Participante: como lidar com o luto? Como vivenciar a perda de um ente querido? Como vivenciar a tristeza?
Um dia me perguntaram sobre isso: Joaquim, me ajude, por favor. Meu pai morreu e eu estou sofrendo muito. Respondi: infelizmente não vou poder. Por quê? Porque depois que morre alguém não há como ajudar.
O que é o luto? O que é o sofrimento pela morte de alguém, moço? O luto, o sofrimento pela morte de alguém, é a perda. É ter a consciência que perdeu alguém. O sofrimento vem pela consciência de que aquela pessoa não vai estar mais ao seu lado, não vai estar mais com você.
Essa perda existe por quê? Porque havia um apego, uma paixão, um desejo de que aquela pessoa estivesse viva. Aquele que vive assim, se entrega a isso, não podemos ajudar. Porque para não sofrer é preciso calar em si esse apego. Depois da morte, é muito difícil calar esse apego.
O que pode ser feito para lidar com o sofrimento da perda é ter começado a conviver com o luto em vida. Ou seja, conviver com as pessoas que gosta, que tem apego, sabendo que elas um dia vão morrer, que há uma possibilidade de morrerem antes de você. É preciso estar preparado para isso.
Sabe, a razão jamais vai sozinha lhe levar à consciência que seu pai, sua mãe, seus irmãos, as pessoas mais chegadas, podem morrer antes de você. Se você não se preparar agora, quando acontecer, não vai ter jeito. Por quê? Porque vai doer mesmo.
Você acredita que aquela pessoa morreu, sumiu. A partir disso me pergunta como lidar com o luto. Respondo: trabalhando em si o desapego a partir de hoje.
Quando começa a desapegar-se desde já quando a morte ocorrer a dor e a saudade vêm. Até a sensação de perda vem, mas é menor. É algo que acaba passando mais rapidamente.
Para isso, no entanto, é preciso começar a viver com esse assunto hoje. Se não fizer isso, não conviver com esse assunto hoje, pode ser que amanhã comece a sofrer. E essa dor dói.
Mas, me deixe aproveitar a sua pergunta e fazer mais um comentário importante para aquele que quer se libertar dos ismos: não há bem que dure para sempre, nem mal que nunca acabe.
Esse ditado popular parece besta, mas é a mais pura verdade. Apesar de saberem disso, vivem o bem achando que nunca vai acabar e vivem o mal de uma forma desesperada, achando que vão sofrer o resto da vida.
Um dia acordam e se perguntam: cadê? Eu não estava sofrendo? Eu não estava passando mal? Cadê? O que aconteceu? Ou, então, acorda e diz: meu Deus, virou tudo, deu tudo errado, e agora o que eu vou fazer?
Aquele que busca se libertar dos ismos se liberta da consciência de que o bom vai durar eternamente, sabe que o bom vai acabar. Por isso, quando está vivendo o bom vai se preparando para o seu fim.
Sabe, está tudo ótimo, tudo maravilhoso, mas isso vai acabar. Por isso não posso me entregar, não posso ficar feito um bebê, aqui e agora, brincando, porque daqui a pouco acaba.
Da mesma forma o sofrimento: esse sofrimento vai acabar, por isso não adianta agora me atirar de cabeça nele, chorar, desesperar, como se nunca mais na vida fosse viver.