bem claro o inimigo de vocês? O inimigo daquele que quer ser feliz? Quem é o inimigo daquele que quer ser feliz?
Participante: o sistema humano de vida. E o que é o sistema humano de vida?
Tem uns dez anos que eu falo em sistema humano de vida e você ainda vem me perguntar o que é? Será que precisa saber? Se eu lhe responder agora o que acontecerá? Formará um padrão de resposta que servirá como cabeça ao seu monstro.
Portanto, a resposta não está no conhecimento do que é o sistema humano de vida. Por isso, volto a perguntar: quem é o seu inimigo?
Participante: é o ego subordinado ao sistema humano de vida.
Não é! O ego está ali só para lhe propor.
Participante: é se escravizar ao ego.
Não. É ter o quê?
Participante: o egoísmo.
Não.
Participante: o amor individual.
Não.
Participante: contrariedade.
Não.
A opinião. Esse é um grande inimigo daquele que quer ser feliz. Essa é a grande causadora da infelicidade que vocês vivem.
Participante: o ego dá e eu aceito?
Isso. A opinião é gerada pelo ego, lhe é dada e você aceita como verdade, como real. É a sua opinião.
Participante: Joaquim, eu posso lhe dizer qual é a dificuldade de lhe compreender? A dificuldade é porque você usa cada conversa como se fosse a única.
Mas eu preciso usar. Para que? Para que você não forme opinião. Se não agir dessa forma, você vai formar opinião quando eu digo que não deve ter opinião.
Participante: Mas se não tivermos uma base sólida, como é que vamos desenvolver nosso trabalho?
O trabalho é se libertar de tudo que apareça. Por isso, você não pode ter base sólida nenhuma. Compreenda que toda base sólida será contra o trabalho.
Saiba de uma coisa: tudo aquilo que você acredita vai lhe fazer infeliz um dia. Toda a sua opinião vai lhe fazer sofrer um dia.
Participante: por exemplo, se eu disser essa pasta é vermelha, isso é uma opinião?
Sim, e vai lhe fazer sofrer. Conheço duas pessoas que tiveram um carro há mais de trinta anos e até hoje discutem se ele era verde ou azul.
Participante: e seu vir uma cor e as pessoas falarem “não, isso não é opinião, é certo”?
Diga: opinião é tudo o que você acha sobre alguma coisa.
Participante: Para que elas se libertem da sua razão pode se dizer que isso é um vermelho roxo ou é um vermelho em outro tom. Sei lá que tom, pois existem milhares de tons de vermelhos.
Eu diria para outra coisa. O que é branco?
Participante: ah, esse exemplo já usei milhões de vezes e não funciona.
O que é o preto?
Participante: o preto é o preto!
Para mim é ausência de cores. Para você, é uma cor. Veja que se acreditar que conhece a cor isso ainda pode lhe trazer contrariedade.
Deixe-me falar uma coisa com toda a sinceridade: não tenha o menor comprometimento com verdade quando for falar com alguém para ajudá-lo na busca da felicidade.
Por que? Primeiro, porque tudo é possível. Não tem problema dizer que banana é azeitona, pois pode ser que isso seja verdadeiro e só não tenha sido declarado pela ciência. Você não sabe o que é real, já que a verdade é constantemente mudada.
Portanto, não tenha medo de falar que para você o vermelho é branco. O importante é ter uma opinião que contradiga o que o outro pensa, mas que para você seja crível.
O que interessa dentro do trabalho de ajuda ao próximo é mostrar que existem opiniões diferentes. Quando digo que o vermelho é branco não quero que a pessoa passe a ver branco, não quero que ela entenda o vermelho como branco. O que quero é que ela entenda que pode haver alguém que chame o vermelho de branco e que não é por isso que ele esteja errado.
Para isso é preciso que haja uma lógica para a sua opinião. O fato de ter uma lógica, mesmo que não aceita pela humanidade, coloca em dúvida a opinião do outro que diz que isso é vermelho.
É esse o trabalho de vocês. Vocês têm que mostrar que existem diversas opiniões sobre os assuntos e que elas são, para cada um que tem, cobertas por lógicas individuais. Por que esse é o trabalho de vocês? Porque quando mostrarem isso estarão dizendo às pessoas: vocês têm inimigos! Vocês têm alguém que vai lhe fazer infeliz algum dia. É só isso que precisam mostrar.
Quando o assunto é a cor da camisa de alguém e a pessoa diz que é vermelha, essa declaração é uma verdade absoluta para ele. A convivência com ela é feita de tal forma como se não pudesse haver opinião contrária. Por isso é preciso você mostrar a relatividade da verdade. Isso se faz dando a sua opinião contrária a dele.
Claro que não acredita no que está falando, na opinião que está usando. Está usando-a apenas como instrumento para que o outro entenda que há opiniões diferentes espalhadas por aí. Com isso está dizendo a ele: “você está prestes a perder a felicidade. Pare de discutir cores. Eu não sei se é branco ou vermelho. Usei o exemplo só para lhe mostrar que há outras opiniões que podem ser verdadeiras e para lhe avisar que mantendo-se apegado à sua, vai sofrer”.
Falando agora me veio uma coisa na cabeça. Nesta mesma sala, uma pessoa sentada aqui e outra ali, conversamos sobre a roda espiritualista. Falamos sobre o exercício de se sentar em roda, colocar um assunto em pauta e deixar cada um dar a sua opinião sobre ele sem interferência. Só com um objetivo: saber que há opiniões diferentes sobre um assunto.
É exatamente sobre isso que estamos falando. Eu não quero provar que essa camisa é branca; o que preciso provar às pessoas é que a verdade delas não é absoluta.
O assunto que estamos falando aqui se reporta ao ano dois mil, quando começamos a estudar o Evangelho de Tomé: verdade absoluta e relativa. Na hora que o ser entender que tem uma opinião, mas que a sua verdade é relativa, pode se libertar dela e aí conseguir conviver em paz e harmonia com os outros.
O problema não é ter opinião, mas sim a forma como você lida com a ela. Durante a vida você tem opiniões e isso é o problema. O problema é ter opinião e não a opinião que se tem.