Enviar texto por Whastapp
Enviar texto por Telegram

Participante: se formos por esse caminho, o julgamento é um processo, não posso apenas constatar que a pessoa que bebe muito e chamá-la de bêbada sem carregar toda esta negatividade?

O que é um bêbado?

Participante: é um conceito

Certo, mas é um conceito carregado de negatividade, de coisa ruim, de coisa que não presta.

Vou fazer uma comparação relatando um fato real que aconteceu. Uma pessoa estava dirigindo e o ônibus bateu na traseira do seu carro. Eles foram para a delegacia. Lá o delegado perguntou: ‘quem bateu no outro?’ O motorista do ônibus falou: ‘não fui eu.’ Esse diálogo se prolongou sem que o motorista do ônibus, que bateu por trás do carro, assumisse a culpa. Então, o delegado perguntou: ‘o senhor encostou com o ônibus na traseira do carro dele?’ O motorista do ônibus respondeu: ‘Ah, sim, isto eu fiz.’

Veja, o motorista aceitou a ideia de ter encostado, mas não a de bater. Porquê? Porque bater é assumir uma culpa. O termo bater vem carregado de determinadas conclusões, nesse caso, culpa.

É esse bater que quando a mente criar você não pode assumir dentro do processo. Assumindo que um bateu no outro, será levado placidamente pela razão a aplicar uma sentença de culpado.

Usando esse pensamento ao nosso exemplo, beber muito, afirmo que é preciso tirar a qualificação de bêbado da história. Ela leva automaticamente a uma sentença de culpado.

Não, ele não é um bêbado: bebe muito. Beber muito todos fazem um dia ou outro. Por isso ele não pode ser julgado por beber muito.

Participante: e quando uma pessoa que bebe demais e está prejudicando a esposa e os filhos?

Vamos ver isso na última parte. Lá é perguntado: o que é o amor ao próximo?

Ele bebe, isso é fato. Apesar de aparentemente sua ação estar causando mal a outros, não se pode analisar o reflexo do que ele faz em outros.

Já estudamos que ninguém faz nada a outra pessoa. Se alguém se sente mal por conta da ação de alguém, foi ele que se sentiu mal e não o outro que causou. Você recebe o que o outro faz de um jeito ou de outro.

E porque muitos recebem como mal o que faz algumas pessoas que bebem muito? Porque aceitou a instrução do processo criado pela razão, como estamos falando aqui, de que aquilo que está sendo feito é mal.

É isso que é tirar a trave do seu olho. Não importa o que seja, na formação do processo deve se agir para tirar os conceitos que o sistema humano de vida coloca que levam a pena de bom ou mal, certo ou errado, bonito ou feio.

Participante: todo julgamento é baseado na humanidade?

Julgar é aplicar uma lei. Sem lei não há julgamento. Como diz Paulo: a lei cria o pecado. Se é a humanidade que cria as leis, sim, todo julgamento é baseado na humanidade.

Participante: lei só tem aqui? Nos mundos mais evoluídos não há lei e nem julgamentos?

Lei só há aqui onde existe a força coercitiva. Fora desse mundo, onde há a consciência amorosa, não é preciso haver lei, pois cada um dá ao outro o direito de ser, estar e fazer o que quiser. Vivendo assim, para que lei?

Até Deus não possui leis. Ele lhe dá o direito de ser, estar e fazer o que quiser. No mundo interno, no amor. Deixa você não amar. Se Ele não cria o que é obrigatório fazer, quem sou eu para dizer que alguém está errado por não seguir uma norma?

Estamos falando da pergunta 258 a de O Livro dos Espíritos:

“Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? … Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal.”

Lembrando apenas: ato do espírito, ou seja, sentir. Não está se falando em liberdade de agir externamente, mas apenas no íntimo. 

 O Pai não pode deixar você fazer o que quiser e ficar por isso mesmo, pois quando age, mesmo internamente, sempre é contra o outro. Por isso é preciso que aquela ação tenha uma consequência.

Se alguém falar mal, quiser mal o seu filho, você deixaria passar impune? Ele também não. Mas, diferente do ser humano, ele não julga, acusa ou condena quem age contra o seu filho: dá uma nova oportunidade para que esse ser aprenda que apenas o amor deve existir nas relações.

Ele precisa dar a consequência, primeiro para que o ser entenda o mal que está causando ao outro. Segundo: para que se aprimore para viver no mundo celestial onde um dá sempre ao outro o direito de ser, estar e fazer.

Portanto, não é um castigo, uma pena decorrente de um processo, mas uma oportunidade de elevação, uma nova oportunidade de amar. Se escolhe raiva pelo que o outro faz, Deus lhe deixa fazer essa escolha. Não o julga, não o critica, não o acusa. Permite que tenha essa liberdade e dá a justa consequência do que foi escolhido.

Ele não muda o mundo interno do ser. Pode mudar os atos, mas não o seu mundo interno.

Participante: ou seja, é o livre arbítrio para você amar universalmente ou não e como consequência o carma.

Livre arbítrio sentimental. Amando de determinada forma, gera um carma. Lei da ação e reação: a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e em sentido contrário.

Participante: considerando um espírito que está lá do outro lado, ele também não sente amor universal?

Se ainda não estiver na sua consciência primária, não.

Lembre-se que há um processo de evolução. Você não sai desse mundo puro. Você ainda está no primário da escola espiritual.

Compartilhar