Participante: vou umas coisas que vão parecer uma bagunça de ideia. Veja se consegue entender, porque eu não entendo e estou forçado a entender.

Estou num barco quebrado. Quem quebrou e quem vai consertar é Deus. Se lutar contra o desejo de ser o autor da vida, vou lutar contra Deus que quebrou o meu barco. Se você me ajudar a encontrar o golpe certeiro de 990 mil cruzeiros e eu o fizer, estarei trocando seis por meia dúzia, pois consertar o barco para mim é deixar o desejo de escrever no livro da vida. Caso abandone esse desejo, isso já é uma conquista do eu como autor da minha vida. Dentro de mim, sinto que você passa pelo caminho e nos leva pela mão para a estrada que termina abruptamente em um abismo que nenhum homem ou tecnologia pode transpor. Parece que o único jeito é dizer, o barco quebrou? Não sei, não sei nem se existe o barco.

Desejo a caneta para escrever no livro da vida, mas que vida? Eu não tenho vida e também não sei o que é uma caneta. Se esse modo de ser perdurar, sinto que tudo vai começar a deixar de existir até a estrada que finda no abismo. Só sei que vou viver isso em silêncio.

Se você diz que pego pela mão e levo vocês, vou pegar na sua mão agora e vou lhe levar dizendo: esqueça tudo isso. Deixe tentar explicar uma coisa.

A vida é formada de momentos. Cada narrativa forma um momento da vida. Mais: a cada momento da existência da vida, você é um.

Você não vive a vida. A cada momento da vida um você é criado.

Sabe, é isso que precisam entender. Não há um você que vive a vida. A cada momento, um você é criado para viver aquele momento. Ou seja, a cada momento existe você como uma ideia de ser, como uma razão, como uma verdade e uma emoção.

Quando está nervoso, preocupado, você é um; quando está alegre e feliz, é outro. A vivência das coisas, das situações, muda de acordo com a sua emoção. Muda com as verdades que aparecem naquele momento e que desaparecem logo depois e você nem lembra que as teve.

Isso é muito importante vocês entenderem: não existe um você fixo, programado, que é igual a vida inteira. A cada momento da vida há um você diferente. Existe como uma ideia diferente, como uma razão diferente, uma emoção diferente, encara a situação de uma forma diferente.

Quantas vezes diz a si mesmo assim, ah, hoje estou bem, não vou perder minha felicidade dando valor a isso. Quantas vezes uma simples topada leva à fúria?

Por que eu estou falando isso? Porque na hora que entender isso, vai compreender que todo esse seu pensamento não serve de nada. Por quê? Porque está querendo usá-lo para criar uma formatação de viver. Está querendo criar um padrão para viver. Só que esse padrão muda assim que acabar essa minha resposta.

Mesmo que responda tudo que me perguntou, assim que acabar de responder e formos para outra pergunta, a próxima resposta vai mudar tudo que entendeu até agora.

Compreenda isso! Vou falar uma palavra, mas acho que não tem nenhuma que criança aqui. Vocês ficam nessa masturbação mental, querendo criar um protótipo de vida. Querendo encontrar um certo para viver. Não vão conseguir.

Mesmo que conseguissem, essa criação foi só para agora. Ela acaba, perde o sentido, no minuto seguinte, pois ele já é outra vida. É a impermanência sobre a qual já falamos.

É preciso trabalhar a impermanência. Quando entender que tudo é impermanente, vai começar a viver cada momento que está acontecendo no momento do jeito que você é naquele momento, sem se preocupar com tudo isso que narrou na sua pergunta.

Todas essas dúvidas estão fazendo apenas uma coisa com você: lhe mantendo preso a razão. Isso porque não é o que você pensa, o que acha. Todas essas questões foram criações da sua cabeça e não suas.

Portanto, se me deu a honra de segurar na sua mão e lhe levar até a bela do precipício, digo agora: se atire. Se atire nesse precipício, largue tudo para trás, pois enquanto ficar olhando para trás e não se atirar, jamais vai ser feliz.

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