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Participante: mas também é importante não confundir o que estamos procurando com conformismo? Agora, se vamos conseguir é outra conversa.

Você tem todo o direito de buscar o que quer, só não tem o direito de esperar conseguir o que está buscando.

Então, busque, mas dentro do sentido que acabamos de conversar: de uma forma madura. Busque analisando todas as opções, esperando o momento do desejado chegar e enquanto não chega, acalente bem o seu sonho, mas não o viva.

Não deixe a busca ser o fiel da sua felicidade.

Participante: a previsão que fazemos nem sempre provem de um sonho bom. Muitas vezes pode ser fruto do medo. Por exemplo, se algo ruim acontecer ou se essa coisa boa, essa fantasia, acontecer.

Na verdade o buscador da felicidade não faz previsão nenhuma. Ele analisa as possibilidades, mas não acredita que ela venha a acontecer.

Participante: a felicidade verdadeira é plena, interior e não depende das coisas externas à nossa essência.

Estou de acordo com você, mas como não conhecemos essa felicidade, ainda temos que procurá-la lidando com o mundo.

Não estou falando em viver a felicidade que sai do mundo, a satisfação individual, mas em lidar com o mundo para alcançar a felicidade. É preciso aprender a lidar com o mundo para ser feliz.

Ora, se isso é verdade e se o desejo é um elemento do mundo, então é preciso saber lidar com o desejo. Para saber fazer isso é preciso esquecer essa coisa de felicidade interior.

Um dos problemas na lida com o mundo externo é que estamos presos a certos e errados. Por causa do apego a ter que buscar a felicidade no interior, esquecemos de lidar com a culpa.

Para ser feliz, é preciso não ter arrependimentos. Por isso, faça o que fizer sem arrependimentos. Se já fez não vale a pena arrependimentos.

Participante: não podemos apagar o que fizemos no passado, mas sempre podemos escrever um futuro novo.

Não sei se é bem assim.

Não sei se podemos escrever um futuro novo. Melhor: podemos escrever um futuro, mas se ele vai acontecer ou não, não sei!

É o caso do exemplo que usamos hoje: imaginar que ao pedir demissão logo achará um emprego novo. Ter esse pensamento é escrever um futuro novo. Acho que você tem até esse direito, pode até tentar escrever o futuro com esses elementos, mas em vez de viver o que projetou, esperar o futuro chegar para ver se ele realmente estará de acordo com o que escreveu.

Participante: para que acreditar se pode acontecer mesmo?

Para ter ciência de todas as possibilidades da vida, para não ser pego de surpresa.

Se o buscador da felicidade é um ser maduro, se cerca de todas as possibilidades. Assim já sabe de antemão como lidar com cada uma das possibilidades.

Ele não é pego de surpresa. É o infantil que é pego de surpresa. O ser maduro conhece, analisa, tudo o que pode acontecer. É isso que estou falando; é por isso que falo da necessidade de analisar todas as possibilidades.

Participante: sobre essa felicidade, já passei por coisas efêmeras. Comprava tudo no impulso pela Internet. Depois de uma semana já nem lembrava porque tinha comprado. Hoje me pergunto mil vezes por que e qual a utilidade daquilo que desejo. Agora nem compro um por cento das coisas.

Tenho certeza que quando comprava as coisas tinha certeza que precisava muito delas, que não poderia viver sem elas. Pior, acredito que já comprou coisas para usar em algo que ainda iria comprar e que nunca comprou.

Esse é o ser humano, que não pensa. Aquele que age como uma criança: na hora que deseja tudo é bonito e importante; na hora que tem a posse nem sabe o que fazer com o que desejava.

Satisfação é desejar e conquistar; felicidade é viver com algo sem ter o domínio. Quando convive com a coisa em paz, sem querer determinar o destino dela, não importa se foi fruto de um desejo ou não, é feliz.

Quando compra as coisas pelo impulso não encontra felicidade. O máximo que tem é satisfação de ter visto o seu desejo ser satisfeito. Quando se vicia nessa satisfação o que acontece? Começa a querer outra coisa para novamente ter satisfação.

Saiba, a satisfação não se sustenta. Ter satisfação nessa vida é como comer comida no fast food: rapidamente se faz a digestão e aparece a fome. Aí vai querer logo outra coisa para comer.

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