Vamos conversar sobre mais um tema da vida humana e mostrar àqueles que querem aproveitar esta encarnação e aproximarem-se de Deus como vivenciá-lo. Hoje nosso assunto vai ser a convivência humana a grosso modo.
Vamos conversar sobre o relacionamento de um ser encarnado com um grupo de seres. Vamos falar sobre a vida em coletividade. Com o que falaremos hoje, vocês vão entender a função do outro ou de um grupo de pessoas para a encarnação de vocês.
O ser humano não existe sozinho. A sua vida é feita em coletividade, em grupo. Este aspecto da existência humana vocês conhecem, mas há um detalhe que não percebem: a sociedade humana não é ampla nem única.
O ser humano imagina que exista uma única sociedade humana que abranja todos que habitam o planeta, mas isso não é real. A sociedade humana é restrita e múltipla, ou seja, o ser humanizado vivencia acontecimentos sempre em grupos restritos e faz parte de diversos grupos ao longo da caminhada encarnatória, ou como vocês chamam, ao longo de um dia. Não existe apenas uma sociedade humana, mas sim diversas comunidades com as quais o ser humanizado se relaciona ao longo de um dia.
Vou dar um exemplo para compreendermos melhor o que estou dizendo. Só que antes disso precisamos entender o que é uma comunidade. Comunidade são grupos de seres humanos que vivenciam acontecimentos em conjunto. O que une esses seres nesse grupo é um objetivo afim, uma afinidade.
Toda comunidade possui um objetivo afim. Essas comunidades são necessárias, pois, como veremos, dentro da lógica humana, o ser humanizado precisa deste grupo para alcançar esse objetivo que ele considera necessário para a sua existência.
Vamos aos exemplos para ficar mais claro o que estou dizendo. Pela manhã, o ser humano acorda, Quando isso ocorre ele convive com a comunidade família. Essa comunidade, que é formada pelos seres que habitam o mesmo teto, possui alguns objetivos em comum e o ser humanizado acha que precisa desta convivência para alcançar estes objetivos.
Mais tarde esse ser humano precisa chegar ao seu trabalho. Para atingir este objetivo participa de mais uma comunidade: a dos passageiros de determinado ônibus ou trem. Alcançado o objetivo deste grupo, o ser humano se desliga dele e começa a viver em outro: o dos colegas de trabalho. Ali vive com a comunidade colegas de trabalho buscando o mesmo objetivo que todos.
Quando acaba o expediente, a vida na comunidade trabalho, o ser humano se junta a outras. Pode ser a de estudantes de uma escola, frequentadores de um determinado curso ou ainda de amigos que se reúnem para momentos de lazer. Todas estas comunidades são grupos de seres humanos que se juntam para alcançar determinado fim.
É assim que o ser humanizado passa o dia. Ele vive numa comunidade por certo período de tempo e depois sai dela e ingressa na vivência em outro grupo até que também abandona esse e passa a viver em nova comunidade. Em cada uma delas possui um objetivo, que é o mesmo para todos os participantes. Desta forma, convive ao longo do dia com diversas comunidades que possuem junto com ele um objetivo em comum.
Essa é uma descrição de uma vida humana, ou melhor, de uma encarnação de um ser universal. Sendo assim, para o espiritualista em cada uma destas vivências há uma oportunidade de trabalho para aproximar-se de Deus. Por isso é importante que estudemos estes momentos e obtenhamos uma vivência que possa levar o espiritualista a alcançar o seu objetivo.
Como dissemos, os integrantes dos grupos possuem objetivos comuns. Acontece que nem sempre a convivência nessas comunidades é pacífica, prazerosa, positiva. Muitas vezes o ser humanizado convive em algumas comunidades por necessidade de atingir um objetivo tendo vicissitudes negativas, ou seja, não gostando da forma como essa comunidade se relaciona. Ele se relaciona com os outros por conta da busca do objetivo fim da comunidade, mas não consegue conviver pacificamente com os hábitos e costumes dos integrantes do grupo que são diferentes do dele.
Quando está convivendo com a comunidade do trabalho, por exemplo, o ser humanizado acredita que não pode deixar o emprego porque precisa do salário para sustentar a si e à sua família. Só que muitas vezes a vivência destes momentos é feita de uma forma sofredora, pois o ser humano não concorda com os hábitos e costumes dos integrantes daquele grupo. A mesma coisa acontece na escola. O ser humanizado acha que precisa acabar sua formação para ganhar mais dinheiro, mas sofre na vida com a comunidade da escola porque não concorda com a forma de agir dos demais integrantes deste grupo.
