Vamos, então, conversar como se age com relação ao saber. Vamos falar às pessoas como a que acabou de fazer a pergunta sobre a dificuldade de colocar em prática o que ensinamos quando se é advogado.
Porque isso acontece? Porque as informações que a pessoa aprendeu foram cimentadas na mente como realidades absolutas. Um professor ensinou, um doutor demonstrou, alguém culto no assunto falou. Nesse momento vocês tratam as informações como verdades absolutas.
É aqui que começa a se vencer o assassino do saber. Por maior que seja a fonte, por mais conceituada ou gabaritada seja ou por mais que acredite que ela sabe tudo, tenha uma certeza: nesse mundo ninguém sabe tudo de nada. Ou melhor: ninguém sabe nada. Todos têm apenas verdades relativas.
Esse é o primeiro passo para começar a se libertar do que sabe: duvide de tudo o que ouvir, não acredite que nada é verdade. Não importa a fonte ou a argumentação, nem mesmo o quanto a pessoa que transmita segurança: duvide. Como diz um amigo: pode ser, pode não ser.
Não deixe uma informação se assentar, criar raiz. Se fizer isso se tornará muito mais difícil retirá-la, libertar-se dela.
Quando você deixa, por qualquer motivo, a informação se assentar, trata como fidedigna, verdade absoluta, aquilo é usado pelo pensamento discursivo em outras oportunidades. Por isso é importante que esteja sempre atento aos discursos que sua mente está fazendo, ao pensamento discursivo, para observar se está dizendo que aquilo é uma verdade absoluta, que aquela fonte merece crédito. Se isso estiver acontecendo, sempre diga: pode ser, pode não ser.
Como disse antes, isso vale para tudo, inclusive para o que estão ouvindo agora. Se transformar o que estou dizendo agora em algo irretocável, pode ter certeza que uma hora morrerá por esse motivo.
Esse é o primeiro passo. Ao realizar esse trabalho novos saberes começam a não assentar. Mas, além disse é preciso também estar atento à utilização pela mente de saberes já assentados.
Por exemplo: você vive um padrão societário qualquer. Quando isso acontece, precisa prestar atenção quando ele vem a sua mente. Não para agir de forma diferente a que está acostumado, mas para não dizer que tem que agir assim, que precisa sempre agir dessa forma. Com isso aos poucos esse saber pode transformar-se em conhecimento. Mas, se isso não acontecer naquele momento, deve libertar-se dele paulatinamente.
Esses são dois caminhos que você precisa executar para se defender do assassino saber: não dar crédito de real a nada que alguém fale e não dar crédito de real a nada que a sua mente fale. Dando crédito estará à meio caminho de morrer, ou melhor, estará morrendo, agonizando.