Perguntas … Não tem? Vocês estão muito calados…

Sei que a conversa de hoje está muito difícil, mas é o que precisamos falar. De nada adianta vir aqui e novamente explicar o que são as posses, paixões e desejos. Isso vocês já sabem, porque é um assunto que falamos diversas vezes.

O que estamos falando aqui é sobre a prática do ensinamento. Vocês já me ouviram falar de tudo isso de uma forma teórica e o que aconteceu? Não conseguiram praticar o que ouviram. O que aconteceu depois? Muitos se lamentaram dizendo que não conseguiam. Por isso estamos conversando hoje dessa forma.

Todos os seres encarnados são capazes de realizar o trabalho que estamos conversando. O que precisamos é esmiuçar como se praticar o ensinamento. Isso é o que estamos fazendo. É também por esse motivo que a conversa se torna um pouco mais complicada, uma pouco mais difícil de entender.

Diria que isso acontece porque a forma como estamos falando aqui é alguma coisa que não estão acostumados. Apesar de tantos anos de procura, o que estão acostumados é sentar, ouvir ou ler um ensinamento e depois continuar a viver como um ser humano, ou seja, apegado às coisas da humanidade, submissos às normas que a humanidade chama de certas.

Participante: estamos tentando realizar esse trabalho de libertação. Algumas vezes conseguimos realizações, mas em outras acabamos caindo na mesma tentação que tínhamos vencido.    

Certo. Porque isso? Pergunto porque é sobre isso que estou querendo conversar.

Participante: acho que é porque a prática não é constante.

Não é isso.

Porque algumas vezes vocês, dentro de um mesmo tema, conseguem fazer o trabalho e outras não? Porque aquilo que parecia vencido reaparece? Porque a verdade não está destruída ainda.

Muitas vezes dão uma pancada em alguma posse ou paixão e provocam apenas uma rachadura, mas acham que causaram a destruição. Aí vem a vida e trazendo o assunto de volta prova que ainda não houve uma vitória, ainda não aconteceu uma verdadeira libertação de algo humano.

É o que comecei falando hoje: o ensinamento tem que servir como uma arma para eliminar, destruir algo que existe. Não superar, encobrir, mas eliminar. Esse processo no espiritismo é chamado de reforma íntima.

O que quer dizer reforma íntima, que trabalho é esse? Reformar, mudar o íntimo. Não adianta vencer apenas em um momento a verdade, é precisa eliminá-la. Isso é a reforma e como ela não ocorreu, acontece a queda em um mesmo tema onde já havia sido alcançada uma aparente vitória.

Participante: talvez não tenhamos feito a mudança porque a palavra reforma é usada para pequenas mudanças. Colocar um azulejo novo, por exemplo …

Isso. Para vocês reformar é embelezar, enfeitar … Só que isso não se aplica para a questão da busca espiritual. Nesse caso, reformar é mudar. Por isso, nesse processo é preciso mudar alguma coisa no seu íntimo.

Para a realização dessa mudança o ensinamento é a ferramenta. É ele que precisa entrar no lugar de algo que estava presente, de uma verdade, norma, humana.

Participante: então não é reformar, mas demolir o que existe.

Sim, é derrubar o que existe e construir novamente.

Se o ensinamento entrar sem retirar alguma coisa, a verdade humana continuará presente e acabará destruindo a forma universal de viver. A posse e a paixão voltarão e com elas presentes a desarmonia que leva ao sofrimento acontecerá.

Por isso digo que o trabalho ao qual precisam se dedicar depois de tanto tempo de busca de ensinamentos é o de reformar. É o trabalho de estudar e observar a sua forma de viver, descobrir o azulejo velho que está na parede da sua razão (as posses, paixões e desejos que guiam sua vivência) e ao invés de colocar um novo sobre o antigo, se concentrar em retirar o velho. Só depois podem se dedicar em colocar um azulejo novo.

Entenderam o que quero dizer? Estou afirmando que depois de tantos anos de busca precisam agora se dedicar a eliminar conceitos, normas, verdades e esperanças formatadas dentro dos anseios humanos. Só depois que reconhecerem esses elementos e os retirarem, não mais os buscarem, poderão colocar os ensinamentos em suas vidas. Se não retirarem os elementos velhos e apenas colarem ensinamentos por cima, a humanidade à qual está ligado, razão, acaba eliminando o que foi aprendido durante a busca espiritual.

Não pensem que estou ensinando coisa nova. O que estou tentando passar é um ensinamento que está na Bíblia e que já falamos algumas vezes: ‘não adianta querer colocar vinho novo em odre velho, pois o vinho azeda; não adianta querer por remendo novo em tecido velho, pois ele esgarça’.

Não adianta querer colocar os ensinamentos novos sobre casamento, fidelidade ou maternidade sem retirar os conceitos humanos sobre a família. Não retirando o máximo que vai conseguir são vitórias esporádicas. Em muitos momentos os conceitos que não foram eliminados voltarão e aí haverá desarmonia e com isso o sofrimento.

É isso que estou querendo transmitir. É preciso jogar fora o odre velho e usar um novo.

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