Enfim, o que estou falando é algo que acontece corriqueiramente na vida dos seres humanos. Eles sentem-se “obrigados” – coloco entre aspas este termo porque na verdade não são, mas imaginam que são – a conviver com os hábitos e costumes de integrantes de determinadas comunidade, mesmo não concordando com eles, por que imaginam que precisam obter aquilo que é o objetivo comum daquele grupo.
Com esta pequena análise nós encontramos a primeira conclusão do nosso tema de hoje: nem sempre a vida em coletividade reproduz uma vicissitude positiva. Muitas vezes isso acontece como algo negativo da encarnação de um ser.
Se parássemos nossa conversa por aqui, o espiritualista, baseado em tudo o que já falamos, compreenderia que é necessário abrir mão da preferência por determinados hábitos e costumes para que pudesse conviver em paz e harmonia com os demais membros das diversas comunidades e assim aproveitar a oportunidade deste acontecimento para aproximar-se de Deus. No entanto, quero aproveitar esse tema e lançar mais uma luz para a busca do espiritualista.
Quero colocar mais um corrimão, que é muito importante, para o espiritualista se apoiar no seu trabalho de caminhar no sentido de aproximar-se de Deus. Esse corrimão diz respeito à função do outro na encarnação do ser…
Começamos essa conversa dizendo que nenhum ser humano vive sozinho: todos estão sempre vivendo em comunidade. Sendo assim, os integrantes dessas comunidades são os responsáveis pelos acontecimentos que ocorrem na existência daquele ser. Se a vida é a encarnação, posso, então, dizer que os integrantes das comunidades vivenciadas pelo ser humanizado são os responsáveis pelas provações que ele vive.
O fato do outro ser o responsável direto das provações que um ser vive está muito bem descrita na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.
“132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.
Já havíamos conversado sobre esta questão. Foi nela que encontramos a informação de que a existência humana precisa conter vicissitudes, alternância de situações, para que cada ser encarnado tenha as provações necessárias para viver a felicidade plena e aproximar-se de Deus. No entanto, existe um segundo objetivo para a encarnação sobre o qual ainda não havíamos falado. Vamos abordá-lo agora…
O primeiro detalhe a respeito deste segundo objetivo é que ele é apresentado da seguinte forma: tem mais um objetivo a encarnação… Ou seja, todo ser que encarna precisa viver as suas vicissitudes, mas também precisa fazer algo mais. Vamos entender que algo mais é esse que o Espírito da Verdade ensina…
Na descrição deste segundo objetivo da encarnação é dito o seguinte: o espírito toma um corpo de acordo com o mundo onde vai viver, para ali, sob as ordens de Deus, contribuir para a obra geral. Vamos entender esta questão…
Qual é a obra geral que existe no Universo? A obra de Deus… Mas, qual a obra de Deus? As provações dos espíritos…
Este é um ponto que vocês se complicam por não pensarem de cima para baixo, da realidade universal para a material. Por pensarem a partir da realidade material imaginam que a obra de Deus é o Universo, os planetas e estrelas que existem ou ainda a natureza que os cerca. Isso não é real…
A obra de Deus não tem nada a ver com as coisas materiais. Tudo o que existe e é percebido pela mente humana é apenas cenário do grande palco onde se desenrolam os processos de encarnação dos espíritos. Este processo é que é o essencial da obra de Deus e não os lugares onde ele acontece. Por isso, a obra de Deus que foi citada nesta questão é o sistema de evolução espiritual e não os planetas e estrelas do universo.
Se a obra geral é o sistema de evolução e se esse, segundo o primeiro objetivo traçado nesta pergunta, é viver vicissitudes, podemos compreender que um dos trabalhos dos espíritos quando encarnados é servir como gerador das vicissitudes dos outros. Como eles fazem isso? Agindo humanamente…
Sabe aquela pessoa que faz parte de uma comunidade que você participa, mas que possui hábitos e costumes com os quais não consegue conviver em paz? São espíritos que encarnaram para viver as vicissitudes deles, mas também para praticar estas ações na sua frente, pois só assim você terá as vicissitudes que precisa para realizar o seu trabalho durante esta encarnação…
Mas, elas podem fazer o que quiserem contra você? Elas podem agir de uma maneira que gere uma vicissitude que você não precisava ter? Basta olharmos atentamente a questão 132 que veremos que não. Ali está bem claro: cumprem missões daquele ponto de vista, a obra geral, e agem sob as ordens de Deus.
