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“Oh mestre, fazei com que eu procure mais consolar do que ser consolado”.
Até aqui, Francisco de Assis na sua oração estava pedindo para ser instrumento de Deus, ou seja, agir para o próximo auxiliando o Pai na Sua obra. A partir deste ponto, ele passa a falar do receber dos outros. Antes analisamos o que dar, agora vamos falar do que esperar receber pela doação amorosa.
O que é ser consolado? Quando alguém se sente consolado? Quando alguém lhe compreende, dá carinho, dá atenção, ouve.
A partir desta pequena análise podemos compreender o que Francisco de Assis pede a Deus: ‘Senhor, que no trabalho de instrumento da vossa paz eu dê carinho e ajude aos outros, mas faça isso sem esperar receber o que estou dando’.
O caminho da elevação espiritual não passa pelo prazer individualista, ou seja, pela necessidade de se receber alguma coisa em troca pelo serviço ao próximo. Aquele que busca a elevação espiritual está sempre disposto a dar, a servir e não a ser servido. Está sempre atento em auxiliar o próximo e nunca preocupado em esperar que os outros lhe auxilie.
Francisco de Assis saiu pelo mundo lambendo a ferida dos outros e jamais buscando alguém que lambesse as suas. Procurando aqueles que estavam agonia, nas trevas e na discórdia para levá-los a Deus e nunca esperou receber em troca por isso luz, união ou amor a si.
O que poderíamos dizer dos seres humanizados? Que, no mínimo, são hipócritas. Mesmo os que seguem os preceitos de uma religião afirmam que o seu objetivo de vida é auxiliar o próximo, mas se aquele que foi auxiliado não lhe retribui, critica e acusa. Se o próximo não disser pelo menos um “muito obrigado” é condenado como um mal agradecido.
Será que o objetivo deste ser humano era mesmo servir o próximo, ou sempre foi conquistar a fama, o reconhecimento? Na verdade a prestação de serviço do ser humanizado sempre é baseada na busca individual, na esperança de ganhar alguma coisa em troca.
O ser humanizado busca constantemente consolar para ser consolado, pois assim exige o seu individualismo. Aquele que busca consolar para receber alguma coisa em troca, mesmo que apenas o reconhecimento do que fez por parte do próximo ou da sociedade em geral, é individualista.
Francisco de Assis nunca buscou consolo para si. Foi caluniado e criticado pelo seu modo de vestir, pelo seu despojamento, mas mesmo assim sempre estava pronto para auxiliar quem lhe caluniava e criticava.
Aquele que transforma a oração de São Francisco em uma forma de viver (servir de instrumento a Deus) deve sempre estar perto de alguém para auxiliá-lo, mas nunca esperar compreensão, um agradecimento, um olhar carinhoso, uma retribuição. Auxilia pelo amor a Deus, por se sentir instrumento do Pai e não para que receba “compensações” do próximo ou de quem quer que seja, inclusive do próprio Deus.