Participante: você está usando exemplos muito diferentes. Vamos para o dia a dia. Um casamento.
Vamos lá. Começo perguntando: existe casamento?
Participante: não existe?
Na natureza humana existe, na espiritual não. Sendo assim, quem quer buscar a Deus, a sua elevação espiritual, não pode viver um casamento como vive aquele que não está nessa busca.
Participante: o que vai viver?
União, amizade, companheirismo. Essas são algumas emoções para viver numa união humana.
O que não deve é viver um casamento. Porque? Porque no casamento humano ele é dela e ela é dele. O outro não pode dormir com quem quiser, tem que se querer e gostar do que o parceiro quer e gosta.
Participante: vira escravo.
Não, viram obsessores. É um obsedando o outro.
Casamento é posse, é obsessão: o outro torna-se uma propriedade da parceira e vice-versa. O sentido união perdeu tanta força hoje em dia que vocês nem chama mais de companheiro: é meu homem, minha mulher.
Participante: como vai ficar, então, a vida?
Do mesmo jeito que é hoje. Nada mudará, pois ato é ato.
Participante: como fica, então, a questão da sexualidade de um casal?
Como vocês vivem presos à vida humana, não? Saiba de uma coisa: quem faz sexo é o corpo e não o espírito.
Sexo é ato e quem pratica e vive ato é a natureza humana. Sendo assim, ficará do jeito que deveria ficar.
O que vai mudar é o que vai no íntimo. O parceiro que viver a busca de Deus pode fazer o sexo que fizer, só não pode aceitar a ideia que qualquer um é melhor que o outro. Aceitando, estará vivendo a natureza humana.
Porque não pode? Porque está vivendo individualmente o que deve ser vivido em equanimidade. Vivendo assim certamente sofrerá no dia que não mais tiver esse sexo.
Vocês ainda não entenderam o que estou querendo dizer. Estão preocupados com atos, com ações. Eu estou preocupado com o que vive, com o fruto da ação humana.
Participante: o que estamos querendo com o exemplo do massacre, da banana e do casamento é entender como viver.
Isso. Aliás, foi isso que vim fazer aqui. É dentro dessa perspectiva que estou falando também.
Sexo hoje em dia não precisa ser casado para fazer. Sendo assim, a preocupação como fica o sexo se vocês não viverem internamente mais um casamento é tola.
Participante: não estou preocupada com isso.
Pode não ter consciência, mas está. Tanto assim que logo depois que falo de não viver um casamento você me pergunta como ficará o sexo.
Participante: estou falando das emoções.
Com relação a emoção digo que é humana, pertence a natureza humana. Por isso ela continuará existindo e o trabalho do buscador de Deus é não comer o fruto da ação.
Vamos dizer assim: há um desejo sexual. Isso é uma emoção. Ter essa emoção não garante que haverá um ato sexual. Quantas vezes um parceiro já viveu essa emoção e o outro estava com dor de cabeça?
Mas, digamos que os dois tiveram a emoção do desejo ao mesmo tempo e por acaso chegam ao ato. Depois dele a natureza humana começa a agir dando o fruto da ação: foi muito bom, é a melhor mulher do mundo, o melhor homem, foi maravilhoso. É dessas emoções que o buscador precisa se libertar. É preciso viver o ato sexual por ele mesmo e não preso a, por exemplo, achar superimportante ou necessário fazer sexo.