Agora nossa informação está completa. Sabe aquela pessoa que você convive numa comunidade, mas que age em desacordo com os seus hábitos e costumes? Ela foi colocada ao seu lado para agir gerando a exata vicissitude que você precisa e faz isso sob as ordens de Deus. Ela não pode lhe dar nada além do que você precisa, já que está sob as ordens de Deus, mas, pelo mesmo motivo, não pode deixar de lhe dar nada do que você pediu…
Se aquela pessoa com a qual não se harmoniza dentro dos acontecimentos de uma comunidade não fosse do jeito que é, você não teria as suas vicissitudes. Se ela não fizesse exatamente o que faz, você não teria a sua vicissitude, não teria sua provação.
Se assim fosse, você não teria a sua oportunidade de aproximar-se de Deus e com isso não existiria a obra geral, não existiria o sistema de encarnações criado por Deus para a evolução dos espíritos. Isso é o que o espiritualista compreende a respeito da vivência em comunidade quando ele não se coaduna com os hábitos e costumes de alguns dos participantes deste grupo.
Para o espiritualista não importa em que comunidade esteja vivendo, não importa qual seja a forma de agir do outro, ele sabe que este ser humanizado não é bom nem mal. Tem a certeza de que é apenas um instrumento de Deus e que age da maneira que age porque ele, o espiritualista, precisa ter aquela vicissitude para realizar a sua provação. É neste corrimão que o espiritualista se apoia para conseguir viver harmonizado e em paz com o momento onde os outros agem de forma diferente dos seus hábitos e costumes.
Ao invés de aceitar a crítica que a mente humana faz à forma que o outro se porta, ele se apoia neste corrimão que acabamos de colocar. Com isso consegue, então, viver em paz e harmonia com aqueles que dentro das comunidades que frequenta agem diferente dos seus padrões.
Quando o espiritualista se baseia no segundo objetivo da encarnação trazido pelo Espírito da Verdade pode, então, vivenciar os momentos onde seus hábitos e costumes são contrários aos de alguns membros da comunidade sem perder sua paz e sem se desarmonizar com o acontecimento. Já o ser humano comum, aquele que quer obter vitória, que quer ganhar a fama, acha que o outro precisa se mudar para que a vida na comunidade ocorra do jeito que ele acha certo, da forma que acha bom.
O problema é que não existem duas pessoas tenham os mesmos hábitos e costumes. Por isso o ser humano não espiritualista muitas vezes quer que toda comunidade se mude, que todos façam exatamente o que ele quer. Como isso é impossível, já que a ação de cada um é regulada por Deus para que a obra geral aconteça, vive em sofrimento o tempo inteiro na convivência com a comunidade que acha obrigatório frequentar… Agindo assim, o espírito encarnado perde a sua oportunidade de aproximar-se de Deus.
Eis aí, portanto, mais um corrimão para que o espiritualista se apoie na sua busca de aproximar-se de Deus. Aliás, eu diria mais que um corrimão, mas uma viga forte na qual deve se sustentar, já que todos os acontecimentos da vida humana são vivenciados em coletividade: todos os que se relacionam com o espiritualista agem de determinada forma porque, sob as ordens de Deus, estão gerando as vicissitudes que são necessárias para o aproveitamento da oportunidade de elevação. Baseando-se nisso, o espiritualista pode começar a abrir mão das posses, paixões, desejos e intencionalidades geradas pela mente.
Esta é a vivência que indico. No entanto, como tenho dito algumas vezes ao longo de nossas conversas, ela não é para qualquer um. O caminho que mostro serve apenas para aqueles que querem aproveitar esta encarnação. Quem acha que quer aproveitar a encarnação tem nesta conversa uma grande arma para aproximar-se de Deus. Já para aqueles que não estão preocupados com isso, que ainda imaginam que devem gerar um código de conduta e obrigar os outros a segui-lo, para esses o caminho que indiquei não presta. Por isso, peço que desconsiderem tudo o que viram aqui…