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Se pensarmos humanamente, dizer o que já dissemos até aqui já traria todos os elementos para você trabalhar por sua paz, mas isso não é verdade. Tudo o que falamos até agora não é novidade para os que já me ouviram bastante vezes. Vocês sabem que falo isso há quinze anos e, mesmo assim, continuam a não ser felizes. Continuam deixando-se levar pelas consciências geradas pela mente, imaginando que estão sendo felizes, quando não estão.
Tendo esta consciência, vocês me diriam: ‘então, o que preciso saber mais para poder colocar a felicidade na prática’? Já falei muito sobre isso, já usei muitos argumentos para que isso acontecesse e, como disse antes, está tudo disponível. Se forem lá consultar encontrarão uma série de fatores que precisam se atentar para poder viver em felicidade.
Como estes argumentos já foram transmitidos, não vou repeti-los. No entanto, hoje quero, neste estudo, abordar dois temas à respeito da felicidade que anteriormente passamos por alto, que nós falamos muito. É sobre esses aspectos que vamos conversar agora.
O primeiro elemento que precisamos conversar hoje vem de um ensinamento de Krishna e Buda. Eles dizem: tudo é maya, tudo é ilusão.
Maya é uma palavra hindu que significa ilusão. Ela é usada por estes dois mestres orientais para falar da vida humana, das realidades vivenciadas pelos seres humanizados.
Sim, tudo, toda consciência criada pela mente humana é uma ilusão. Tudo o que é vivido como real, como realidade é apenas uma ilusão…
‘Só saber disso, Joaquim, já basta para me fazer feliz’, vocês diriam. Não, só saber não basta.
Aqueles que ainda acreditam no poder do saber imaginaram que quando me ouviram falar dessa força eram capazes de se libertarem de tudo, mas não conseguiram. Porque? Porque maya é muito mais do a simples ilusão. Maya é uma força que vem junto com os processos mentais ou pensamentos que confere ao que é pensado, ao que é conscientizado, o poder de realidade.
Você dificilmente escapa de viver como real aquilo que sua mente cria porque junto com a criação mental existe o poder de maya, o poder que confere ao que você está vivendo a força de real, de realidade. Essa é a realidade.
Lembro que quando falei isso uma vez, uma pessoa me disse assim: ‘se eu colocar a mão na vela, vai queimar e essa queimadura não será ilusória’. É sim: trata-se de uma ilusão criada pela mente. A queimadura é uma ilusão.
Aí vocês em diriam: ‘mas, dói’. Não, a dor é uma ilusão criada pela mente.
Sim, toda dor é uma ilusão criada pela mente. É como no caso da pessoa que sente coceira na perna amputada. Se a perna não está mais lá, como ela pode coçar?
Mas, vocês não conseguem entender isso, não conseguem imaginar que a dor é uma ilusão. Porque? Porque a dor que a mente cria tem o poder de ser real, de ser realidade. Por isso vocês, como estão apegados à mente achando que é você que está sentindo-a, vai vive-la.
Essa é a força de maya. Ela confere realidade às coisas. Ela tem o poder de conferir a ideia de ser real. Justamente por causa dessa força, por causa dessa característica é que vocês, quando a mente cria a consciência de ter sido magoado, por exemplo, não se libertam da emoção da mágoa.
Ora, se você tem sente frio, sente calor, queimar e dor físicas, que são criações mentais, obviamente a ideia de ter sio magoado também será tratada como real. Por isso digo que a força de maya é o grande entrave para a sua felicidade.
Apesar de saber que a felicidade está em você, que ninguém pode dá-la e que ninguém pode toma-la, não consegue viver com ela, pois ela não está presente nas criações da mente. Como só o que a mente afirma existir existe para você, não consegue viver feliz.
Não existe uma criação de maya no sentido de dar realidade à vivência da felicidade. Como para a mente só é real o que ela cria, pois a força de maya lhe dá esta ideia, a felicidade, para você, não existe.
Essa questão da força de maya fica muito bem clara quando vemos uma história de Krishna. Nela, o Sublime Senhor está andando no deserto com um discípulo quando diz que está com sede. O discípulo afasta-se, então, para pegar um copo de água no rio.
Chegando à beira do rio, vê uma tribo do outro lado. Vê, também, uma mulher muito bonita. Ele atravessa o rio e vive na tribo. Pede a mão da mulher muito bonita. Casa com ela e tem dois filhos – no período normal de gestações, nove meses cada.
Participa de muitas plantações e colheitas, ou seja, vive diversos anos junto com a tribo, até que um dia chove muito e o rio transborda. Com o alagamento do rio a sua mulher e os seus filhos morrem.
O discípulo, então, entra em estado de depressão por ter perdido sua mulher e seus filhos. Neste momento ouve Krishna dizendo: continuo com sede. Ou seja nada do que viveu foi real, mas para ele era.
Foi a força de maya que deu a entender que tudo aquilo era real. Foi a força de maya que deu a entender que se passou todo aquele tempo. No entanto, ele viveu apenas alguns momentos onde estava enchendo o copo de água no rio.
É isso que acontece com vocês. Vocês vivem as ilusões de consciências que a mente cria como se fossem real, como se fossem realidade. No entanto, estão apenas parados por um instante num só lugar, sem viver nada do que está acontecendo.
É essa consciência que pode lhe ajudar a realmente usar o seu poder de felicidade: negar o valor de real ou de realidade à consciência que a mente cria. Não adianta e nem resolve querer mudar a mente, ou seja, querer que ela crie situações com paz e harmonia. Mesmo que ela crie, mesmo que saiba que tem que criar, fará essa busca presa ao egoísmo, ao ter que ganhar, preso a ter o prazer, a conseguir a fama e o reconhecimento.
Isso fica muito claro, muito bem provado, quando muitas pessoas me dizem o seguinte: ‘Joaquim eu coloco em prática o que você fala. Tento ajudar os outros, tento me melhorar, mas minha vida não mudou em nada. Não melhorou em nada’. Este é aquele que diz que quer ser feliz, mas, ainda preso a mente, necessita de coisas, posses, para ser feliz.
Esse é o aspecto principal pelo qual não conseguem ser felizes: aquele que consegue ser feliz, consegue viver em felicidade, não muda a sua vida. A mente do ser feliz continuará criando realidade explorando o egoísmo e vai gerar a ideia de que ele não está ganhando, está tendo o desprazer, não está sendo reconhecido pelo que faz e nem elogiado. Ela nunca elogia o ser que usa o seu poder de ser feliz por ter feito alguma coisa pelos outros.
Portanto, aquele que quer usa o poder de ser feliz, não se preocupa em ensinar à mente, não se preocupa em gerar situações. Ele se ocupa o tempo inteiro em retirar o valor de real das consciências geradas por ela. Só isso.
Exercer o poder de ser feliz é agir junto a mente humana libertando-se da força de maya, libertando-se da sensação de realidade daquilo que está acontecendo, daquilo que a mente está dizendo que está acontecendo.