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Participante: eu estava pensando nessa situação que o senhor colocou, o problema vai ser eu não transferir essa minha raiva, entre aspas, do governo para as pessoas …

Não, não falei em transferir a raiva do governo para alguma outra coisa. O que estou falando é não dar ao governo o direito de dizer o que você tem que sentir.

Participante: entendi, mas diante do que vimos tenho medo de fazer a minha parte e transferir ao meu colega de trabalho a raiva que sinto hoje já que não faz a parte dele.

Ah, agora compreendi.

Então, lhe digo: não dê nem ao governo nem ao seu colega que não faz a sua parte o direito deles dizerem o que deve sentir.

Participante: vou falar de um caso pessoal, inclusive eu vou me acusar. Eu trabalho para o governo do estado de São Paulo que é um governo que eu não gosto, que eu discordo …

Pera aí, vamos com calma.

Discordar é uma coisa, não gostar é outra coisa. Não gostar é deixar a discordância assumir o controle do seu mundo emocional.

Você pode discordar do governo que quiser, mas precisa respeitar o governante. Porque? Porque ele está lá pela decisão da maioria.

Quando a maioria toma uma posição, a minoria tem que respeitar.

Participante: então, por enquanto, eu vou falar só que eu não concordo. No início do meu trabalho fui colocado em uma função que gostava muito de fazer. Aí, eu pensei comigo: bom, eu não vou ficar pensando na minha discordância com esse governo. Como gosto de fazer isso, vou fazer da melhor forma possível para a minha própria satisfação. Assim fui caminhando lá dentro. No entanto, ocorreu um momento em que eu fui mudado de função. Eles não precisavam mais que eu fizesse aquilo e fui colocado em uma nova função, que eu não gosto. Nela assumi a seguinte posição: eu discordo do governo e além disso não gosto da minha função. Portanto, vou me acomodar. Passei a fazer só o que me mandavam, parei de me preocupar se o serviço ia ficar bom. Não que eu estou fazendo as coisas mal feitas propositalmente, mas parei de me preocupar se está ficando bom ou não.

Faz o mínimo necessário para não ser mandado embora.

Participante: é mais ou menos isso. Eu faço só o que me mandam fazer.

Quando deixa de fazer, vem logo a desculpa: não me mandaram fazer. É exatamente disso que estou falando: usando o que os outros fazem para justificar a sua falta de preocupação pelo próximo.

Repare: enquanto você tinha alguma coisa de boa, algo que gostava, que queria, mesmo discordando do governo, você não o criticava, já que você estava levando vantagem. Na hora que perdeu essa aparente vantagem, o governo não presta mais.

A que se deve essa forma de ser? O que nos mostra quando afirma que passou a ser contra porque agora está pior enquanto que na hora que estava não reclamava? É a mesma de quem rouba, a mesma dos corruptos: levar vantagem indevida. Mas, mesmo fazendo a mesma coisa, ainda critica quem aceita suborno.

Enquanto foi bom, enquanto houve um lucro individual, você se silenciou. Na hora que esse lucro cessou, passou a atacar o governo. Isso chama-se corrupção. Mas, reclama dos corruptos.

Participante: mas isso não é necessário para que ele tome consciência disso?

Sim, isso é necessário para que ele tome de que é corrupto e que por isso não pode tacar pedras no telhado dos outros. O problema é que ele não tomou.

Participante: mas, isso é corrupção?

Deixe-me dizer uma coisa: o que é trabalhar? Não importa o que você faça, o que é trabalhar?

Participante: é serviço?

É fazer um serviço em benefício de alguém. Quantos vão para o seu emprego preocupados o que vão fazer pelo outro? Ou vão preocupados se o seu salário vai sair no final do mês?

Não adianta reclamar do governo. Está lá em Paulo: o governante é escolhido de acordo com o povo que vai governar. Enquanto se silenciar quando achar que está bom para você e criticar quando está ruim, vai ter um governante que faz o bem para ele e nada por você. Aliás, é a mesma coisa que faz, não?

É necessário acordar para a realidade.

Participante: e como seria ele acordar aí nesse caso?

Acordar é saber que você critica o que ele faz, mas fazer a mesma coisa. Como é o nome disso? Ser hipócrita! Acordar é ter a consciência da sua hipocrisia.

Ser hipócrita é silenciar-se porque está acontecendo o que gosta e reclamar quando acontece o que não gosta, pouco importando se o que deixa de fazer afeta outros.

Participante: e quem não consegue aceitar essa ideia de se conhecer e acha que é só gosto? “Ah, eu não gosto e não consigo me controlar”. Ou seja, não conhece seu interior.

Quem vive assim é o ser humano, que não pensa no próximo. O ser ligado à esse humano um dia terá que acordar. Se não for nessa, vai ser em outra encarnação. Enquanto ele não despertar, vai sofrer durante suas vidas.

Mas, só vai acordar quem cansar de sofrer. Você só vai alcançar o que estamos conversando aqui na hora que se cansar de sofrer. Só depois de trocar diversos presidentes e nenhum deles mudar essa forma de agir, pode ser que acorde. Enquanto achar que algum deles vai ser bom, vai fazer o que você quer, vai sofrer com quem estiver no poder.

Por isso dissemos: não eleja salvador da pátria, porque isso não existe! O governante, seja quem for, sempre vai fazer uma coisa para ele sem se preocupar se você está gostando ou não.

Anteriormente eu cortei a sua pergunta porque não adianta continuar a justificativa e a história. A história que você viveu deve acabar aqui. Hoje é a hora de despertar. É o momento de entender que você está agindo de má fé e prejudicando os outros e ainda por cima reclama quando os lhe prejudica.

Participante: o problema é assim: eu concordo, sou hipócrita, mas ainda não sinto que eu vou mudar de atitude.

Isso é um direito seu. Nem eu, nem Deus, nem ninguém vai lhe obrigar a mudar. Mas, lhe garanto que a colheita dessa forma de viver é o sofrimento.

Você quer sofrer? Sofra.

Participante: mas no caso dele aí: eu tenho uma realidade que não consegui mudar ainda, mas não quero sofrer mais. Tenho que tomar uma nova posição para não sofrer?

Tem que mudar. Se é a sua forma de viver hoje é que lhe leva ao sofrimento, é preciso muda-la, diz a lógica. Não adianta plantar capim e querer colher trigo. Não vai conseguir.

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